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Reunião de trabalho sobre a oração

“Ensina-nos a orar”

Da edição de maio de 1990 dO Arauto da Ciência Cristã


Quem, alguma vez, já não pensou assim: "Eu devia orar mais"?

Uma vida de oração. A certa altura, talvez tenhamos pensado que gostaríamos de levar uma vida com mais oração, de ter um relacionamento mais estreito com nosso Pai, que nossa vida fosse melhor delineada por aquilo que é divino, pela realidade imutável do ser e menos sacudida pelos altos e baixos das circunstâncias humanas.

No entanto, por vezes parece haver mil e uma razões para não se orar mais, suficientes razões para passar a vida inteira a postergar nossa prece constante e diária. Talvez tenhamos nos acostumado a pensar que a oração seja algo que se faz principalmente nos momentos de grande necessidade. Talvez pensemos que a oração seja uma atividade intelectual, algo semelhante à obrigação de escrever uma dissertação escolar e não saibamos muito bem como começar nossa tarefa. É possível acharmos que a oração seja algo a que "pessoas religiosas", tais como ministros religiosos, monges ou praticistas da Ciência Cristã se dedicam. Em geral, é possível que tenhamos um sentimento positivo sobre a oração, mas simplesmente entramos numa rotina de realmente não orar muito.

Contudo, espera-se que tenhamos a intuição de que se alguma vez encararmos com seriedade o crescimento espiritual, teremos de orar, de orar com mais coerência, com mais eficácia, com mais vivência. Aí, tal como um dos discípulos de Cristo Jesus, talvez peçamos: "Ensina-nos a orar!"

Como acontece com a maioria das coisas relacionadas ao nosso progresso, há dois aspectos da oração que nos parecem mais difíceis: comecar e continuar!

Às vezes, a simples disposição de começar, de dar o primeiro passo, ainda que pequeno, rumo a uma vida de oração, revela algo admirável. Constatamos que não estamos sozinhos! O Próprio Deus está conosco, dando orientação e substância para esse passo inicial. A final, toda oração diz respeito a Deus, por isso realmente não deveria parecer tão surpreendente sentirmos Sua mão a segurar a nossa.

Nem sempre é fácil continuar em oração, mas é sempre algo revigorante. Ao começarmos a orar, é provável defrontarmo-nos com uma lista imensa de razões para não continuar. É de se supor que tenham se estabilizado as circunstâncias prementes que nos lançaram na órbita da oração e assim escorreguemos de volta aos velhos modos de pensar, como o de achar que devíamos orar mas não oramos, não nos dispondo a fazer o que é preciso para continuar a orar. Mas a oração, a sincera comunhão com Deus, que tão radicalmente modifica nossos pontos de vista e a experiência da realidade, é algo indispensável para a humanidade. Como o antigo hino diz (Hinário da Ciência Cristã, n° 284): "Para o cristão, a oração / Alento é, vital."

Assim, em determinado ponto, avançamos e constatamos que continuar em oração talvez seja a maior alegria que se possa imaginar na terra.

Diversas pessoas partilharam com os Redatores suas experiências com a oração, o que nos fez pensar que elas seriam igualmente inspiradoras aos leitores da coluna Reunião de Trabalho: uma moradora do Oeste dos Estados Unidos viu-se de repente em meio a um processo legal ameaçador que a forçou a "ampliar radicalmente o conceito de oração"; um cidadão sueco aprendeu uma lição sobre a oração altruísta que lhe modificou a vida, num episódio ocorrido dentro da cortina de ferro; e um praticista encontrou orientação vital na oração em que Jesus se referiu ao "grão de trigo", no Evangelho de João.

"O terror de minha própria angústia abrandou"

Durante muitos anos, minhas orações estiveram centradas em mim e nos meus entes queridos. As necessidades de uma família em fase de crescimento, somadas a um ponto de vista um tanto limitado da oração, mantinham meus pensamentos enfocados em nosso círculo familiar. Aí uma experiência chocante, que envolvia uma variedade de pessoas, sistemas e profissões, obrigou-me a ampliar radicalmente meu conceito de oração.

Vi-me inocentemente envolvida num processo legal muito hostil, que ameaçava ter conseqüências de longo prazo. Nessa época foi preciso confiar devotadamente em Deus, a todo instante. Isso se prolongou por muitos meses. Houve numerosas confrontações com o medo, a aflição e o profundo desânimo. Era-me imperioso disciplinar o pensamento. Todas as manhãs, ao acordar, eu precisava declarar a mim mesma que só tinha a obrigação de servir ao meu Deus, da melhor forma que pudesse, naquele dia.

