No verão íamos ao cinema quase todo sábado à tarde. Não era muito caro ir ao cinema naquela época, se você tinha menos de doze anos. As salas refrigeradas do cinema eram um grande programa para essas tardes de calor. Depois, ao chegar em casa, continuávamos pensando nas ações heróicas que havíamos visto na tela.
Os filmes, hoje em dia, na maioria das vezes não impelem a uma direção positiva. Freqüentemente degradam, em vez de elevar. De vez em quando, porém, há filmes que retratam tão profunda e verdadeiramente as magnitudes do coração humano, que saímos do cinema como uma pessoa diferente da que entrou.
Talvez haja uma lição importante a ser aprendida do modo pelo qual um filme eventualmente pode despertar, ativar, escancarar nosso pensamento. Os filmes lembram-nos de quão natural nos é ver as coisas nos mais amplos termos, nos mais amorosos. Qualquer coisa menos é pura imposição. Podemos chamá-lo de acumulação. Eu me lembro de uma ocasião recente quando dois parentes meus, que mal se falavam, saíram do cinema inspirados por um excelente filme que acabavam de ver. Seu relacionamento melhorou e com a maior naturalidade começaram a compartilhar seus sentimentos mais profundos sobre o filme.
Quando se rompe o costume estúpido de manter o interesse só em si mesmo ou a crença num sentido material superficial das coisas, o amor e a abnegação começam a surgir. Novamente parecem estar perfeitamente presentes e naturais. De fato, sentimos que somos nós, que é o nosso pensamento, o nosso verdadeiro eu.
Ora, não é necessariamente um filme que traz esse resultado. Pode ser um ponto de vista compartilhado por um amigo ou um grupeto de uma frase dum concerto de violoncelo de Haydn ou uma ária cantada por Björling. Mas a questão é que tais experiências nos ajudam a obter um conceito mais amplo de dimensão no que concerne ao que é o homem. E no que nos tange mais de perto, sobre o que já somos.
A Bíblia ensina a mesma lição, porém com maior profundidade. Por exemplo, a Bíblia fala sobre revestir-se “do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” Coloss. 3:10.. E esse tema permeia todo o Novo Testamento. Lemos como há um novo homem ou individualidade, que pode ser encontrado apesar do que a personalidade humana parece ter sido ou feito até aquele ponto.
Quando Cristo Jesus perdoava os pecadores e os curava, estes ficavam aptos a acatar e assumir algo dessa nova identidade que o Mestre percebia neles, perfeitamente presente. Assim, ficavam livres da situação que lhes fora imposta. Fosse qual fosse a imagem que tivessem aceito de si mesmos, — de pecadores, fracos, pobres de caráter — eram libertados.
Há uma breve exposição num livro intitulado Não e Sim de autoria de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência CristãChristian Science (kris´tiann sai´ennss), que dá muito o que pensar nesse sentido. Escreve ela: “O ego real do homem, ou ser, é a bondade.” Não e Sim, p. 26.
E assim é. Mesmo um toque dessa verdade, vindo através de um filme inspirador, pode elevar-nos a um sentido bem diferente de nós mesmos. Aprender ainda mais profundamente o significado da bondade, do poder e da glória de Deus (conforme nos lembra a Oração do Senhor), é deixar seu efeito prático e curativo entrar em nossa vida.
A Ciência Cristã ensina que por ser o homem criado à imagem de Deus, a bondade é nosso verdadeiro centro, essência e substância. Essa bondade significa a bondade no coração do universo, a bondade que é a natureza de Deus. Quando estamos prontos para andar sob essa luz da bondade de Deus, descobrimos que somos bastante diferentes daquilo que pensávamos ser. E quando continuamos a lutar para perceber a bondade sempre presente de Deus, e a ela cedemos, o que descobrimos acerca de nossa identidade espiritual já existente, criada à imagem de Deus, revela ser ao mesmo tempo novo e já conhecido. Essa individualidade criada por nosso Deus é obviamente a melhor faceta daquilo que já conhecemos de nós mesmos, mas infinitamente ampliada e aprofundada.
E se não conseguimos nos livrar da imposição geral, e não encontramos nosso verdadeiro eu? E se as pessoas continuarem sob o sonho onde há raiva, ódio, agressão, egoísmo e mal, até que pareça ser “tarde demais”? Será que isso significa que algumas pessoas nunca encontrarão sua identidade criada por Deus?
Bem, há uma cena maravilhosa num filme americano intitulado: “Um lugar no coração”. É uma das mais poderosas cenas dos filmes dos últimos tempos. No final aparece a maior parte dos personagens sentados numa igreja. Realmente, à medida que a câmara passa lentamente pelos bancos, percebemos que cada personagem da história acha-se ali.
Cada um deles parece estar cheio de luz e de um puro e resplandescente amor. Até aqueles que tinham sido inimigos, os que haviam se prejudicado e abusado reciprocamente. E até mesmo aqueles que haviam falecido, todos estavam ali juntos, adorando Deus, o bem.
Conforme o descreveria um Cientista Cristão, algo de seu verdadeiro eu está finalmente sendo visto à luz do Cristo, a idéia espiritual. A impressão sobre o espectador é forte. De certa forma acreditamos profundamente que se trata de algo mais do que a mera cena de um filme.
Não é uma maravilha o fato de que ninguém é o que parece ser, como mero mortal? O que parece ser o nosso caráter mais entranhado, ou a falta dele, é apenas o critério que desnecessariamente aceitamos acerca de nós mesmos. O homem de Deus está à espera de ser descoberto por nós. E quão claro está que essa identidade real e eterna é, e sempre foi, pura bondade.
Nenhum filme pode substituir os passos firmes e práticos da regeneração espiritual que operam uma mudança permanente em nossa vida e gradualmente revelam Deus como sendo a nossa Vida. No entanto, de vez em quando alguém compartilha conosco visões animadoras da existência humana, que coincidem com nossas intuições espirituais mais profundas.
E então essa lição nos comove, não importa onde a encontremos.
Esta é a aliança que farei com eles,
depois daqueles dias, diz o Senhor:
Porei nos seus corações as minhas leis,
e sobre as suas mentes as inscreverei.
Acrescenta: Também de nenhum modo me
lembrarei dos seus pecados e das
suas iniqüidades, para sempre.
Hebreus 10:16, 17
