A Ciência Cristã Christian Science (kris'tiann sai'ennss) por vezes é erradamente classificada como sistema de pensamento que aconselha a "manter pensamentos felizes". Aliás, essa fórmula mental frívola tem muito pouco a ver com os esforços feitos com seriedade pelo Cientista Cristão, no sentido de viver segundo a lei de Deus, o Princípio divino.
Um estado de felicidade superficial a respeito da vida humana não é a meta do cristianismo. Sem sombra de dúvida, Cristo Jesus não deu a própria vida a fim de que houvesse pessoas sorridentes, felizes, falando alegremente sobre banalidades.
Houve momentos de tristeza na vida de Jesus. No Jardim de Getsêmani, na noite anterior à crucificação, ele disse a dois de seus seguidores: “A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.” Mateus 26:38.
Parece absurda a idéia de que alguém possa ter dito a Jesus: “Alegra-te, Mestre, as coisas provavelmente nem são tão ruins como parecem. É sempre mais escuro antes do amanhecer.” Estaria revelando fraqueza, em contraste com a perspicácia espiritual real e o heroísmo moral.
Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, escrevendo a respeito dos primeiros estágios do despertar das pessoas para a gravidade do fato de terem necessidade de recorrer a Deus, comenta: “Esse período mental às vezes é crônico, mas na maioria das vezes é agudo. Vem acompanhado de dúvida, esperança, tristeza, alegria, derrota e triunfo.” Miscellaneous Writings, p. 204.
Essa frase encerra, no íntimo, alentadora franqueza, pois talvez nos sintamos atraídos pela idéia de que viver de acordo com a religião, seja uma forma de aperfeiçoar o ser humano. Então, quando surgem momentos difíceis, quando algo menos do que perfeito ocorre com a família ou quando alguém fica doente, as pessoas se sentem culpadas porque não estão apresentando, na aparência, uma imagem de perfeição. A verdade é que esse sentimento de culpa não se justifica. A perfeição que devemos buscar não é, de modo algum, um estilo de vida humana impressionante e perfeitamente livre de percalços. É a realidade espiritual de Deus, o bem, que irresistivelmente cura e dá profundidade à vida humana, mas nem sempre na forma como imaginamos.
E a alegria? Existe, afinal, alegria, se tentamos viver espiritualmente? Sim, existe, e muita, e, por mais estranho que pareça, não devido a que as circunstâncias humanas tenham se acalmado. As circunstâncias talvez continuem durante algum tempo a estar bem longe de ser tranqüilas. Talvez cheguem mesmo a ser turbulentas e difíceis. Contudo, ainda assim constatamos que a alegria está irrompendo e se revelando.
Eugene Ionesco, o grande teatrólogo moderno, cuja vida pessoal fez que por vezes o considerassem um homem tristonho, certa ocasião fez constar de seu diário uma esclarecedora observação a respeito da alegria. Escreveu ele: “Devo dizer que, às vezes, no decorrer destes últimos anos, uma promessa, um indício de felicidade costumava iluminar para mim o negro céu. .. . Desta vez, parece que compreendi que a alegria é uma dádiva do céu, é como a graça, inexplicável, mas evidente e certa. Não pode ser explicada, não existe razão para ela e essa deve ser a sua razão. .. .
“.. . nessa leveza de coração que ontem senti, o mundo me apareceu sob uma luz diferente, uma luz inteiramente nova. Era como se as árvores e as casas, o rosto das pessoas, a água e o céu tivessem todos sido purificados, como se tudo se tivesse tornado imaculado, renovado e revigorado.. .. Quando eu mudo, eu mudo o mundo.” Fragments of a Journal (Nova Iorque: Grove Press, Inc., 1968), pp. 96-97.
Há um fundo de verdade no que Ionesco diz sobre a alegria como dádiva. É, por certo, algo como vivenciar a alegria espiritual que, evidentemente, não consiste só daquilo que fazemos, ou em que conseguimos pensar, como daquilo ante o que reagimos. Começamos a dar-nos conta de que essa alegria está presente o tempo todo. E está presente por ser uma qualidade de nosso ser real. Podemos chegar a essa dádiva de Deus e encontrá-la, seja qual for a situação do momento. E quando assim fazemos, temos a sensação de que voltamos para algo intimamente conhecido.
Quando Jesus falou com seus discípulos e lhes explicou o que estava para acontecer, referindo-se ao fato de que seria atraiçoado e crucificado, mencionou que deixava com eles a paz, mas também disse alguma coisa sobre a alegria. Disse que seus discípulos haveriam de se sentir tristes, mas que essa tristeza seria transformada em alegria e essa alegria ninguém lhes poderia tirar. Estas foram suas palavras: “Tenho-vos dito estas cousas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15:11.
Em vista do tão terrível sofrimento do mundo, é estarrecedor pensar que a alegria, ao invés da tristeza, talvez esteja subjacente a tudo. Mas não é plausível esse raciocínio, se o que intuímos de Deus é real? Não só é plausível, como também é, em realidade, o que experimentamos ao rompermos as cadeias magnéticas exercidas pelo materialismo e reconhecermos a atração mais compelente e mais vigorosa do Cristo, a Verdade, que Jesus viveu.
É óbvio que não era por reprimir-se de tomar conhecimento do sofrimento humano, que Jesus sentia alegria. E não se tratava de uma animação superficial. No entanto, era tão profundamente alicerçada, que nenhum acontecimento humano a podia destruir. Essa alegria provinha do que ele sabia da realidade das coisas, do fato de o homem ser o filho de Deus.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy dá uma explicação que coloca em base firme nossas intuições, uma base espiritualmente científica: “Esta é a doutrina da Ciência Cristã: que o Amor divino não pode ser privado de sua manifestação, ou objeto; que a alegria não pode ser convertida em tristeza, porque a tristeza não é senhora da alegria; que o bem jamais pode produzir o mal; que a matéria jamais pode produzir a mente, nem a vida redundar na morte.” Ciência e Saúde, p. 304.
Não nos é possível fabricar a alegria que espontaneamente resulta de reconhecermos esse fato, mas nela podemos confiar, por ela optar e descobrir suas qualidades curativas. Dessa forma, o que antes parecera terrível e de grande importância, passa a ser irrelevante. A luz dessa alegria, vemos a nós mesmos e aos outros como se tivéssemos sido lavados de toda impureza.
