No Ano Em que entrei no curso secundário, trabalhei, durante o verão, como conselheira num acampamento mantido por uma organização de moças. O acampamento ficava à beira de um lago, mas era suficientemente perto do mar para que pudéssemos fazer excursões de um dia à praia, de vez em quando. Esse era, geralmente, o passeio favorito de todos. Gostávamos da praia e de livrar-nos da rotina e das refeições do acampamento.
Nossa primeira excursão começou muito bem. Mas, na volta, muitas meninas queixaram-se de queimaduras de sol. Havia sido um dia muito quente e o fato não era de surpreender. Ao chegarmos de volta ao acampamento, porém, a situação parecia séria. Algumas meninas passaram mal durante a cerimônia de arreamento da bandeira. À noite, tantas meninas estavam doentes que não havia mais lugar na enfermaria e muitas foram mandadas de volta para seus chalés para passar a noite.
A enfermeira do acampamento reuniu-se com as conselheiras e deu-lhes instruções sobre o que fazer se alguém estivesse doente nos dormitórios. Ela disse que alguns médicos tinham vindo prestar ajuda e que tudo havia sido causado pelo excesso de exposição ao sol. Quando ela saiu, senti-me realmente assustada. Eu também não estava me sentindo bem e comecei a preocupar-me com minha irmã mais nova, que estava em outro chalé.
As meninas de meu chalé, que eram as menores, começaram a chorar, pedindo para ir para casa. Tentei confortá-las mas, naquele momento, eu também sentia o mesmo que elas e nada do que dizia era convincente! A situação parecia aterradora e então comecei a orar.
Lembrei-me de minha professora da Escola Dominical da Ciência Cristã, falando sobre um versículo da Bíblia que descrevia Deus como sol e escudo. (Ver o salmo 84, versículo 11). Ela havia nos mostrado, no Glossário de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, uma explanação do significado espiritual de sol. (Esse livro é o livro-texto da Ciência Cristã, de autoria de Mary Baker Eddy.) Eu não me lembrava das palavras, mas tinha um exemplar junto à cama e folheei rapidamente as páginas até encontrar aquele trecho. Eis o que diz: “Sol. O símbolo da Alma, a qual governa o homem — o símbolo da Verdade, da Vida e do Amor.” Ciência e Saúde, p. 595.
Essa imagem do amor de Deus governando Seus filhos era muito diferente do medo e da reação que haviam tomado conta da atmosfera naquela noite. Meus pais e professores da Escola Dominical haviam falado muitas vezes sobre o que significa ser governado por Deus. A idéia que me pareceu mais fácil de compreender foi a de que Deus mantém a harmonia e a perfeição do que Ele criou. Ele não nos cria para logo esquecer-se de nós ou deixar-nos por nossa própria conta. Suas leis governam tudo e preservam a magnificência e a perfeição de tudo o que Ele criou. Cristo Jesus comprovou esse fato. Suas curas mostraram que, como semelhança espiritual de Deus, não podemos ser tocados nem controlados por algo que não seja causado pelo Amor. Nós temos domínio.
À medida que eu ponderava essas idéias, compreendi que minha irmã, eu e todos no acampamento estávamos em segurança porque Deus estava governando e Ele é o único poder. Essa verdade tornou-se para mim mais real do que o tumulto em que eu fora envolvida, causado pelo mal-estar. As coisas começaram a mudar. O anseio de pegar minha irmã e ir para casa, ou seja, de escapar da situação, passou. Minhas pernas pararam de arder e as náuseas também cessaram. Senti-me calma e livre. Pela primeira vez, naquela noite, eu não só fiquei calma, mas também feliz.
Embora eu não tivesse falado especificamente sobre Deus com as meninas de meu chalé, o que eu disse confortou-as e o choro cessou. Logo depois, a conselheira-chefe veio avisar que, por essa noite, haviam decidido trazer para nosso dormitório as meninas de outros chalés, que não estavam se sentindo mal. Arrumamos os beliches e espalhamos colchões para que ficassem prontos para elas. Minha irmã estava no primeiro grupo que veio e fiquei feliz ao vê-la.
Na manhã seguinte, todos falavam sobre os acontecimentos da noite. Algumas das outras conselheiras, que tinham ficado acordadas a maior parte do tempo, caçoaram de mim por ter dormido toda a noite, pois nosso chalé fora o único no qual não ocorrera nenhum caso de mal-estar. Eu também achei graça, pela ironia da observação, porque nunca em minha vida eu havia me sentido mais desperta do que naquela noite.
Foi a primeira vez que tive de enfrentar a doença sem a ajuda de meus pais ou de um praticista da Ciência Cristã. O que realmente se destacou nessa grande cura foi que, mesmo quando nos sentimos sós e incompetentes, Deus está conosco, ajudando-nos a compreender e a confiar em Seu poder.
As coisas voltaram completa e rapidamente ao normal no acampamento e fizemos muitas outras excursões à praia, naquele verão. Mas o que me surpreendeu foi a renovada afeição que passei a sentir por minha irmã e pelas meninas do acampamento. Antes, minha irmã e eu brigávamos muito e embora disséssemos que nos amávamos, em realidade, não tínhamos muita intimidade. Orar por ela, naquela noite, despertou em mim um amor mais profundo do que eu jamais sentira por minha irmã. Nossas divergências não terminaram todas naquele momento. Mas hoje somos realmente muito amigas e, quando penso sobre nosso relacionamento, vejo aquela noite como um marco.
Quando oramos para ver as pessoas um pouco mais do modo como Deus as vê, como reflexos espirituais e perfeitos dEle, elas nunca mais parecem as mesmas. A oração eleva-nos acima da névoa de ver tudo como sendo material. Mesmo os mais tênues lampejos do amor de Deus, que tudo governa, fazem mais do que apenas curar um determinado problema que esteja nos preocupando. Eles iluminam todo o panorama de nossa vida.
