A pequenina cidade estava aturdida. Uma criança do jardim de infância que desaparecera fora encontrada morta — vítima de um crime.
A mãe de outra criança, da mesma classe do jardim de infância, lamentou: “Na Escola Dominical da Ciência Cristã ensinam a meu filho que tudo é bom. Agora acontece uma coisa dessas! Que se pode dizer a uma criança de cinco anos a respeito desse acontecimento?”
Pode-se compreender a preocupação dessa mãe em encontrar uma forma de explicar o crime a uma criança tão pequena. No entanto, a idéia de que a Ciência Cristã ensine que “tudo é bom”, é de fato um equívoco. A Ciência Cristã ensina que tudo o que é real é bom — e tudo o que é real é espiritual, não material. Não alega que o mal não exista como erro, isto é, como crença errônea a ser enfrentada e vencida. A própria finalidade da Ciência Cristã é a de curar e salvar da enfermidade e do pecado. Mas ela o faz mediante a compreensão de que, à luz da Verdade e em última análise, o erro é uma nulidade.
Esse é um ponto de extrema importância que precisa ser compreendido sobre a Ciência Cristã. Quase todas as religiões ensinam, como o faz a Ciência Cristã, que Deus é Espírito, todo o poder, eterno, perfeito, origem e criador de tudo o que existe. Mas a Ciência Cristã revela a conseqüência lógica desse fato: que tudo o que realmente existe deve ser espiritual e perfeito, visto que Deus é Espírito e Sua criação reflete apenas Sua natureza perfeita. Mas, que dizer do mundo material com seus aparentes males?
Nosso Guia, Cristo Jesus, animou seus discípulos ao dizer-lhes: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Seus ensinamentos e exemplos mostram-nos como nós também podemos triunfar sobre o mal, não por ignorá-lo, mas por vencê-lo mediante a oração esclarecida e a compreensão das leis espirituais de Deus. Essas leis espirituais superam as leis materiais e, quando são compreendidas e aplicadas mediante a oração, elas nos ajudam a vencer as circunstâncias humanas mais angustiantes.
Recentemente, vi-me diante de um desses desafios. Fui informada da morte repentina de meu sobrinho adolescente, um jovem tão talentoso, tão dado à música, tão brilhante, tão amável e interessado em ajudar os outros. Ele estivera sob os melhores cuidados médicos. A perda parecia imensa.
A princípio, o sentimento de pesar parecia insuportável. Contudo, comecei a orar para ver mais da natureza do homem de Deus. Eu sabia que a morte e a discórdia não são a realidade do homem, porque a criação de Deus, sendo Seu reflexo, é espiritual e perfeita. Ao aceitarmos o grande fato de que Deus é a Vida do homem, e ao nos atermos resolutamente a essa verdade, o pesar é curado paulatinamente. Em oração, volvi o pensamento a Deus, detendo-me em Sua bondade, Sua totalidade e Seu amor. Nesse “esconderijo do Altíssimo” (Salmos), afirmei, tal como a Ciência Cristã ensina, o fato de que o homem criado por Deus está sempre a salvo e está vivo nos braços eternos do Amor divino; que a verdadeira identidade do homem nunca nasceu em um organismo físico, portanto nunca sai dele pela morte. Refleti a respeito de versículos bíblicos, tais como: “Nele [em Deus] vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos). Senti-me grata por saber que a alegria, o amor, a inteligência e o humor ainda estão sendo refletidos por meu sobrinho, embora ele esteja fora do alcance de nossos olhos.
Recusei-me a nutrir pensamentos de perda e os substituí pelo conhecimento do perfeito amor de Deus e do perfeito controle que Ele tem sobre Seu universo espiritual, que é o único universo real. Persistindo nesse raciocínio, meu pensamento foi inundado por maravilho-so senso de amor, harmonia e gratidão. O aparente vazio, eu sabia, já estava ocupado pelas bênçãos do Amor divino. A mim me cumpria reconhecer e aceitar essas bênçãos. Ao fazê-lo, consegui erguer-me acima da dor, grata por minha convicção da Vida eterna e da totalidade de Deus, o bem, como a única realidade.