Recursos espirituais capacitaram-me a prosseguir e ofereceram-me refrigério e consolo. Por exemplo, dia após dia, o Hinário [da Ciência Cristã] estava ao meu lado, enquanto eu me dirigia para o lugar designado, e, muitas vezes, eu recorria a ele, quando detida por um semáforo vermelho. Durante algum tempo, devo admitir, parecia como se, todas as manhãs, ao deixar a casa, eu saísse do céu e estivesse a caminho do inferno. Por fim, consegui estabelecer meus próprios termos de sobrevivência e me decidi a levar o céu comigo. Logo entendi que o mal e a injustiça aparentes não podiam roubar-me a paz e a alegria que me pertenciam por direito, a menos que eu o consentisse. Não quer dizer que eu devia empregar força de vontade, mas sim render-me à realidade da bondade infinita de Deus e de Sua justiça divina. Quanto mais permanecia intencionalmente nesse refúgio do que eu sabia ser verdadeiro, tanto mais celestial se tornava minha vivência diária. À medida que me atinha àqueles pensamentos angelicais, eu era sustentada a cada hora que passava.

Numa determinada tarde, enquanto olhava à volta dessa arena de conflitos e oposição, percebi quão precária tinha se tornado minha vida humana. Vi o rosto daqueles a quem eu poderia ter odiado e, aí, quase de repente, tive uma sensação avassaladora de amor por todos eles. Foi como se viajássemos juntos numa pequena embarcação, sacudida por uma horrenda tempestade, sendo que cada um de nós dependia do outro para levar a frágil embarcação a um porto seguro. Nessa fração de tempo, senti a maior felicidade possível. Não havia dilema, nem divisão nem inimigo. Essa presença do amor transformou-se numa oração de compaixão por todos nós. Daí por diante houve muita calma e harmonia, o terror acerca de minha própria angústia abrandou.

Desde que me alcei para fora dessa experiência, reconheço com clareza e gratidão cada vez maiores a natureza da reação de Cristo Jesus, quando foi confrontado pela turba (Mateus 9:36): "Compadeceu-se delas." Em seu amor estavam todos incluídos. Sua oração, que nós chamamos a Oração do Senhor, começa com: "Pai nosso" e não "Meu Pai" e continua no plural até o fim. Essa querida oração cristã fala a nós como membros da família do homem, para que tenhamos consideração uns pelos outros e oremos uns pelos outros, "porque somos parentes chegados" (Gênesis 13:8).

De uma mulher da índia

Quando se ora realmente, não há como não se sentir humilde. Quando recorremos a Deus com sinceridade, o plano humano desaparece do pensamento. Oração significa a capitulação do pensamento humano típico, do pensamento em que o medo pretenderia dominar.

Um dia, não muito tempo após eu ter começado a estudar a Ciência Cristã, enquanto lia o capítulo "A Oração" em Ciência e Saúde, tive minha primeira cura pela oração, a cura de um mal físico. Aprendi a necessidade de pensar ativamente e da regeneração, que requer uma mudança de base, ou seja, o abandono do pensamento de que, em essência, somos seres materiais, destinados à doença e à morte, em troca de uma compreensão do grande fato de que Deus, que é Espírito, é o nosso Pai, tal como a vida toda de Jesus o ilustrou. Como Deus está em toda parte, Ele está ao alcance de todos, a toda hora, consciente e continuamente. Ao orarmos, sentimos Sua presença e assim ocorre a cura.

Muitas vezes, volto-me para a afirmação em Ciência e Saúde (p. 1): "O desejo é oração. ..." Todo desejo genuíno de compreender a Deus torna-se uma oração. Porque Ele é a única presença, para sempre, sempre é possível esperar resposta à nossa oração.

Uma carta recebida da Suécia

Meu caro Amigo:

Você me perguntou como oro. Recentemente tive oportunidade de pensar mais a fundo acerca da primeira frase do capítulo sobre a oração em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras [de autoria da Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy]. Essa frase revela diversos aspectos da oração que cura, "uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado." É nesse "amor abnegado" que hoje estou pensando, especificamente.

Para mim, isso significa um amor que está livre do errôneo sentido do eu como sendo uma entidade material separada de Deus, o Espírito, capaz de agir independentemente, sendo por si só uma causa. Significa um amor que discerne o fato de que toda verdadeira identidade é inseparável do único Deus, o Espírito, como sendo Sua imagem e semelhança. Se, por meio da oração, me desfaço do sentido errôneo de identidade, posso deixar que a luz de Deus brilhe com mais intensidade. Tal como Cristo Jesus expressou (Mateus 10:39): "Quem acha a sua vida, perdêla-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa, achá-la-á." À medida que abandonamos o conceito de que vivemos separados de Deus, nossa vivência do amor de Deus deixa de estar bloqueada por causa de um conceito errado das coisas e pode prosseguir com maior liberdade. Seremos mais livres para amar os outros assim como Deus ama. Estaremos menos inclinados a classificá-los por denominações religiosas, nacionalidades, raças, classes sociais, inimigos, amigos, etc.

Isso lhe parece mera teoria? Ao contrário, é verdadeiramente prático. Permita-me que lhe dê um exemplo.

