Quando nossos filhos eram pequenos, costumavam provocar um ao outro de forma implacável, para minha grande consternação. Era freqüente um contar ao outro uma história incrivelmente exagerada e, se a criança fosse ingênua a ponto de acreditar, o outro começava a rir e a zombar: “há, há, você mordeu a isca!”
Com o passar do tempo, pus-me a pensar nessa expressão de escárnio: “Você mordeu a isca.” Faz-me lembrar da alegoria bíblica relatada no livro do Gênesis, na qual uma serpente falante convence Eva a comer o fruto da árvore proibida do conhecimento do bem e do mal. Sem dúvida, o leitor lembrará que, depois de dar a mordida, Adão e Eva sentiram-se nus e envergonhados. Não só viram e sentiram o mal, mas também foram expulsos do jardim do Éden, onde a vida fora tão agradável. Para eles, Deus tornou-se inclemente e implacável. Infelizmente, o gênero humano continua a sofrer devido a esse conceito errôneo sobre a situação do homem.
As boas novas são de que a cura pela Ciência Cristã prova que o quadro de Adão e Eva, de uma criação pecadora, não passa de um mito. A cura espiritual demonstra que a criação perfeita de Deus, como consta no primeiro capítulo do Gênesis, não inclui nem doença, nem falha, nem discórdia de nenhuma forma. Segundo esse relato, a identidade do homem está intacta e nunca excluída do reino divino. Quando os indivíduos param de morder a proverbial maçã, isto é, a crença de que a realidade é um misto de bem e mal, e se esforçam para colocar seus pensamentos e ações em linha com o amor de Deus sempre presente, abrem a porta para usufruir mais de sua herança de saúde, inteligência e beleza, herança essa outorgada por Deus e inerente a Seus abençoados filhos.
Não é fácil ficar firme na aceitação do bem como única realidade. Tal tomada de posição é radical, num mundo que parece ao mesmo tempo fascinado e estarrecido pelo mal. Entretanto, encontramos na Bíblia inteira exemplos de que isso é possível. Um dos episódios de que mais gosto é a história de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego.
Esses jovens recusaram-se a aceitar uma falsa versão de Deus, qualquer que fosse a forma. Em outras palavras, eles não “morderam a isca”. Apesar da ordem de curvar-se perante um ídolo ao “som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda sorte de música,” eles se recusaram a servir a pessoa alguma ou poder algum, a não ser a Deus. Foram até lançados na fornalha ardente, devido à sua decisão, mas saíram dela ilesos. Diz o relato: “Nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles.”
Como podemos nós ao menos começar a tomar tal posição firme, face às miríades de formas de mal que se apresentam atualmente? Acredito que a resposta esteja em familiarizar-nos de tal forma com a verdade de Deus e de Sua criação, a ponto de qualquer sugestão do mal tornar-se ridícula. O estudo sistemático e diário da Bíblia e de Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, ajuda-nos a reconhecer as maçãs tentadoras como aquilo que realmente são: fraudes.
A epístola aos Efésios ordena: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo.” Saber que a onipotência e onipresença de Deus sustêm o homem eternamente, reveste-nos de força para enfrentar o mal como o impostor que é. O compreender nossa inocência inata como expressões puras de Deus, serve-nos de escudo contra o medo e acelera em nós a compreensão da harmonia e da liberdade, durante qualquer provação.
A Palavra de Deus, procurada, examinada e avivada pela inspiração, habilita-nos a marchar vitoriosamente em meio às investidas do mal. Sempre que humildemente cedemos à Verdade de que o amor de Deus se manifesta a todo tempo e em todo o espaço e de que o homem é inseparável do Amor, descobrimos que, como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, nós também estamos dispostos a tomar posição a favor da Verdade frente a qualquer um dos muitos disfarces e ameaças do mal. Nossa tomada de posição contra o mal pode ser o eco da resposta que eles deram ao rei opressor: “Fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Daniel).
