Por mais negra que a noite se apresente, quando chega o momento do sol nascer, a aurora desponta. Até mesmo o céu sem lua, por cima de um lugar ermo, submete-se ao aparecimento da estrela da alva. A escuridão não resiste à luz, pelo contrário, cede-lhe o lugar. Disso ninguém duvida.
O mesmo acontece com a luz intelectual. Quando a compreensão de algum fato surge na mente humana, a ignorância cede o lugar ao conhecimento, como é natural.
Assim também ocorre com a luz espiritual. Ao despontar a luz, o reconhecimento da verdade sobre Deus e Sua criação elimina o negrume do materialismo que se inclina para o que mundano.
Ora, será que concordamos com isso? Ou preferimos nutrir o pensamento de que a resistência à espiritualização é mais representativa da regra do que da exceção? Acreditamos realmente que o Cristo é um poder presente, que eleva, ilumina e purifica a humanidade? Ou acreditamos que o materialismo é poder, que se opõe à atividade do Cristo?
A resistência, por vezes, assume a forma de realidade no pensamento humano. Não é incomum que novas idéias, mesmo sobre temas convencionais, sejam encaradas com suspeita ou ressentimento. O conservadorismo aparentemente natural da mente humana tende a defender o "status quo" contra todas as novidades. No entanto, de um ponto de vista espiritual, essa aparência de realidade é tão enganosa no caso da resistência, como no caso da doença, que o Mestre Cristo Jesus demonstrou ser irreal. Nas curas por ele realizadas, ficou demonstrado que ali mesmo onde a doença ou as restrições pareciam reais, a saúde e a inteireza eram o fato verdadeiro e demonstrável.
Há vários decênios que os ensinamentos e a prática da Ciência Cristã vêm seguindo o exemplo de Jesus. Graças a esses ensinamentos, muitas pessoas demonstraram que a doença e outros males são apenas erros da mente humana, que se rendem à supremacia da Mente divina, Deus, que só conhece o que é bom e só criou o que é bom. Se ficar comprovado que os males aparentemente reais, como a doença, são errôneos, em vez de verídicos, não seria válido o mesmo critério sobre a resistência à Verdade, isto é, um estado mental que aparenta opor-se ao despontar da luz espiritual? Se o mal chamado doença é um erro, ou engano, não será igualmente irreal o mal denominado resistência?
Claro que vemos evidências da resistência à Verdade, tanto na forma individual, como coletiva ou universal, do mesmo modo que vemos evidências de doença. Essa evidência, porém, não torna válida a resistência. A Sra. Eddy escreve que a resistência à Verdade perseguirá os passos de todo aquele que seguir mais lealmente o Mestre, Ver Ciência e Saúde 317:6—16. mas ela não afirma que isso possa impedir nosso progresso ou nos venha a causar dano. Ela até mesmo indica o efeito positivo da contenda com a evidência de resistência. Comentando sobre um ataque pessoal que lhe fora feito, ela escreve: "A Causa da Ciência Cristã está prosperando em todo o mundo e permanece para sempre como uma Ciência eterna e demonstrável e eu não encaro esse ataque feito contra mim como uma provação, pois quando cessar de abençoar, também cessará de ocorrer." The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 143.
Como pode a resistência ser uma bênção? Será porque nos força a abandonar a crença de que é uma realidade? Assim como o pecado é muitas vezes ignorado até tornar-se tão incômodo que não mais o possamos tolerar, assim a resistência à Verdade pode parecer impressionante até tornar-se por demais repulsiva para ser aceita como realidade. Aí damo-nos conta de que não passa de mentira, de algo que aparece, mas carece de substância, poder e ação.
Isso talvez requeira de nós grande crescimento espiritual. Talvez leve algum tempo para alcançar esse nível da compreensão iluminada. Contudo, se pode ser feito, é preciso que seja feito e, sem dúvida, é possível começar a fazê-lo.
Como se pode chegar a essa compreensão e colocar um ponto final à aparência de resistência? Do mesmo modo que colocamos fim à doença e à desarmonia: desacreditando-a, negando-a e adquirindo a compreensão espiritual de que só Deus, o bem, é supremo.
Se isso soa a ingenuidade ou parece ser uma abordagem de ocioso, pensem na forma como Jesus lidou com a resistência perversa que teve de enfrentar durante aquela provação que culminou na crucificação. Jesus não se envolveu em discussões com Pilatos; não contestou as queixas de seus adversários, nem sequer se opôs abertamente ao poder governamental e à tirania hierárquica que depreciou, aviltou e ameaçou sua vida e sua missão. Ele fez jus à profecia de Isaías: "Não abriu a boca." Isaías 53:7. Jesus não se rebelou nem se ressentiu das ameaças de seus acusadores. Ele simplesmente disse: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada." João 19:11.
