Os "Escolhidos". Este é o significado essencial da palavra original grega traduzida como “igreja” no Novo Testamento. Cristo Jesus literalmente escolheu seus alunos e chamou-os a segui-lo e a abandonar o antigo modo de viver. Ao aceitarem esse chamado, seus seguidores se afastariam das expectativas comuns e materiais de vida e, aos olhos do mundo, se apresentariam de maneira inteiramente diferente do que tinham sido antes. Apresentar-se-iam como homens novos, com um novo propósito.
Esses homens e mulheres renascidos se transformariam de maneira extraordinária, a ponto de se tornarem “como crianças”, à medida que progrediam com firmeza em sua tarefa de honrar a Deus como seu Pai e de aceitar humildemente Sua vontade. Tornar-se-iam pioneiros espirituais nas novas fronteiras do coração, da mente e do espírito. Tornar-se-iam discípulos e sanadores. Com efeito, eles viriam a ser a Igreja Cristã.
Obviamente essa "escolha" jamais significou que os cristãos deveriam se apartar da humanidade e manter o mundo à distância. Muito embora o verdadeiro cristianismo certamente acabe gerando um confronto espiritual e moral com a mundanalidade, até mesmo uma espécie de luta contra o materialismo grosseiro, a ignorância e o pecado, ainda assim, para que a igreja seja de Cristo, é preciso que ela envolva o próximo com amor abnegado. A Igreja, tanto naquela época como hoje, expressa vida na proporção em que atende às necessidades do gênero humano, elevando a humanidade pelo poder divino da oração, mostrando com convicção espiritual o caminho perfeito de Deus para a salvação de cada um.
Hoje, essa meta de divulgar o evangelho, isto é, as boas novas do amor salvador de Deus, é atingida com mais eficácia quando participamos através de nosso próprio viver. É esse evangelismo abnegado que precisa continuar definindo a missão sanadora fundamental da Igreja, neste limiar do século XXI. Essa missão não tem o propósito de “conseguir” membros, mas de glorificar a Deus e de amar o próximo. Para o Cientista Cristão, isso só acontece quando sua igreja demonstra ativa e vigorosamente a inteireza do homem como reflexo espiritual de Deus, pois só assim a igreja e todo discípulo contemporâneo cumprem realmente um propósito.
Os Cientistas Cristãos conhecem bem a definição de Igreja dada por Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, o livro-texto da Ciência Cristã. Inicialmente fala da natureza espiritual da Igreja: “A estrutura da Verdade e do Amor; tudo o que assenta no Princípio divino e dele procede.” Em seguida, a Sra. Eddy define como a Igreja deve se manifestar na existência humana: “A Igreja é aquela instituição que dá provas de sua utilidade e que vem elevando a raça, despertando de suas crenças materiais a compreensão adormecida, para que perceba as idéias espirituais e demonstre a Ciência divina, expulsando assim os demônios, ou o erro, e curando os doentes.” Ciência e Saúde, p. 583.
Considerando essas exigências, algumas vezes me perguntei qual seria a resposta se perguntássemos a alguém da vizinhança qual é sua opinião sobre o desempenho da igreja local da Ciência Cristã, em face do padrão estabelecido pela definição de Igreja, em Ciência e Saúde. Se encararmos a resposta honestamente, talvez reconheçamos alguns aspectos deficientes em nossa demonstração atual de igreja. Muitas vezes, no entanto, creio que num exame rigoroso ficaríamos fortalecidos pelo que Deus nos revela sobre o verdadeiro propósito da igreja. Será que então não estaríamos investidos de poder para nos dispormos realmente a alcançar tal objetivo de forma mais plena?
Quando alguém tem o primeiro contacto com a Ciência Cristã e percebe que ela pode transformar inteiramente sua vida, não é difícil que seu amor e seu desejo de servir à igreja sejam despertados. Houve, por exemplo, o caso de um africano que, em carta enviada à secretaria d'A Igreja Mãe, relata sua cura e como sua vida se modificou completamente após simplesmente uma semana de estudo da Ciência Cristã. Contou que assistira à reunião da quarta-feira e ao culto do domingo e que visitara a Sala de Leitura todos os dias. Sete visitas, disse, naquela primeira semana. Todos os dias. Não importava que a igreja ficasse a cerca de 16 quilômetros de distância e que não houvesse transporte. Ele ia a pé. Trinta e dois quilômetros ida e volta. Todos os dias.
