Meu pai possuía no âmago do ser, a força para manter a quietude que lhe permitia comungar com a natureza de forma peculiar. Conhecia bem as minúcias da vida dos campos e da vegetação que rodeavam a casa de minha infância. Quando eu era pequena, era excitante acompanhá-lo nas manhãs primaveris e procurar os primeiros ninhos e os brotos das prímulas. Mas aos cinco anos não era fácil manter a paciência e a quietude necessária para essas aventuras.
Meu pai era também firme disciplinador e muitas vezes obrigavame me a permanecer sentada ao seu lado, quieta, depois dos restantes membros da família se terem levantado, se porventura eu tivesse estado particularmente irrequieta durante a refeição. Isso representava uma tortura para mim, mas essa disciplina ajudou-me a valorizar o sossego e a desenvolver uma tranqüilidade interior de incalculável valor, quando adulta, em meio ao bulício citadino.
A tranqüilidade de pensamento não tem nada a ver com o ambiente exterior. Pelo contrário, dá-nos acesso a um nível espiritual mais elevado, o qual é o ambiente natural do homem. Nessa elevação espiritual começamos a descobrir nossa identidade eterna, unida para sempre a Deus, o Espírito.
O Salmista referia-se a um estado de pensamento, e não a um lugar, quando declarou: “O Senhor é o meu pastor: nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma.” Salmos 23:1–3. Essas memoráveis palavras sem dúvida confortaram incontáveis pessoas, quer se encontrassem num deserto de desespero, num redemoinho de confusão ou até num engarrafamento de trânsito. Essas verdades são de fato uma prece que ajudou inúmeros homens e mulheres a voltar as costas aos recursos limitados da mente humana e a procurar o caminho mais elevado da orientação de Deus.
Tal como o Salmista, também nós podemos ouvir a voz de Deus e Seu encorajamento em tempos de aflição: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.” Salmos 46:10. Ao cultivarmos essa quietude dentro de nós, sentiremos e saberemos que estamos na presença de Deus.
Cristo Jesus nunca permitiu que as circunstâncias externas o perturbassem, porque compreendia seu próprio lugar no reino de Deus. Numa ocasião em que se encontrava com seus discípulos no Mar da Galiléia, uma tempestade irrompeu. Ver Marcos 4:37–40. Está escrito que Jesus dormia no barco, reclinado num travesseiro, desapercebido do temporal. Quando os amedrontados discípulos o acordaram “ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou e fez-se grande bonança.” Em seguida perguntou-Ihes por que haviam ficado tão apreensivos. Teriam eles esquecido a fé? Jesus estava tão consciente da presença de Deus que mesmo essa borrasca no mar da Galiléia não conseguiu abalar sua serenidade interior. Apenas a falta de fé nos faz esquecer que estamos sempre na presença de Deus. Jesus nunca esqueceu sua união fundamental com o Pai. Também nós não a devemos esquecer.
A Ciência Cristã expõe hoje à luz a eficácia prática dos ensinamentos do Mestre referentes à união do homem com Deus. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde acerca desse relacionamento: “Assim como uma gota dágua é uma com o oceano, um raio de luz um com o sol, do mesmo modo Deus e o homem, o Pai e o filho, são um no ser.” E acrescenta: “As Escrituras dizem: ‘Pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos.’ ” Ciência e Saúde, P. 361.
Quando compreendemos a onipotência e a onipresença de Deus, o Espírito, vemos mais claramente que o homem feito à semelhança de Deus não é físico, mas sim espiritual. Por isso não podemos ser confinados a um ambiente ou a uma estrutura física, nem estamos sujeitos a catástrofes da natureza. Jesus provou-o quando subjugou o vento e o revoltoso mar e pôs a descoberto a quietude da realidade espiritual, isto é, reino dos céus dentro de nós, onde não há lugar para violência nem para forças destrutivas. Quanto mais trouxermos à nossa experiência a consciente serenidade e estabilidade da presença de Deus, mais autoridade e domínio teremos para acalmar as tempestades mentais. Então encontraremos refúgio em nossa identidade espiritual, para sempre em paz na presença de Deus.
A Sra. Eddy referiu-se assim à habilidade de Cristo Jesus para triunfar sobre a materialidade: “O Cristo real não tinha consciência da matéria, do pecado, da doença e da morte, e só tinha consciência de Deus, do bem, da Vida eterna e da harmonia. Logo o Jesus humano tinha acesso ao seu eu mais elevado e à sua relação com o Pai, e ali achava repouso das tribulações irreais, na consciente realidade e realeza do seu ser — mantendo o mortal como irreal e o divino como real.” Não e Sim, p. 36.
Nós também podemos progressivamente voltar as costas ao sentido limitado acerca de nós mesmos e descobrir nossa identidade espiritual, em perpétua união com nosso Pai. Então sentiremos a quietude da presença de Deus e teremos paz.
