O medo de que seus entes queridos possam estar em perigo é, talvez, a pior sensação com que os pais se defrontam.
O único conforto real que encontrei, ao enfrentar esse tipo de medo, foi através do raciocínio espiritual, tendo por parâmetro aquilo que é absolutamente verdadeiro. Por exemplo: cada um dos filhos de Deus é realmente a idéia espiritual de Deus, está envolto pelo Amor divino. Meu filho origina-se no Amor e ali permanece, incluído no propósito, no poder e na salvaguarda divina. Como o Amor é Princípio, não pode haver nenhum estado contrário à inteireza espiritual do filho de Deus. Essa verdade espiritual é demonstrável hoje, agora, porque Cristo Jesus provou sua praticidade, ou seja, provou qual é o efeito da compreensão do poder de Deus para curar.
Quando o centurião acreditou que Jesus tinha autoridade para curar seu servo paralítico, Jesus ficou admirado com tão grande fé. “E naquela mesma hora o servo foi curado” (ver Mateus).
Com semelhante convicção, os pais podem afirmar verdades espirituais quando confrontados pelo medo, quer o filho ou a filha esteja no jardim de infância, quer no ciclo secundário ou no trabalho, quer seja solteiro, quer casado. O descendente de Deus está a salvo da tormenta e do tumulto. O filho de Deus, o homem espiritual por Ele criado, não é vulnerável à manipulação, seja ela social, hereditária ou emocional, porque o Pai é o Princípio que governa cada hora e cada dia, cada motivo e cada lembrança.
O filho de Deus não pode ser o objeto nem o instigador de atos maus ou perversos. Não pode ser atraído para longe da atmosfera natural de inocência e segurança. Os pais podem reivindicar essa identidade como sendo o verdadeiro perfil de seus filhos. Cada filho, por estar sob o governo do Amor, está perfeitamente seguro. Todos estão, como o afirma a Sra. Eddy, sob a guarda da “influência sustentadora e do poder protetor” de Deus. Ela escreve em Ciência e Saúde: “A história do cristianismo fornece provas sublimes da influência sustentadora e do poder protetor conferidos ao homem por seu Pai celestial, a Mente onipotente, que dá ao homem fé e compreensão por meio das quais defender-se, não só da tentação, mas também do sofrimento corpóreo.”
Em nossa família, tivemos as atividades costumeiras, nossa dose diária de fraldas, de comprar e preparar comida, organizar os horários e todas as tarefas que geralmente giram em torno das crianças. Meu marido viajava bastante. Eu pintava um pouco e presidia um grupo de senhoras encarregadas de um berçário. Houve épocas difíceis e épocas alegres, houve os dilemas de não haver dinheiro suficiente, muitas decisões a serem tomadas, e, ainda assim, cada um esforçava-se bastante para fazer o melhor que podia.
Houve fracassos e grandes satisfações. Houve alguns desafios que exigiram coragem, pois trouxeram o medo com estrépito para dentro de nossa atmosfera mental: todas as crianças tiveram coqueluche ao mesmo tempo; uma delas machucou o polegar, que ficou esmagado; fiquei doente. Ainda assim, era normal então, e é normal agora, não pensar naqueles momentos de grande medo como particularmente terríveis. Isso porque, não importando quão difíceis as coisas parecessem ser, sempre acabávamos por aprender algo profundo e maravilhoso acerca da identidade espiritual e, ainda mais importante, acerca da presença de Deus e de Seu cuidado inequívoco para com nossa família.
Presumo que teríamos sobrevivido àqueles anos de vida em família, mesmo sem uma compreensão de Deus como nosso Pai-Mãe. Muitos de nossos amigos viveram assim; minha irmã e sua família também. Não estavam realmente interessados em idéias espirituais ou num propósito espiritual. Achavam que estavam indo bem sem oração. Ainda assim, não me parecia seguro naquela época, e não me parece agora, seguir em frente sem reconhecer aquele fato inevitável de que Deus é o Pai-Mãe de todos e de que Sua ajuda está bem à mão para cada um de nós, adultos e crianças.
Mesmo quando as pessoas têm tal convicção, o medo pode sobrevir às vezes como se fosse um furacão. Tal como acontece com inúmeras famílias que estão convictas de que o poder espiritual é real e de que nele se pode confiar, tais surtos de medo nos fizeram recorrer a orações mais específicas e a apoiar-nos ainda mais em Deus. Vezes sem conta tivemos provas de que Deus é permanentemente o Pai-Mãe que cuida de Sua criação, inclusive de nossos filhos.
Falar com fervor de algo que, afinal, não pode ser medido ou tocado fisicamente, talvez pareça abstrato para o céptico. É como falar da “bondade” — como se pode descrevê-la? Todos sabem que ler a descrição de um furacão é mais dramático do que ler a descrição do ar puro e límpido que respiramos.
Contudo, não é mais incongruente pensar no efeito prático de se confiar na lei espiritual para atender às necessidades do indivíduo e da família, do que seria pensar a respeito da força da gravidade: não podemos vê-la, mas vemos seus efeitos.
