“As Aflições São provas da solicitude de Deus.” Ciência e Saúde, p. 66. Lemos essa frase no livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria de Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss) e Fundadora d’A Primeira Igreja de Cristo, CientistaThe First Church of Christ, Scientist. Às vezes, porém, essa afirmação pode parecer inquietante. Será que ela quer dizer que Deus nos manda as aflições? Não, em realidade, as aflições é que nos levam a Deus. E quando nos volvemos a Deus, inevitavelmente comprovamos Sua solicitude. Esse é o assunto que abordaremos neste artigo: as provas da solicitude de Deus.
Suponho que a maior parte dos americanos, hoje em dia, nem se lembra mais da grande Depressão da década de 1930. Esse período já se tornou história, se bem que história recente.
Nasci nos primeiros anos da Depressão, e confesso que tenho apenas uma vaga lembrança daquela época. Meus pais nunca falaram sobre aqueles tempos difíceis (pelo menos nunca tocaram nesse assunto em minha frente) e por essa razão somente muitos anos depois, quando eu já estava casada, é que finalmente tomei conhecimento da experiência deles.
Eu sabia que meus pais haviam passado por períodos difíceis, mas também sabia que as dificuldades não tinham deixado neles os sentimentos de insegurança ou medo de carência que pareciam atormentar tantas pessoas de sua geração, mesmo depois do término da Depressão. Eu tinha muita vontade de saber como meus pais haviam orado durante aquele período e como haviam se libertado dos sentimentos dominantes na época.
Eles então me contaram que meu pai havia perdido o emprego de vendedor de equipamentos industriais. Ele era o funcionário menos graduado no escritório, por isso foi o primeiro a ser despedido. Ele me disse que havia um sentimento generalizado de medo naquele tempo. Era como se o desemprego fosse uma enorme onda que inevitavelmente o pegaria, mais cedo ou mais tarde. Naturalmente, no caso de meu pai, isso aconteceu.
É claro que eu estava interessada em saber o que acontecera depois. Meu pai me disse que foi exatamente nessa época que ele e minha mãe se interessaram pela Ciência Cristã. Toda a família ficara sabendo que minha tia Edite, a irmã mais nova de minha mãe, havia sido curada pela Ciência Cristã de um grave problema asmático, que a afligira durante muitos anos. Ela havia sido curada praticamente da noite para o dia, e isso impressionou bastante todos os membros da família.
Assim, quando meu pai perdeu o emprego, ele ponderou que, se a Ciência Cristã havia operado maravilhas em sua cunhada, talvez funcionasse para ele também, ajudando-o a encontrar um trabalho, ainda que ele nada soubesse sobre essa religião. Decidiu então entrar em contato com um praticista da Ciência Cristã — uma pessoa que se dispõe a orar para outra pessoa que esteja enfrentando uma dificuldade de qualquer natureza. Podia ser um problema físico, como o de minha tia Edite, de desemprego, como era o caso de meu pai, ou ainda um problema de relacionamento ou de vícios a serem abandonados. Seja qual for o problema, o objetivo da oração é a cura, que é alcançado quando a pessoa se aproxima mais de Deus, aprendendo a conhecê-Lo e a confiar nEle.
Meu pai comentou que, no seu caso, o trabalho da praticista estava nitidamente marcado, pois, embora ele tivesse tido uma educação cristã, não pisava em uma igreja havia muitos anos. Francamente, ele também não pensava muito em Deus, fazia bastante tempo. Assim, depois de sua primeira visita à praticista, ele decidiu que a melhor maneira de começar a conhecer a Deus era ler a Bíblia desde o começo.
O primeiro capítulo do Gênesis nos diz que Deus fez todas as coisas, o céu, a terra e tudo o que há nela, e que tudo era muito bom. Diz também que o homem é feito à imagem de Deus, segundo Sua semelhança, e que Deus deu ao homem domínio sobre tudo: sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre toda a terra.
Aquele novo conceito, aquela descrição da criação, eram um grande desafio para meu pai. Tudo era totalmente diferente daquilo que ele sabia. Não parecia ter relação alguma com a vida neste planeta! Para ele, nada era muito bom. As pessoas que ele conhecia, inclusive ele mesmo, não pareciam ser a imagem e semelhança de Deus. O que realmente o incomodava (em realidade, ele dizia que o irritava) era a afirmação de que Deus dera domínio ao homem.
Perguntei a ele: “O que é que o irritava tanto?” Ele respondeu: “Bem, domínio implica controle ou autoridade, e eu achava que não tinha controle sobre coisa alguma. Eu não conseguia encontrar emprego, não conseguia pagar minhas contas. Aquilo mais parecia uma brincadeira. Onde é que estava todo aquele domínio?”
Quando ele comentou isso com a praticista, ela lhe perguntou onde ele achava que o domínio se originava.
“Bem, segundo a Bíblia, ele vem de Deus.”
“E a quem Deus dá o domínio?”
“Ao homem. Ele dá o domínio ao homem.”
“A que homem?”