Há anos, quando a guerra fria estava no auge, tive de viajar pela Europa, dentro da cortina de ferro. Na fronteira, entrou um guarda no ônibus para examinar nossos documentos. Quando chegou minha vez, ele se deteve e me deu ordem de descer do ônibus. Um bom número de pessoas havia desaparecido dessa maneira, naquela época. Passado o choque do primeiro momento, meus pensamentos se voltaram a Deus, quase em desespero. Logo de início, o conceito errado de identidade se desfez nessa oração fervorosa. Não me mexi, mas permaneci ali sentado, apesar da ordem de descer do ônibus. Não tinha a impressão de que estivessem a falar comigo. No ônibus fez-se um silêncio gélido e cheio de medo. A seguir foi como se o amor de Deus tivesse penetrado ali às pressas. Não pude evitar de sorrir. Consegui expressar esse amor por aquele homem. Não vi nele uma pessoa dura e insensível que estava ali para colocar minha vida em perigo, mas, sim, o homem criado por Deus, inteiramente bom. Foi um amor desprendido, um amor que libertou a ele e a mim de um conceito errôneo de identidade. Esse foi o "amor do Amor" sobre o qual a Sra. Eddy escreve (Ciência e Saúde, p. 319). Para mim, aquele homem, em sua mais profunda identidade espiritual, não era um homem cheio de suspeita nem uma pessoa má que se havia enganado, mas o homem de Deus, o reflexo de Deus, inseparável do seu Pai. Nenhuma palavra foi dita. De repente, ele desceu do ônibus, retornando alguns minutos mais tarde com um sorriso franco para me comunicar que eu podia continuar a viagem.

Desde esse episódio, esforço-me para orar com altruísmo. Não presumo que sempre consigo atingir essa meta, mas é maior a minha convicção de que o amor abnegado é, de fato, um requisito da oração que cura.

Como oro?

[Tal como o missivista sueco, este praticista se refere à necessidade de oração abnegada.]

Quando faço minhas orações, procuro me lembrar do "grão de trigo" de que Jesus nos fala no capítulo doze do Evangelho de João.

Jesus diz (versículo 24): "Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto." Claro está que Jesus se referia a sua própria crucificação e ressurreição. No entanto, suas palavras me parecem especialmente relevantes para a atividade de orar.

Creio que a razão por que eu gosto tanto do que Jesus ali diz, é porque me parece a própria essência da oração. Coloca a oração na mais clara perspectiva, a de que pertence a Deus e não a mim, de que é algo que exige participação apenas de minha natureza espiritual altruísta, ao invés de apelar aos mais altruístas sentimentos da contrafação mortal. A Sra. Eddy, ao escrever a respeito da oração, diz (Ciência e Saúde, p. 1): "A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado."

Para mim, a morte desse "grão de trigo" se compara à oração espiritual de natureza exclusivamente altruísta. Por certo não ouso afirmar que assim faço toda vez que oro, mas estou me esforçando de todo o coração para chegar a esse ponto.

Não resta dúvida, sempre parece haver uma contrafação mortal que tenta se erguer e orar. E como o sabichão incorrigível que se atraca tolamente na luta ou que se encolhe de medo. Essa contrafação mortal acredita ter boas razões e se "preocupa". Mas pelo fato de sua premissa ser um mortal separado de Deus, não ora com acerto.

Uma vez que a "natureza altruísta", que é a verdadeira natureza espiritual do homem, se estabelece, a oração prossegue como devia. Aí, quando oramos, escutamos a palavra de Deus sobre o assunto em questão, ao invés de consentir que os sentimentos e opiniões pessoais tumultuem as coisas. Até mesmo a piedade humana mais profunda ou os critérios pessoais mais sagazes podem desorientar a oração. Se a oração começa com Deus, por que não deixar que Ele dirija a coisa toda?

Isto contribui para manter a vontade humana afastada da situação. Então, ao invés de orar (talvez em desespero) para que "isso venha a melhorar", sou induzido a orar com sabedoria em termos de "é" ou "não é". Mantenho, no tempo presente e na voz ativa, as verdades que estou percebendo e conjugando. Agora mesmo, independentemente do aspecto da falsa crença, o homem existe no perfeito amor de um Pai-Mãe Deus perfeito.

Novamente, seguindo a natureza altruísta, como o diz a Sra. Eddy, "Jesus não se rebaixou ao nível da consciência humana nem ao testemunho dos sentidos. Quando provocado, não fez caso do que estava sendo insinuado: 'Essa mão ressequida parece muito real tanto à vista como ao tato'; no entanto, ele silenciou essa vã ufania e destruiu o orgulho humano por suprimir a evidência material" (Unity of Good, p. 11).

Com a afirmação de Jesus, de que se oramos corretamente nossa oração é atendida, quer estejamos orando por nós mesmos, quer por outrem, ou pelo mundo (e todos são importantes!), podemos ter a certeza de que a nossa oração realmente faz diferença.

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