Que uma pessoa já considerada clinicamente morta, tenha revivido, é fenômeno a que se vem dando, nos últimos dez anos, considerável atenção. Escreveram-se livros sobre o assunto, conduziram-se estudos de psicologia, compilaram-se histórias pessoais. Tomemos, por exemplo, a reportagem publicada no jornal The New York Times Ver The New York Times, 17 de novembro de 1988, p. 20., referente a uma mulher que voltou a viver depois de ter tido uma parada cardíaca. A mulher declarou que percebeu estar “ainda viva” enquanto aparentemente estivera morta e supostamente inconsciente. Disse que se apercebera de uma luz que a confortava e que tivera, para usar suas próprias palavras, uma “sensação indescritível de ser apreciada, protegida, incondicionalmente amada”.
Como se dá com qualquer outro fenômeno subjetivo, os médicos e outras autoridades nas ciências acham extremamente difícil, se não impossível, que de tal experiência se tirem conclusões válidas. Não existe uma maneira de medir ou constatar o que realmente aconteceu no pensamento de outra pessoa. Em qualquer pronunciamento individual dessa natureza, sempre há margem para contestação. E o assunto se torna ainda mais complexo se lhe somarmos os reputados oito milhões de casos similares acontecidos com pessoas adultas, somente nos Estados Unidos da América, segundo pesquisa feita há vários anos.
O que, no entanto, parece fator comum a todos os que tiveram essas experiências, é que se referiram à mesma sensação confortadora de luz e amor descrita pela mulher mencionada no artigo do New York Times. Um psiquiatra comentou o seguinte, sobre muitas das pessoas cujos casos estudou: “Após haverem, momentaneamente, morrido, atribuem à vida novo significado e novo propósito.. .. O relacionamento entre as pessoas, os valores espirituais, o amor, tornam-se-lhes mais importantes do que coisas materiais, como competição, fama e riqueza.”
É provável que hoje grande parte das pessoas ficasse contente em sentir novo propósito na vida e em se livrar das pressões do viver materialista. Mas para haver mudança radical em nossa maneira de pensar, será preciso ter “momentaneamente morrido”?
Na Bíblia, há provas inequívocas de que os primeiros seguidores de Cristo Jesus encontraram outro caminho de transformação e de graça. Compreenderam que há um poder verdadeiramente libertador naquilo que é o relacionamento com Deus, relacionamento consciente, atual, vivo, tal como o que Jesus lhes mostrou com seu próprio exemplo. Nos ensinamentos do Mestre, no seu ministério de curar e de salvar, na sua ressurreição e ascensão, encontra-se a afirmação profunda de que Deus está sempre com Seus filhos; de que o próprio Deus é a Vida infinita, divina, eterna; e de que a criação de Deus, Seus filhos e filhas, na verdade refletem essa Vida divina aqui e agora.
Dar a nossa vida novos propósitos e novo significado não é algo que, em última análise, se relaciona apenas com o processo mortal e biológico de estar às portas da morte. Não deveria, ao invés, ser um processo espiritual natural, de contínua aproximação à Vida, Deus? Em todos os ensinamentos da Ciência Cristã está ressaltado que o homem é deveras a pura e imortal expressão de Deus. A verdadeira identidade de cada um de nós é espiritual. Essa é a verdadeira substância de quem somos e do que somos.
O conceito material de vida por certo se opõe a qualquer apreciação de vida tão radical, tão centralizada em Deus. O sentido espiritual, todavia, impele-nos continuamente a olhar além da cena mortal. Então sentimos intuitivamente que a perspectiva espiritual é a verdadeira, tem de ser a verdadeira. É a outra perspectiva, desgastada e limitada, que parece ser falsa e é falsa. Como esclarece Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy: “Todos temos de aprender que a Vida é Deus.” Ciência e Saúde, p. 496. Em outro de seus escritos, a Sra. Eddy afirma: “À proporção que os mortais se volverem desse sonho mortal e material para o sentido verdadeiro da realidade, verificar-se-á que a Vida eterna é a única Vida.” Miscellaneous Writings, p. 28.
Quando Jesus restaurava a saúde e o bem-estar das pessoas, quando as livrava do pecado, quando lhes mostrava o que significa, de fato, conhecer a Deus, aproximava-as das grandes verdades da identidade espiritual delas próprias, abeirava-as da compreensão da vida que está em Deus e é de Deus. Sem dúvida o Mestre não as levava a algum ponto terminal da existência mortal, nem dependia de uma prova única para mostrar à humanidade o caminho da vida. Com efeito, o Mestre disse aos discípulos que ele era "o caminho, e a verdade, e a vida", Os que o seguissem, encontrariam o valor e o propósito genuínos de viver. E é num sentido muito real e prático que o Cristo, a Verdade, continua a ser a ressurreição e a vida para todos os que queiram andar no caminho em que Jesus andou.
Se desejarmos empregar a oração em nossa vida diária, se quisermos expressar a bondade e o amor divinos, entenderemos cada vez melhor a graça que nos vem do Pai. O Novo Testamento fala em ser “filhos da luz”, em andar “em amor”. Essa qualidade de luz do Cristo e de amor espiritual não é o efeito da morte, mas sim, a conseqüência contínua da Vida divina. Quanto mais nos aproximarmos da Vida divina, mediante o crescimento espiritual, tanto mais luz e amor encontraremos. Descobriremos que a presença de Deus é o fato constante e absoluto, é a realidade de nossa própria identidade imortal, de nossa própria individualidade imortal, em Deus.
A verdadeira luz, substância e eterna causa de nosso ser é Deus, a Vida infinita, “e não há nele treva nenhuma” 1 João 1:5.. Essa luz viva, essa presença de Deus, é algo que todos podemos conhecer por nós mesmos. Está sempre próxima, está aqui mesmo, conosco, onde quer que estejamos.
