O escritor C. S. Lewis, em sua obra “The Chronicles of Narnia”, um conto de aventura e fantasia destinado a jovens e adultos, faz um relato de um sombrio reino subterrâneo governado por uma perversa rainha dotada de poderes mesméricos. Ela captura os heróis da história e, em determinado ponto, eles tentam descrever a essa entidade malévola o sol e o céu, para onde almejam retornar. A rainha cruel lhes faz, então, algumas perguntas que parecem inofensivas.
“O que é esse sol de que vocês tanto falam?” pergunta. “Essa palavra quer dizer algo especial?”
Um dos terráqueos tenta descrever o sol como algo semelhante a uma grande lâmpada suspensa no céu. A rainha malvada pergunta onde o sol está pendurado.
“Enquanto pensavam em como responder-lhe, ela acrescentou ..., ‘Percebem? Quando vocês tentam definir claramente o que é esse sol, vocês não conseguem descrevê-lo .... Esse sol é um sonho; não há nada nesse sonho que não tenha sido copiado da lâmpada. A lâmpada é a coisa real, o sol não passa de uma fábula....’
“... Após uma pausa e depois de muita luta em seus pensamentos, todos dizem juntos: ‘Estais certa. Não existe sol.’ Foi um alívio dar-se por vencido e concordar.” The Silver Chair (New York: Macmillan Publishing Company, 1988).
Em vez de descreverem seu mundo, os heróis entram em acordo, pelo menos temporariamente, com a sugestão de que o mundo que conhecem e amam simplesmente não existe.
Lewis foi um cristão devoto e extremamente inteligente. Ele sabia que a experiência e o significado da luz espiritual sofrem, por vezes, sutil e persistente oposição do “bom senso” existente no mundo. Sua parábola, sob a forma de história, é intuitiva e irresistivelmente exata ao expor a natureza mesmérica da oposição ao Cristo, a Verdade.
Quem já não sentiu, por vezes, esse tipo de resistência à prática da Ciência Cristã
Christian Science (kris’tiann sai’ennss), ao tratamento e à cura, como se essa oposição fosse de fato real? Trata-se, no entanto, de uma atmosfera mental que, em certas ocasiões, invade a consciência, como uma forte neblina que repentinamente cobre a paisagem.
Por exemplo, a sensação de que não lembramos como dar um tratamento pela Ciência Cristã, ou de que não desejamos fazê-lo agora, é um elemento dessa atmosfera mental. Pode ser que tenhamos uma sensação de um vazio mental. Pode ocorrer uma sensação de que o fluxo de idéias espirituais com que estávamos familiarizados tenha se interrompido por um motivo muito válido. A sugestão poderá dizer que o “realismo” exacerbado da existência material é esmagador. Muitos Cientistas Cristãos dedicados têm enfrentado esse tipo de desafio.
Faz-se necessário não apenas trabalhar com mais afinco, mas também com mais talento, para que nos elevemos acima dessa treva mental. Isso nada tem a ver com a esperteza pessoal, pois esse atributo não existe na demonstração espiritual. Podemos, no entanto, trabalhar em mais íntima e mais proveitosa concordância com as explicações cientificamente cristãs que a Ciência Cristã proporciona.
A Ciência do Cristianismo, descoberta por Mary Baker Eddy, confirma a percepção que muitos cristãos tiveram sobre o mal. De certa forma aceitaram o que Jesus disse sobre o diabo, ou o mal: “é mentiroso e pai da mentira.” A Ciência Cristã, porém, revela o caráter irreal e essencialmente mesmérico do mal, pois a Ciência revela a onipresença de Deus, que é bom. Se quisermos ser bem sucedidos em nossa oposição à resistência ao Cristo, a Verdade, em vez de sermos constantemente desviados para uma interpretação pessoal e psicológica da vida, precisamos viver e pensar em termos dessa explicação científica.
Se, por exemplo, somos honestos em seguir o Cristo, e com vigor nos empenhamos em praticar a Ciência Cristã, mas ainda assim ficamos perturbados com a sensação de que há algo de vago na prática da Ciência Cristã, então é necessário percebermos que essa sensação nos é imposta. Nada tem a ver conosco. Por mais que pareça expressar com fidelidade nosso estado mental, essa sensação é na realidade o efeito mental do ambiente persuasivo, materialista. A Sra. Eddy refere-se a essa influência numa frase que de forma alguma é um jargão incompreensível: “sugestão mental agressiva” (Manual d’A Igreja Mãe).
