A Revista Christian Century (Século Cristão) publicou recentemente uma história comovente que atraiu minha atenção, pois dava um vislumbre de como o mundo dos adultos é visto através dos olhos de uma criança.
Certa família estava comendo numa lanchonete, quando um mendigo vestido de trapos e com um pé aleijado pediu ao pai da família que lhe comprasse um sanduíche. O pai se levantou da mesa e foi com o homem ao balcão, para encomendar o sanduíche a mais. A filhinha de sete anos, Jessica, que a princípio se assustara com o aspecto do mendigo, perguntou à mãe por que o pai fora comprar um sanduíche para o homem. A simples resposta “porque ele está com fome”, não satisfez a menininha.
Assim relata a mãe a conversa com a filha: “ 'Jessica, ... outro motivo pelo qual o papai está dando comida àquele homem, é que Jesus certa vez disse que se alguém desse um copo d'água ou algum alimento a um de seus [irmãos], seria como dá-lo ao próprio Jesus.'
“ 'Seria como dá-lo ao próprio Jesus?' perguntou ela surpresa. ... 'Uau! que maravilha!' disse com os olhos brilhando. 'Com licença, mamãe.' Saiu da mesa e correu para junto do pai e do mendigo que esperavam ser atendidos. Jessica fitava o homem com olhos maravilhados. ... Lendo o olhar em seu rosto, percebi que ela havia levado minhas palavras à letra. Queria ficar perto de Jesus."
A mãe continua: “Aí passei a ver o homem através dos olhos da criança e vi o Cristo encarnado. Tive a sensação de algo maravilhoso.”
Não foi essa mesma sensação de maravilha que os pastores devem ter sentido naquele primeiro Natal, quando viram o menino Jesus com José e Maria no humilde estábulo de Belém? O Evangelho de Lucas relata como os pastores haviam seguido literalmente a mensagem dos anjos: “Hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” Haviam ido correndo para ver.
Os sinais do aparecimento da idéia-Cristo foram a estrela especial que iluminava o céu e as vozes angelicais. No entanto, apenas algumas pessoas entenderam o grande evento que acabava de ocorrer. O Salvador, Cristo Jesus, veio para salvar-nos a todos da crença errônea de que a vida tem começo e fim, para mostrar à humanidade que Deus, o Espírito divino, é a única Vida do homem. O nascimento virgem de Jesus rompeu o sonho do nascimento material. Trouxe à luz a Ciência do Cristianismo, a verdade de que Deus é o Pai universal do homem e que, portanto, o homem real é totalmente espiritual, nascido do Amor e da Verdade.
Jesus disse certa vez a seus seguidores: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (ver João 14:6). Estava se referindo ao Cristo, ou Verdade, que ele corporificava. Cada um de nós pode compreender Deus como nosso Pai, pelo claro reconhecimento da identidade espiritual do homem à semelhança de Deus. A disposição humilde de abandonar a noção errônea de que estamos separados de Deus, o bem, e a obediência à lei divina, descortinam para nós a visão espiritual do homem como filho de Deus.
Mary Baker Eddy, que descobriu e fundou a Ciência Cristã, escreveu para um jornal da época, o New York World, algumas idéias sobre o significado do Natal. Tal mensagem foi incluída no livro The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany: “O Natal respeita por demais o Cristo para submergir-se em meios e fins meramente temporários. Ele representa a eterna Alma iluminadora, que é reconhecida apenas na harmonia, na beleza e na abundância da Vida perene, na verdade que é Vida, a Vida que cura e salva a humanidade.”
O Natal é, sem dúvida, uma época especial para dar, para lembrar o grande dom de Deus ao mundo: Seu Filho. O melhor presente que podemos dar a outrem é o reconhecimento de sua verdadeira identidade espiritual, à semelhança de Deus. Jessica viu que ajudar um maltrapilho desabrigado era uma maneira de amar Jesus. Sua inocência infantil olhou para além da aparência material e deve ter captado um vislumbre da simples, embora profunda, verdade da filiação real do homem, isto é, de sua unidade com Deus. Quando damos a alguém um presente de amor em nome de Cristo, também precisamos reconhecer que o ser criado por Deus é reto, são e livre.
Há muitas pessoas em nossas cidades, nestes dias, que precisam desse amor crístico. Quando ajudamos um irmão necessitado, sentimos o amor do Pai envolvendo a todos nós. As palavras do Mestre registradas no Evangelho de Mateus ainda hoje são verdadeiras: “Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Essa é a maravilha do Natal.