“A que homem? O que você está querendo dizer com isso? Existe apenas um homem.”
“Você leu o segundo capítulo do Gênesis?”
Ele respondeu: “É claro que eu sei aquela história sobre Adão e Eva.” A praticista então lhe disse: “Adão é uma espécie muito diferente de homem; ele não é nada parecido ao homem mencionado no 1° capítulo, não é? O homem que aparece no primeiro capítulo do Gênesis vem do alto, da luz, do bem, do Espírito e do Amor. Ele é descrito como sendo a imagem e semelhança de seu Criador, Deus. Esse é o homem a quem foi dado o domínio.
“Do outro lado, temos Adão. Ele vem de baixo, das trevas e da névoa. Ele é mortal, material, feito da terra. Ao invés de receber domínio, esse homem é condenado a lavrar a terra. A cultivar sempre o mesmo solo.”
A praticista observou que esse era um conceito muito atualizado sobre o homem. Não é mesmo? Em realidade, a alegoria de Adão e Eva me parece muito contemporânea hoje! Esse homem está sujeito a toda espécie de coisas sobre as quais ele não tem controle: probabilidade e sorte, ambiente e hereditariedade, e mesmo ciclos econômicos!
A praticista estava tentando fazer meu pai entender que os dois relatos do Gênesis sobre a criação são realmente representações inspiradas de duas concepções do homem, totalmente diferentes: opostas e irreconciliáveis, uma espiritual e a outra material. Ela então lhe disse em termos bem simples: “Veja, você pode escolher: pode continuar pensando, como tem feito até agora, que você é um mortal desamparado, tolhido por um período de depressão, ou pode começar a pensar corretamente que você é um filho de Deus, Sua imagem e semelhança.”
Ela também disse que essa decisão certamente determinaria sua experiência de vida, pois uma pessoa não pode simplesmente reconhecer-se como imagem e semelhança de Deus — amada, cuidada, suprida — e ao mesmo tempo continuar enxergando-se como um mortal desanimado, inadequado e desempregado.
Bem, como meu pai mesmo admitiu, ele estava começando a entender a mensagem que ela estava querendo transmitir-lhe! Mas parecia uma idéia tão radical! Ele teria preferido conceitos mais flexíveis, algo menos rígido. Papai comentou que se fosse outro momento, teria ficado tentado a discutir o assunto, mas estava tão desesperado que, enxergar essa opção, perceber que havia uma escolha, era como se jogassem uma corda para alguém que estivesse se afogando. A pessoa não começaria a reclamar por terem jogado apenas uma corda; simplesmente a agarraria!
E foi exatamente isso o que ele fez: ele agarrou-se à sua escolha. A princípio, ele teve de agarrar-se desesperadamente à sua decisão, para continuar a viver. Isso exigiu muita disciplina de sua parte. Foi como dar uma guinada de 180 graus em seu conceito sobre Deus e o homem.
Logicamente isso não acontece da noite para o dia. Quanto à salvação (e é sobre isso realmente que estamos falando aqui, não é?), ela também não é conseguida de uma hora para a outra.
Meu pai estava começando a aprender mais sobre o homem como filho de Deus, sobre a natureza espiritual do homem, e sobre como expressamos essa natureza em nossa vida diária. Esse aprendizado estava vindo com o estudo da Bíblia e de Ciência e Saúde. Ele então decidiu estudar o Novo Testamento, em especial os quatro evangelhos. Ele acreditava que a melhor maneira de compreender a identidade ou filiação espiritual do homem seria estudar a vida de Cristo Jesus porque, afinal de contas, Jesus era filho de Deus, não um filho, mas Filho. Ele era Filho de Deus de uma forma única e particular. Em realidade ele é “o caminho”. Em outras palavras, poderíamos dizer que você e eu vislumbramos o homem que o primeiro capítulo do Gênesis descreve, o homem ideal, o Cristo, por meio da vida terrena de nosso Salvador.
Como disse, meu pai estava lendo também Ciência e Saúde, o livro que mencionei anteriormente. Nesse livro a Sra. Eddy emprega um termo muito útil para descrever esse conceito de homem como imagem de Deus, e esse termo é reflexo. Quer dizer que, como imagem de Deus, o homem é criado para refletir a Deus, não fisicamente, é claro, porque Deus não é físico, Deus é Espírito. Por isso, refletimos a Deus espiritualmente, mentalmente. Nosso propósito, como Seus filhos, é refletir em nossa vida o que Deus é: bondade, amor, compaixão, benignidade.
Quando refletimos essas qualidades em nossa vida — qualidades que incluem criatividade, espontaneidade, percepção, perspicácia, compreensão — então essas qualidades nos dão domínio sobre aquilo que não vem de Deus, como carência, medo, ansiedade, doença, depressão, tédio, confusão. A Sra. Eddy escreve: “O homem, feito à semelhança de Deus, possui e reflete o domínio de Deus sobre toda a terra.” Ibidem, p. 516.