As coisas às vezes podem ser bem diferentes nos países “desenvolvidos”, onde as Igrejas de Cristo, Cientista, há muito estão estabelecidas em lugares de fácil acesso. Muitas vezes não é uma questão de serem avivadas, mas reavivadas, reativadas com um propósito renovado. Como sentir novamente a mesma alegria que sentimos quando nos unimos à igreja inicialmente? Como a igreja pode fazer realmente uma diferença decisiva? (Penso em nosso amigo africano quando vou à igreja de carro, 10 quilômetros em 12 minutos. Será que a dedicação daquele homem não nos traz à memória aquela sensação de ter sido “escolhido” e de compartilhar com os outros o amor de Cristo, que sentimos inicialmente em nosso primeiro compromisso com a igreja?)
Uma igreja filial, estabelecida na Inglaterra em 1925, dá-nos um sólido exemplo de genuíno reavivamento. Há mais de dez anos, essa igreja ficara reduzida ao que um membro denominou “quase nada”. Havia apenas oito membros, poucos dos quais eram ativos e não havia praticista da Ciência Cristã atendendo em tempo integral.
Nos anos seguintes, a igreja muitas vezes teve de enfrentar a tentação de simplesmente desistir. Um novo membro, entretanto, começou nessa época a acalentar ativamente a prática pública da cura. (Afinal, será que pode haver uma igreja da Ciência Cristã sem membros dispostos à prática?) Esse novo membro percebeu que se quisesse realmente ajudar sua igreja, não poderia continuar alimentando o conceito de uma igreja doente, assim como não poderia manter o conceito de um paciente doente quando alguém telefonava à procura de cura.
Embora durante esse período os poucos membros enfrentassem muitos problemas agressivos em sua própria vida e na da igreja, eles continuaram persistindo. Não desistiram. O nome do novo membro logo foi publicado no Journal como praticista em tempo integral.
Ainda assim, quando a igreja foi abalada por uma forte tempestade, foi necessário vender o prédio e reconstruir a igreja. Todo esse processo realmente acabou sendo uma bênção, devido à unidade de pensamento e de oração entre os membros. O amor pela comunidade foi crescendo constantemente e a comunidade passou a notar e a valorizar isso. A igreja recebeu um prêmio como sociedade cívica de destaque na cidade, em 1989.
Um membro relata que no ano passado “as sementes do progresso realmente brotaram”. O número de membros triplicou à medida que a cura continuou sendo o centro dos interesses. Houve muitas curas: cálculo biliar, derrame, problema de tireóide, tumor na boca, deterioração das articulações nos quadris diagnosticada por um médico, colapso nervoso, para citar algumas. A Escola Dominical e a Sala de Leitura cresceram no mesmo ritmo à medida que os membros passaram a encarar essas atividades como uma prestação de serviço para a comunidade.
Durante a época de maior desafio, os membros compreenderam que se não aprendessem a viver a verdadeira Igreja em sua comunidade atual, teriam simplesmente de aprender a lição, mais cedo ou mais tarde, em outro lugar. Então decidiram vivê-la ali. A igreja reavivou-se.
Toda vez que surge o tema do reavivamento das igrejas entre Cientistas Cristãos, a discussão se volta para a questão central da demonstração. E logo se torna evidente que “ser escolhido” de fato pode quebrar nossa cômoda rotina. O discipulado nunca é algo do tipo “sempre foi assim”. Se a cura cristã não for colocada em prática, envolvendo diretamente a congregação local na busca de soluções espirituais para os desafios enfrentados pela comunidade e por seus habitantes, uma igreja pode parecer um navio à deriva no oceano, sem leme e sem mapa, sem bússola nem destino.
Evidentemente, é imperativo que cada igreja compreenda a razão de sua existência. As igrejas, tanto as grandes como as pequenas, precisam de um rumo, de metas, de orientação e ímpeto espirituais para cumprir o trabalho. Podemos concluir, com razão, que a igreja realmente existe como resposta às orações da comunidade, em prol da presença do Cristo sanador em seu meio. Só nesse contexto é que os membros individualmente poderão apreciar por completo o lugar de sua própria igreja na comunidade e como comunidade. Então, a igreja local também estará pondo abaixo quaisquer muros que a separem da vizinhança. De fato, estará se transformando em uma igreja sem muros, uma igreja viva, cumprindo seu propósito genuíno e realizando curas.