Alguns talvez digam: certo, isso é ótimo mas ... se alguém não tiver sido firme como aqueles três jovens? Caso alguém tenha, não só mordido a isca, mas também engolido o anzol, por assim dizer? Será que é tarde demais para encontrar a verdade e tomar uma posição firme?
Uma boa resposta está na vida do apóstolo Pedro. Ele foi o discípulo de Cristo Jesus que, apesar de seus protestos impetuosos a favor da verdade, muitas vezes carecia de firmeza para pôr em prática suas afirmações. Foi ele que corajosamente saiu do barco para andar sobre as águas em direção a Jesus, mas depois começou a duvidar. Também foi ele que, durante a última ceia, afirmou que jamais negaria o Mestre e, horas depois, o negou três vezes. Se houve alguém que tinha motivos para se sentir repetidamente enganado pelo mal e incapaz de ter firmeza, esse alguém foi Pedro.
Que diferença encontramos, porém, algum tempo depois, no livro de Atos, quando Pedro é aprisionado por estar pregando o Cristo! Em resposta às acusações feitas contra ele e à pressão para que abandonasse sua fé, ele destemidamente afirma: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens.” E foi libertado. Seu exemplo nos dá ânimo. Mostra que, mesmo na hora mais difícil, e não obstante as falhas do passado, a presença de Deus é capaz de nos inspirar com a Verdade invencível.
Uma das primeiras curas que tive na Ciência Cristã, exigiu que eu parasse de “morder a isca” do falso conhecimento e aprendesse a ficar firme. Foi a cura de uma dolorida sinusite que fora diagnosticada por um médico.
Recorrer a um praticista da Ciência Cristã pela primeira vez e não sentir medo, foram para mim passos enormes. Embora a cura tenha levado várias semanas de oração persistente, ela se completou quando parei de reagir ao quadro material, fosse ele bom ou mau. De certa forma, precisei aprender a rir dos sintomas que pareciam mudar de lugar, piorar ou até melhorar. Tive de aprender que a matéria não significa nada!
Certa noite, ao preparar o jantar, o método utilizado pelo mal ficou particularmente claro para mim. Depois de alguns dias em que me senti “bem melhor”, a dor voltou de repente. O praticista estava viajando e eu não podia falar com ele. Fui fortemente tentada a perder a fé. Mas voltando-me para Deus à procura de apoio, saí da cozinha e peguei o livro Ciência e Saúde. Abri ao acaso e estas palavras da Sra. Eddy foram uma mensagem angelical para mim: “A moléstia não tem inteligência que lhe faculte mover-se de um lugar para outro ou mudar de uma forma em outra. Se a moléstia muda de lugar, é a mente, não a matéria, que a faz mudar; por isso, não deixes de expulsá-la.” Pela primeira vez, percebi vividamente quão íntimo era, em realidade, meu relacionamento com Deus, por ser eu Seu reflexo. Percebi também quão ridículas eram as pretensões do mal quando vistas à luz desse fato.
Quando voltei à cozinha, a comida que eu deixara assando estava queimando. Sem pensar, tirei do forno a assadeira fumegante sem usar nenhuma proteção na mão. Em vez de reagir ao que acabara de fazer, compreendi imediatamente que a matéria e o pensamento mortal estavam tentando chamar minha atenção, assumindo uma nova máscara, chamada “mão queimada”. Realmente, esse não era um problema diferente, de jeito nenhum!
Em vez de aceitar esse renovado convite para “morder a isca”, pus calmamente a assadeira em cima da pia e recusei-me a me deixar impressionar. O que estivera aprendendo a respeito de meu relacionamento com Deus era verdade e nenhuma evidência nova iria me privar dessa preciosa compreensão.
Como resultado dessa convicção, a mão continuou normal. Não houve nem o menor sinal de queimadura. E, continuando com firmeza, fiquei livre da sinusite também.
Vestindo a armadura da Verdade e não “mordendo” nenhuma das iscas lançadas pelo mal, gozamos de completa liberdade para sermos filhos de Deus perfeitos e sem pecado.