Jesus estava ciente de que a verdade provinha de Deus. Conhecia a origem da substância e poder de sua missão. Sabia que o Espírito é triunfante. É verdade que ele teve de demonstrar essa convicção no Getsêmani, quando o peso da resistência ameaçava sobrepujar sua confiança no bem todo poderoso. Ao ceder à vontade de Deus, "lhe apareceu um anjo do céu que o confortava." Lucas 22:43. E a justeza de sua convicção foi comprovada vividamente graças à sua ressurreição.
Se a resistência à Verdade tivesse de fato poder, se realmente tivesse a capacidade de sufocar o advento do Cristo, Jesus não teria emergido do túmulo. O que ele comprovou com essa grande vitória, foi algo mais do que o fato, por mais importante que seja, de que a vida do homem não está à mercê de condições materiais. Provou que nossa identidade verdadeira não pode ser esmagada pelo ódio humano e que a missão impelida por Deus não pode ser abortada pela resistência maligna. O triunfo do Cristo, a Verdade, não pode ser entravado, por maior que seja o grau de oposição.
Na estrada de Emaús, depois do julgamento, da crucificação e ressurreição, Jesus deixou claro que sua libertação havia sido completa e não tinha vestígio algum da oposição e da resistência causadoras dos acontecimentos dos dias anteriores. Ao responder a pergunta de seus dois companheiros quanto ao seu aparente desconhecimento de todas "as ocorrências" dos dias anteriores, ele redarguiu: "Quais?" Ver Lucas 24:18, 19. Quais ocorrências, realmente! Não só a resistência maligna à missão do Cristo falhara na tentativa de lhe dar um fim, mas também o mal não tivera êxito em induzir sua pretensa vítima a guardar a influência dessa aparente presença, poder ou acontecimento. Jesus triunfara sobre a pretensão de que essa resistência ao Cristo fosse real ou tivesse poder.
Isso também pode ocorrer conosco. Se nos erguermos acima da noção de resistência real ao Cristo, de oposição à cura-pelo-Cristo, de negação do cristianismo científico, de menosprezo ao sentimento cristão, constataremos que a aparência de oposição se reduz, ao mesmo tempo que nossa crença em sua realidade e poder diminui.
Esse trabalho tem de ser encarado com seriedade. Não é apenas um fator paralelo ou secundário conjugado à nossa prática do cristianismo. É algo de real substância para nosso progresso espiritual, pois quando uma cura demora para se completar, ou os casos parecem difíceis ou complicados, é porque aí encontra-se a crença de resistência à Verdade.
Não é preciso alvoroçar-se ou desesperar-se diante dessas situações. Com paciência, persistência e sem hesitação, negamos a possibilidade de haver oposição real a Deus, que é Tudo. Afirmamos a onipotência e a onipresença de Deus como sendo o único fator governante e insistimos na supremacia e na totalidade do bem. Ao aceitarmos a grande verdade eterna de que todas as idéias de Deus são por Ele governadas, ao amá-Lo, obedecer-Lhe e reconhecê-Lo como sendo supremo sobre tudo, constataremos que o sentimento de resistência "real" começa a ceder. O livro Ciência e Saúde afirma: "Todas as coisas no universo de Deus expressam Deus." Ciência e Saúde, p. 331. Se fizermos nossa oração nessa base, compreendendo que os filhos de Deus expressam a unicidade da Mente, Deus, e que a resistência a Deus realmente não é possível porque Ele é Tudo, seremos sempre invencíveis. E estaremos incluindo em nossas orações todos os homens, mulheres e crianças existentes na face da terra.
Conquanto a resistência ao Cristo às vezes pareça impressionante, não pode ser uma força mais real do que a escuridão. Quanta escuridão seria necessária para apagar a chama de uma vela? Não é precisamente o oposto, o que acontece? A escuridão não extingue a luz. A luz "extingue" a escuridão! A luz de toda verdade que conhecemos, de toda qualidade de Deus que vivenciamos, de cada boa coisa que fazemos, está irresistível e inevitavelmente reduzindo e eliminando a escuridão da ignorância e falsidade em nós e à nossa volta.
A luz do Cristo em nossos pensamentos, em nossa natureza, em nossa vida, eliminará cada vez mais toda e qualquer resistência à Verdade. Nosso Deus é supremo e é Tudo. Não tem oposição alguma. E somos capazes de comprovar esse fato, com persistência, fidelidade, confiança, coragem e firmeza.