Jesus não nos mostrou exatamente isso? Ele disse que não poderia fazer nada por si mesmo, mas somente aquilo que visse o Pai fazer. A completa obediência de Jesus à vontade de seu Pai, sua doce humildade e seu reflexo da bondade de Deus e de Seu amor foram expressos na vida de Jesus como poder e autoridade — como domínio. Quando lemos os Evangelhos, vemos claramente que Jesus volvia-se a Deus para que fossem satisfeitas todas as suas necessidades, bem como as necessidades de seu próximo.
Isso é o que meu pai começou a entender. Ele precisava reivindicar sua própria filiação, vivenciar essas qualidades, refleti-las em sua vida. Ele contou que, uma vez compreendido esse ponto, nunca mais ficou desocupado, para o resto da vida.
O primeiro resultado dessa atividade espiritual foi que ofereceram a meu pai um emprego como motorista de caminhão. E então, cerca de quatro ou cinco meses mais tarde, ele recebeu uma carta totalmente inesperada de um homem que morava em outro estado. Ele dizia que era gerente da filial de uma empresa internacional, e de uma maneira indireta e incomum havia ouvido falar de meu pai. Ele tinha ouvido dizer que meu pai era um excelente vendedor, o que era verdade.
A conclusão foi que ofereceram a meu pai um emprego em uma empresa onde ele permaneceu por todo o resto de sua vida profissional.
Outro fator importante é que, durante o período em que durou a Depressão, meus pais foram capazes não só de alimentar os muitos estranhos que vinham ter à sua porta, mas também de proporcionar apoio financeiro substancial a diversos membros da família que estavam passando necessidade.
Há um trecho de Paulo na Bíblia que, a meu ver, resume a experiência de nossa família: “Ora, aquele que fornece semente para a sementeira e pão para alimento, suprirá a semente para vós plantardes; ele multiplicará a vossa sementeira e aumentará a colheita da vossa benevolência, e vós tereis sempre riqueza suficiente para serdes generosos.” 2 Cor. 9:10 [conforme a versão The New English Bible].
Parece-me que a experiência de meus pais é um exemplo maravilhoso do fato de que, embora as circunstâncias mudem com freqüência, Deus é imutável. Por isso, se você está com Deus, com a Verdade, fique firme, Deus sempre cuidará de você.
Poderíamos usar o exemplo de uma pessoa em pé na praia. Se você vai à praia e fica em pé na areia, na água rasa, você descobrirá que, depois de algumas ondas você terá de mudar de lugar, pois a areia terá desaparecido debaixo de seus pés. Mas se você vai para a praia e coloca-se sobre uma rocha, aquelas mesmas ondas podem vir molhar o seu pé, mas você não terá de mudar de lugar, não terá de ir para outro local. Nesse sentido, você tem domínio sobre as ondas.
Dessa forma, a decisão fundamental que todos temos de tomar não é como reagiremos às ondas, às circunstâncias, mas sim, onde nos acomodar. Sobre a rocha ou sobre a areia?
Permitam-me falar sobre a Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy. Qualquer pessoa que conheça algo da vida da Sra. Eddy sabe que, por muitas décadas, sua experiência apresentou muito pouco de domínio e muito de privações. Em realidade, nos primeiros anos após a descoberta da Ciência Cristã, ela continuou a viver em circunstâncias difíceis, mudando-se de uma pensão para outra. Mas durante aqueles primeiros anos após sua descoberta, seu pensamento estava passando por uma mudança radical — uma mudança radical de base da matéria para o Espírito. Ela estava tirando o pé da areia e colocando-o sobre a rocha, reconhecendo o Espírito como a fonte e condição de todo ser.
Como resultado de sua decisão de colocar a Deus em primeiro lugar, de sua compreensão crescente da presença e do poder de Deus, Mary Baker Eddy pôde curar outras pessoas com suas orações. Isso lhe serviu como prova de que o domínio espiritual revelado e refletido na vida de Jesus pode se manifestar hoje em dia. O Amor divino não é história: é um evento atual!
À medida que a compreensão da Sra. Eddy sobre a universalidade do amor de Deus aumentava, sua vida pessoal melhorava. Isso não é realmente de surpreender. A provisão de Deus é todo-abrangente; o mesmo Amor que cura a doença também suprirá nossas necessidades diárias — de moradia, vestuário e alimentação.
E tudo isso é a conseqüência inevitável da decisão de colocar a Deus em primeiro lugar. Não é isso exatamente o que Jesus nos diz no Sermão do Monte? “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33.
Quando Cristo Jesus alimentou a multidão com alguns poucos pães e peixes, ele demonstrou que a infinidade da bondade de Deus está exatamente aqui. Então o que é que poderia tentar impedir que você e eu recebêssemos o bem imediato e abundante de nosso Pai? Lembram-se de meu pai? Inicialmente seu compromisso com Deus, o Espírito, era apenas experimental. Ele queria deixar um pé sobre a areia! Quando ele se dispôs a ser “radical”, a colocar os dois pés sobre a rocha, começou a sentir o domínio que temos como filhos de Deus.