Não resta dúvida de que é bem maior o desafio que os pais da criança assassinada tiveram de enfrentar e sentimos grande compaixão por eles. Qual deve ser a nossa atitude para com alguém que nos fez sofrer tão horrorosamente? Aos cristãos, Cristo Jesus dá o exemplo. Ele até mesmo orou pedindo o perdão daqueles que foram responsáveis por pregá-lo na cruz. Nem sempre é fácil perdoar. Talvez, a princípio, pareça impossível. Mas ajuda enormemente saber que o mal não faz parte do homem criado por Deus. O homem real é espiritual e bom, refletindo a natureza de Deus, e esse é o homem que Jesus via exatamente ali onde aos sentidos materiais parecia estar um pecador mortal.
É por isso que a Ciência Cristã nos ensina a condenar o pecado, mas não o pecador. Ao darmo-nos conta de que o mal não faz parte da verdadeira identidade da pessoa, mas sim é um senso ilusório e falso do eu, vemos como é realmente possível o perdão, ato de graça e amor cristão. Impessoalizar o mal ajuda-nos a saber que o homem criado por Deus é sempre bom, ao invés de ser um mortal transviado que busca causar dano a outros. É claro, porém, que as pessoas que se entregam ao pecado lhe dão realidade e sofrem concomitantemente os efeitos de seus maus pensamentos e de suas más ações, até se arrependerem e se reformarem.
E os coleguinhas daquela criança de cinco anos? Podemos começar a ensinar nossos filhos a compreender singelas explicações cristãs da lei de Deus, de acordo com sua capacidade de captá-las. À medida que pomos mais em prática essa lei em nossa própria forma de viver, o pensamento puro da criança encontra consolo. O problema do mal será compreendido à luz da verdade divina e o medo será destruído. Tal como a Sra. Eddy escreve em Unidade do Bem: “Obter uma consciência temporária da lei de Deus é sentir, num sentido humano finito, que Deus vem a nós e tem compaixão de nós; mas alcançar a compreensão de Sua presença, mediante a Ciência de Deus, destrói nosso senso de imperfeição, ou de Sua ausência, através de um senso mais divino de que Deus é toda consciência verdadeira; e isso nos convence de que, ao nos aproximarmos ainda mais d’Ele, temos de perder para sempre nossa própria consciência do erro.”
Quando a tragédia ocorre, o Cientista Cristão alerta toma uma posição positiva, orando. No entanto, não se trata de mera petição, é preciso mais do que petição. Ele empreende uma disciplina mental de afirmar e reafirmar a verdade científica. Nisso se inclui a afirmação do que é verdadeiro a respeito de Deus e de Sua criação espiritual e perfeita, da qual o homem faz parte, e a negação de que o senso material das coisas seja uma realidade. O Cientista Cristão também se esforça para seguir o exemplo de Cristo em consolar os outros. As mágoas e tristezas de nossa própria experiência deixam de ter poder sobre nós, quando nos esforçamos para ajudar outras pessoas. Por abençoar os outros, nós também somos abençoados.
Não é ruminando o problema, permitindo que ele continue a dar voltas, cavando sulcos cada vez mais fundos em nossa consciência, que superamos toda e qualquer crença de mal. Vencemos o mal por nos conscientizarmos de sua irrealidade a partir do ponto de vista de que Deus é Tudo, por volver o pensamento completamente para Deus e por amar ainda mais. Sendo espiritual a felicidade, podemos vivenciar um sentimento de alegria subjacente até mesmo nas horas mais negras.
A experiência de Jesus na cruz provou ser uma vitória para o Cristo. Também nós podemos transformar uma tragédia em vitória. Podemos seguir em frente mediante a oração científica, confiantes em Deus e regozijando-nos porque Ele nos está mostrando o caminho, à medida que ouvimos e obedecemos. Nosso Mestre prometeu, como diz a Bíblia inglesa: “Não vos deixarei desconsolados, voltarei para vós outros.” Esse é o Consolador trazido pela Ciência Cristã. Que gratidão podemos sentir por essa prova do amor infinito de Deus!
