No Amor divino nunca existe causa para queixas. O homem espiritual, a expressão do Amor, reflete a justiça e a misericórdia de seu criador. O homem, nossa verdadeira identidade, vive em perpétua paz e se move em harmonia, de acordo com a oniação espontânea e inexaurível de Deus.
Com base nessas verdades, os mandamentos de Jesus, tais como este: “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas” Mateus 5:41., não nos obrigam a fazer esforços além de nossa capacidade. No entanto, muita gente acha difícil dar provas dessa capacidade outorgada por Deus, de andar essa milha a mais, de perdoar setenta vezes sete.
A natureza oferece alguns exemplos instrutivos sobre os instintos que temos de observar, se é que queremos melhorar nossa tolerância e resistência. Por exemplo, a lhama normalmente é um plácido e útil animal de carga. Contudo, se lhe colocarem uma carga demasiado pesada, ou lhe exigirem um percurso demasiado longo para sua resistência, apresenta uma disposição diferente. O animal dá coices, cospe e ameaça quem o conduz, joga-se no chão e recusa-se a seguir, enquanto não descansar ou não lhe aliviarem a carga, conforme o caso.
Talvez a lhama proteste justamente. E se nosso protesto for justificado, seguramente a ação da lei divina corrigirá a injustiça. A mente carnal, no entanto, tem a tendência de oferecer oposição ao progresso espiritual. Portanto, se nos inclinarmos a agir como a lhama todas as vezes que nos for exigido algo mais, com queixas e mau humor, arrastando-nos mentalmente no chão e recusando-nos a aprimorar o que pensávamos já ser excelente — se assim agirmos, estaremos equivocados. Deveríamos lembrar que toda a humanidade se beneficia, mesmo quando só um indivíduo desenvolve a capacidade de andar essa milha a mais, dada a oportunidade.
Os cristãos conhecem coisa melhor do queixar-se, ao lidarem com as supostas limitações de humor e do físico, limitações que pretenderiam impedir a benevolência. Mesmo quando achamos ser nosso fardo o máximo que agüentamos, podemos atender ao terno convite de Jesus: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” Mateus 11:28–30.
O jugo é uma armação de madeira colocada no pescoço de dois animais de tração, para que o peso da carga fique distribuído entre os dois. Possivelmente Jesus teria fabricado jugos, quando aprendeu o ofício de carpinteiro. Era natural para o Mestre usar o termo no sentido figurado, a fim de ensinar a seus seguidores que não necessitavam labutar sozinhos. Ao alinharmo-nos com o Cristo, a idéia divina da filiação com Deus que Jesus exemplificou com mestria, isto nos proporciona a disposição e a força para prestar ajuda, e nos alivia do egoísmo mundano que nos pretende sobrecarregar e esgotar.
O fato de que Jesus era inseparável do Cristo, lhe conferia domínio sobre todas as condições materiais. Jesus deu provas de que a Vida é Espírito, e foi incansável em curar e redimir a muitas pessoas, contudo a diário ele também carregava sua própria cruz, e venceu a crucificação na ressurreição. Dessa mesma maneira, quando estamos ligados com o Cristo em discipulado cristão, deixamos de lado o excesso de bagagem que são as queixas, e descobrimos que podemos ir muito além dos limites que nós mesmos nos havíamos imposto. Começamos a dar provas de que a própria presença de Deus, compreendida e demonstrada em certa medida, corrige até as injustiças das quais ninguém se queixou.
A Ciência Cristã nos ajuda a reconhecer que não somos mortais sob o jugo inevitável desse sonho de que há vida na matéria, sonho em que há tantas razões para alguém queixar-se. Somos o homem criado por Deus, espiritual e perfeito; e, como tal, somos completos, invulneráveis, imortais, em unidade com a Vida divina, a qual não tem opostos. Escreve a Sra. Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Nossos pontos de vista errados acerca da vida ocultam a harmonia eterna e produzem os males de que nos quiexamos.” Ciência e Saúde, p. 62.
Ciência e Saúde nos mostra como trocar nossos pontos de vista errados pelos corretos, como rejeitar a teoria humana graças a compreender a teologia divina contida em suas páginas. O livro nos incita com estas palavras: “Torna-te consciente, por um só momento, de que a Vida e a inteligência são puramente espirituais — que não estão na matéria nem são da matéria — e então o corpo não proferirá queixa alguma. Se sofres de uma crença na doença, achar-te-ás repentinamente curado.” Ibid., p. 14.
Mesmo que um rancor profundamente enraizado contra alguma imposição da mortalidade, se manifeste internamente sob a forma de dor ou obstrução, podemos ser curados por meio da demonstração da Ciência Cristã. Talvez já tenhamos esticado a corda ao máximo porque toleramos as injustiças da mortalidade, e talvez ansiemos por esse “momento só” de iluminação que traz o equilíbrio entre a força e a exigência. Se assim for, podemos obedecer ao ensinamento incluído nesse trecho, que nos incita a tornar-nos mais conscientes da verdadeira onipresença da Vida divina, da Mente e do Espírito divinos, do que conscientes das queixas dos sentidos físicos. Em vez de murmurar por causa das condições vigentes, mentalmente revoltados, podemos preparar-nos para receber a cura divina. Com alegre expectativa, podemos exigir nossa imunidade, divinamente outorgada, de toda e qualquer queixa. Imposição e injustiça são noções que se perpetuam somente quando nos atamos a um falso conceito acerca de Deus e do homem. Em razão disso, essa noção falsa desaparece quando nos unimos com o Cristo, na prática da Ciência Cristã.
Deixemos de defender o eu mortal, defesa talvez implícita na queixa. Ciência e Saúde nos anima: “Contradize mentalmente toda queixa do corpo, e eleva-te à verdadeira consciência da Vida como Amor — como tudo quanto é puro e produz os frutos do Espírito.” Ibid., p. 391.
Se sonhássemos que estamos carregando o mundo sobre os ombros, ao despertar descobriríamos que não levamos carga nenhuma. Despertemos, portanto, espiritualmente, para reconhecer nossa natureza desenvolta e não cerceada, como expressão de Deus. Ao despertar, constatamos que o Cristo acalma as queixas corrigindo injustiças, endireitando a causa suposta dos murmúrios, e restaurando a alegria de servir a Deus. Tomando o jugo de Cristo e andando no ritmo do espírito de Cristo, com humildade e obediência, faremos por merecer a recompensa do Cristo — a cura e a restauração.
 
    