Ou, então, procure pensar em Cristo Jesus nas colinas junto ao mar da Galiléia, provendo peixe e pão suficientes para alimentar centenas e centenas de pessoas. Devem ter sido peixes normais (desses que têm cabeça, rabo e escamas) e pães normais que podiam ser cortados e repartidos, contudo a Bíblia relata que sobrou muita comida.
Posso imaginar pais, naquele dia, no meio daquela multidão, perguntando-se: “Como vamos poder alimentar as crianças e a nós mesmos? Nunca imaginamos que fôssemos ficar tanto tempo escutando o Mestre.” Talvez não fosse uma questão de vida ou morte. Ainda assim, deve ter havido certo grau de preocupação.
Não importa qual seja a situação, se a garantia e a evidência da lei divina podem trazer calma a um pai ou mãe, confiança e orientação prática, essa lei merece receber atenção. É algo mais do que uma boa história. No que concerne à minha família, é certo afirmar que o recurso seguro da oração — a forte convicção de ser Deus o único poder real — tem sido o forte essencial de uma vida em família vigorosa e saudável.
Houve amigos que me perguntaram se eu poderia provar que as coisas não teriam saído bem de qualquer maneira. Mas, realmente, tudo o que sabemos é o que nossa vida apresenta. O que sei com certeza é que eu teria medo de confiar na sorte ou no nihilismo.
Em circunstâncias humanas específicas, quando oramos, houve curas. Quando todas as três crianças tiveram coqueluche, em três dias cessou a tosse. O sarampo veio e se foi rapidamente, com pouco desconforto. Nossos filhos foram crianças sadias.
Uma das ocasiões mais dramáticas em que tive de enfrentar o medo, aconteceu quando nossa filha tinha sete anos. Ela gostava de trepar em árvores e era uma pequena muito viva, com boa coordenação motora. Também era destemida e, em geral, mostrava bom senso.
Certa tarde, saí de casa para fazer compras. “Oi mamãe, olha onde estou!” a pequena voz chamou de algum lugar. Num segundo consegui localizá-la, bem no alto de um cipreste, provavelmente a uns 15 metros de altura.
Fiquei aterrorizada como nunca ficara. Não pude olhar para ela novamente, pois temia descontrolar-me, por isso voltei as costas para a cena e orei. “Oh, Deus, sê Mãe para ela!”, foram as palavras que me vieram à consciência; palavras que representavam muitas verdades espirituais, mas muitas mesmo, nas quais, vezes sem conta, eu confiara, verdades que eu amava e nas quais eu acreditava. Para mim, era natural crer que a lei espiritual é a própria base da vida, que podemos confiar no governo de Deus sobre cada minúcia de nossa vida e que Seu amor está sempre conosco.
Uma frase do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, corresponde à essência de minha oração diária por nossa família: “Mantémte firme na compreensão de que a Mente divina governa e de que na Ciência o homem reflete o governo de Deus.” O conceito de Deus como Pai e Mãe muitas vezes libertou-me da sensação de que ser pai ou ser mãe era uma enorme responsabilidade, demasiado grande para pessoas como eu. Por conseguinte, falei muitas vezes com as crianças em termos de ser Deus seu verdadeiro Pai e Mãe, que nunca poderia não estar onde elas estivessem.
Toda essa compreensão e confiança em verdades espirituais estavam presentes nesse meu simples chamado mental que instantaneamente libertou-me do terror. Pude volver-me e olhar outra vez para o alto da árvore onde ela estava.
“Olha como estou bem no alto, mamãe,” ela disse com orgulho, mas, em seguida, num tom de voz diferente, acrescentou, “Mamãe, como faço para descer?”
“Oh, Mãe, nosso divino Amor, Tu lhe mostrarás como descer,” afirmei em meu coração. Em voz alta, pude falar sem mostrar preocupação na voz: “Ora, assim como subiste, também vais saber descer. Talvez seja uma boa idéia ficares perto do tronco da árvore e descer bem devagar. Quando tiveres descido, iremos fazer compras.”
Não conseguia acreditar no tom calmo em minha voz, mas continuei firme a enfocar verdades espirituais: Deus está sempre presente, é a Vida e o Amor dessa menina, e como ela é Sua filha, reflete inteligência divina; tudo o que ela precisa em termos de controle, paciência, destemor, Ele já lhe deu.
Bem devagar, com cuidado e rente ao tronco, ela foi descendo. A caminho das compras, eu lhe disse que subir em árvores daquela altura não era uma boa idéia, ainda mais que não se pode confiar nos ramos do cipreste. Ela disse que a experiência tinha sido assustadora e que não subiria tão alto novamente porque a descida fora muito difícil.
“Mamãe, estavas orando?” ela perguntou.
“Claro que estava,” respondi.
“Foi o que pensei”, replicou num tom de voz displicente, querendo indicar que tínhamos algo muito importante em comum, por sabermos que Deus cuida de tudo.