Tornamo-nos hábeis em resistir a essa influência, quando obedecemos a preceitos espirituais. Não há dúvida de que não devemos nos envolver num diálogo com tal sugestão, mas faz-se necessário que não a creiamos. De acordo com a Ciência Cristã, precisamos compreender que essa sugestão não tem o direito de nos envolver. Não se trata de algo de bom senso que nos é apresentado por uma inteligência justa e honesta. Seu propósito é obscurecer o fato espiritual.
Em vez de ficarmos emaranhados com a sensação de que não sabemos o que precisamos saber, devemos despertar para o que de fato está ocorrendo e seguir adiante vivenciando com honestidade a bondade que provém de Deus. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Se o pensamento se sobressalta ante o vigor com que a Ciência proclama a supremacia de Deus, ou Verdade, e põe em dúvida a supremacia do bem, não deveríamos, pelo contrário, espantar-nos ante as vigorosas pretensões do mal e duvidar delas, e não continuar a pensar que é natural amar o pecado e desnatural abandoná-lo — não continuar a imaginar que o mal está sempre presente, e o bem ausente? A verdade não deveria parecer tão surpreendente e desnatural quanto o erro, e o erro não deveria parecer tão real quanto a verdade.”
Por maior que seja nosso desejo de fazer o que for preciso para lutar a favor da Causa da Verdade, faz-se necessária contínua regeneração cristã para estarmos em condições de ser úteis. Essa regeneração habilita-nos a perceber, e a pôr em prática, a veracidade da explanação científica sobre os elementos e a natureza da batalha cristã. Essa luta não é contra pessoas ou elementos da sociedade, mas contra as influências mentais que parecem atingir o pensamento humano. Quando aceitarmos a revelação da Ciência e nos desfizermos da crença em mentes mortais independentes, encontraremos mais liberdade e individualidade. Quando formos capazes de discernir as artimanhas da má-prática ignorante, ou específica, não mais seremos enganados, não mais estaremos agindo contra aquilo que mais nos convém.
Precisamos entrar em acordo, sem demora, com o nosso adversário. Não há dúvida de que para a assim chamada mente mortal a Ciência parece ausente, mas para o homem criado por Deus, para a consciência espiritual, que está sempre presente, a verdade espiritual é natural. Para a maioria das pessoas não deve haver nada de místico ou “muito difícil” nessa asserção. A descrição pode parecer abstrata, mas quem sinceramente se esforçar para perceber a luz espiritual, em breve sentirá familiaridade com os pensamentos que provêm de Deus. Na verdade há apenas uma Mente, Deus, portanto, ninguém pode estar de fato irremediavelmente mesmerizado ou enganado. À medida que reconhecermos que o homem é, sem dúvida, a expressão espiritual dessa Mente divina e suprema, estaremos menos propensos a ser influenciados pelas crenças oriundas de outra qualquer, assim chamada.
Num trecho de Ciência e Saúde, que além de descrever nosso progresso individual, também expõe a ascensão espiritual da humanidade, a Sra. Eddy escreve: “Ao sentido mortal, a Ciência, no começo, parece velada, abstrata e obscura; mas uma promessa luminosa lhe coroa a fronte. Quando compreendida, é o prisma e o louvor da Verdade. Quando a encaras honestamente, podes curar, graças a ela, e ela terá para ti uma luz mais clara que a do sol, pois Deus a iluminou’.”
Numa época em que milhões de pessoas estão começando a voltar-se para a luz espiritual, não podemos nos deixar desviar da percepção e compreensão metafísicas, ou do tratamento e da cura efetuados pela Ciência Cristã. Mais do que nunca, precisamos nos manter o mais próximo possível da explanação que Ciência e Saúde nos dá da cura e do tratamento. Uma forma de descrever esse trabalho espiritual tão importante é dizer que nos capacita a separar o joio do trigo. É aquilo que coloca em nossas mãos “o pão da vida” que tanto desejamos partilhar com o mundo, mundo que neste momento está faminto.
