Parece haver um componente na natureza humana que, com demasiada freqüência, cai na armadilha do “dinheiro fácil”, isto é, aceita a possibilidade de se conseguir alguma coisa sem fazer nenhum esforço. Cassinos rutilantes, corridas de cavalos, números de sorte, loterias, a “quina da loto”, ou sorte grande, e tudo por uma bagatela. Com insistência, sucedem-se os convites e são cada vez mais sofisticados.
Um artigo publicado numa revista semanal dedicada à publicidade e à propaganda, dá uma imagem vívida da situação atual. Logo após o cabeçalho, um subtítulo declara: Os anunciantes do jogo procuram emprestar uma imagem sadia ao desejo de riquezas fáceis.
Esse artigo da revista Adweek cita ainda a declaração franca feita pela diretora de publicidade de uma das maiores loterias estaduais dos Estados Unidos. Ao comentar suas expectativas em relação à mensagem que os novos anúncios deveriam transmitir ao público, ela diz: “Com [a loteria] você está comprando a chance de realizar um sonho. Não se esqueçam de que os ganhadores são seres iguais a vocês. ... Espero que, com esses anúncios, [a loteria] adquira a imagem de algo sadio, sem pretender exatamente colocá-la logo abaixo de Deus.” J. Max Robins, “Bringing Greed Out of the Closet: The New Gambling Ads”, Adweek, 15 de agosto de 1985, p. 21.
Não exatamente ... mas quase. É uma afirmação bastante expressiva mesmo, visto que por trás desse conceito difundido na sociedade, há a tendência materialista de idolatrar as riquezas e de acreditar que a vida seja governada pela sorte, para melhor ou para pior. O poder está no dinheiro, pelo menos é isso o que a mentalidade desta época procura fazer crer. E se a riqueza material é a chave da felicidade e do sucesso, quanto mais tivermos, tanto melhor. Tente..., é fácil ..., você pode ganhar tudo .... Que sedução! Mas é também um engodo.
Toda vez que nos deixamos levar pelo conceito de que o bem é conseguido por sorte, ou pode ser encontrado na matéria, ou que podemos “ganhar tudo” sem esforço, estamos em realidade entregando nossa vida à ilusão. Não há liberdade verdadeira nas ilusões. Com efeito, mesmo que ganhássemos uma fortuna na próxima extração da loteria, não estaríamos mais perto da verdadeira liberdade que há na alegria permanente, ou na paz, ou na harmonia, ou no valor individual, encontrados somente em Deus e numa vida que honra e serve Sua vontade.
No Novo Testamento, há um versículo que diz: “Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade.” 2 Cor. 3:17. E Cristo Jesus, no Sermão do Monte, falou de maneira incisiva sobre a escravidão do materialismo e a deificação da avareza. O Mestre nos advertiu contra a mundanalidade com seus “tesouros” corruptíveis e corruptores. Disse que seria inútil tentar servir a dois senhores, tentar honrar a Deus, conservando, ao mesmo tempo, um amor absorvente por riquezas materiais.
No entanto, Jesus nunca desprezou as necessidades humanas legítimas. É óbvio que sendo ele o Salvador, de sua missão fazia parte a melhoria da qualidade de vida. Ele curou doentes. Alimentou multidões. No Sermão do Monte, depois da advertência contra a tentativa de servir a dois senhores, Jesus também fez a seus discípulos a terna promessa de que Deus cuidaria das necessidades humanas: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33.
Talvez pareça muito duro dizer que, em realidade, “do nada não vem nada”, que só se consegue o bem quando se trabalha para consegui-lo. Ou que uma vida feliz e produtiva é fruto do esforço, não da sorte. Entretanto, há algo mais por trás desses ditos conhecidos. Se olharmos mais a fundo, acharemos uma base espiritual e perceberemos não só a exigência que nos é feita, mas também a bênção a ela inerente. A lei de Deus sempre premia o esforço espiritual, a oração, o trabalho honesto, o amor crístico pelos outros e esse prêmio é uma vida de satisfação, com propósito definido e com a consciência de seu imenso valor.
Os estudantes de Ciência Cristã sabem que seu livro-texto, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria da Sra. Eddy, faz muitas exigências que requerem esforço honesto para serem cumpridas. Mas ao ler essas exigências, percebamos que há bênçãos que lhes são implícitas. Por exemplo: “A Ciência Cristã não é exceção à regra geral de que, sem esforço por um objetivo específico, não há excelência.” Ciência e Saúde, p. 457. Essa afirmação, é óbvio, diz que se houver “esforço por um objetivo específico”, haverá mérito. O empenho e o motivo corretos trazem bênçãos. Também várias vezes, em seus escritos, a Sra. Eddy fala da necessidade de esforço; mas, de novo, a promessa do bem já está ali incluída: “Procurar não é suficiente. É o esforço que nos habilita a entrar. Os ganhos espirituais abrem a porta a uma compreensão mais elevada da Vida divina.” Ibid., p. 10.
É nessa “compreensão mais elevada da Vida divina” que achamos o propósito real e a verdadeira riqueza da existência. Não depende da sorte nem de tentarmos realizar um sonho. A verdade é demonstrável, aqui e agora.
O homem não está à mercê das circunstâncias, levado pelos ventos da ventura ou da desventura. A Ciência Cristã ensina que o homem vive como filho de Deus, espiritual e integro, recebendo sempre todo suprimento. Podemos orar para compreender essa realidade espiritual do homem, que é a expressão do Amor divino. Depois podemos nos empenhar para pôr em prática o que entendemos, bem como glorificar a Deus e transmitir a outros as boas-novas. E não percamos de vista a bênção real de uma vida abundante em Deus.
Isso não é dinheiro fácil. É riqueza, a verdadeira riqueza, que realmente vale a pena conseguir.
 
    
