Conheci A Ciência Cristã quando era adolescente e estava de férias em uma ilha distante. O casal que me havia convidado tinha quatro belas filhas, e uma delas perguntou se eu gostaria de sentar-me à sombra das árvores, perto da praia, para ouvir a leitura que a família iria fazer da Lição-Sermão semanal, cujo título era “Verdade”. Seriam lidos trechos da Bíblia e do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, de Mary Baker Eddy. Eu não fazia a mínima idéia do que seria isso, mas não tive como recusar o convite.
Alguns meses depois, comecei a trabalhar como estagiário em engenharia. Nessa época comprei uma motocicleta usada e comecei a freqüentar a Escola Dominical da Ciência Cristã. Eu era um aluno muito animado. Nessa época eu não tentava aplicar o que aprendia, mas sem dúvida estava muito entusiasmado com os novos ensinamentos.
Como a moto precisava de alguns reparos, consegui permissão do meu chefe para consertá-la na oficina da empresa, após o expediente. Despendi muitas horas em fins-de-semana e de madrugada, trabalhando na moto. Eu estava gostando muito daquele trabalho. Eu já tinha tido umas motos antigas e ultrapassadas. Mas essa era um modelo bem mais moderno e possante. Enquanto eu trabalhava madrugada adentro, a vontade de dirigi-la e mostrá-la aos meus amigos me estimulava.
Eu pretendia terminar o conserto da moto antes das minhas férias e, para conseguir isso, tinha de trabalhar na motocicleta algumas noites até às três horas da madrugada, empurrá-la até minha casa que ficava a aproximadamente três quilômetros, dormir até às seis e meia da manhã, estudar uma parte da Lição-Sermão do Livrete Trimestral da Ciência Cristã e chegar ao serviço às sete e quarenta e cinco.
O momento culminante dessa experiência aconteceu numa sexta-feira à noite. No sábado começariam minhas férias. Por volta das duas e meia da madrugada, só faltava montar a tampa da caixa de câmbio e dar uma pincelada de tinta em uma parte que, por descuido, eu havia riscado. Eu estava muito cansado, mas também muito ansioso para ver terminadas aquelas semanas de tanto esforço e dedicação.
Quando fui colocar a tampa na caixa de câmbio entrei em pânico, pois descobri que estava faltando uma peça de empuxo. Desesperado, procurei em todos os lugares, coloquei todas as coisas de cabeça para baixo para tentar encontrá-la. Porém, foi tudo em vão: a peça havia desaparecido.
Não havia nada mais a fazer. Eu não tinha idéia das dimensões da peça e, por ser ela bastante complexa, eu não conseguiria fazer uma igual. Para comprar outra semelhante de um revendedor, eu teria de viajar mais ou menos 560 quilômetros e, levando em consideração a proximidade das minhas férias, não valia a pena nem pensar a respeito.
Querem saber o que eu fiz? Sentei-me no chão e comecei a chorar. As lágrimas rolavam pelo meu rosto — lágrimas de desapontamento, de raiva, de frustração e, creio eu, de cansaço.
Após algum tempo, uns dez minutos talvez, tive de repente o seguinte pensamento: “Se essa Ciência Cristã que você está aprendendo afirma que a oração pode superar qualquer problema, por que não tentar usar agora algumas coisas que você aprendeu para acabar com essa angústia?”
Era um desafio, pois até então eu simplesmente ficava muito satisfeito com o que estava aprendendo. Era muito bom ter a esperança de que tudo o que eu ouvia era verdade. Era bom ter fé e a confiança de que tudo aquilo era verdade. Eu também gostava muito de sentir o amor, a confiança e a fé que todos os estudantes de Ciência Cristã que eu conhecia expressavam. Entretanto, até aquele momento, eu mesmo ainda não tinha precisado colocar esses ensinamentos em prática. Era um momento crítico para mim!
Sozinho, angustiado e sentado no chão de concreto, comecei a pensar, de uma maneira bem simples, nas histórias da Bíblia. Pelo menos eu não estava sentado numa cova de leões, orando para não ser devorado.
Embora meus pensamentos estivessem desordenados, comecei a ponderar o seguinte: Já li no evangelho de João que “todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” João 1:3. “Então Deus”, — eu disse em voz alta — “se você fez todas as coisas, isso inclui a mim, a minha motocicleta e também àquela peça! Além disso, aposto que, quando você estava criando o universo e foi pegar a lua para colocá-la no seu lugar, com certeza não a havia guardado em lugar errado!”
Na verdade, comecei a rir ao imaginar Deus procurando uma lua perdida que ele havia planejado colocar ao lado da terra! Raciocinei que, se eu era realmente a imagem e semelhança de Deus, se Deus não poderia ter perdido a lua quando precisava dela, conseqüentemente eu não poderia perder a minha peça quando estivesse necessitando dela. É claro que aprendemos na Ciência Cristã que Deus é Espírito infinito e que a matéria nunca faz parte da Sua criação. Porém, minha simplicidade em reconhecer o grande cuidado que Deus tem por tudo o que é bom foi como uma luz para mim. Levantei-me do chão, não mais angustiado, mas preparado para humildemente sair de férias sem minha moto. Estava satisfeito com o fato de um Deus inteligente ter todas as coisas sob Seu controle.
Eram aproximadamente três horas da madrugada, mas resolvi ainda fazer o pequeno serviço de pintura que faltava. Depois de fazê-lo, fui lavar as mãos para, em seguida, levar a moto para casa. Ao passar pela porta principal da oficina, a caminho do lavatório, ouvi um barulho enorme do lado de fora da porta. Alguém estava batendo com toda a força.
Abri a porta e deparei-me com o encarregado da empresa, que, ao ver-me, disse: “Richard, pelo amor de Deus, vá para casa. Já é muito tarde e trabalhando assim você não vai estar em forma para suas férias!” Como sabia que eu estava trabalhando na minha moto, ele acrescentou: “Como está a moto? Você já deveria ter terminado o trabalho.”
“Sabe,” respondi, “não consigo terminar porque perdi uma....” Antes de poder dizer-lhe o que era, ele me interrompeu dizendo: “Não é uma peça de empuxo, é? Porque se for, eu a peguei do lado de fora da oficina há dois dias e ela está em casa no bolso do meu avental.”
Você pode imaginar meus pensamentos naquele momento? Na verdade, me senti dando saltos de seis metros de altura, gritando mil aleluias para mim mesmo e muito surpreso diante de tudo o que havia ocorrido. Mas aquele “anjo visitante” ainda tinha algumas outras coisas a dizer. Ele continuou: “Não sei por que passei pela oficina agora. Fui a uma festa fora da cidade e devo ter pego o retorno errado, pois acabei percorrendo treze quilômetros a mais do que se tivesse pego o caminho correto. Venha Richard, vamos para minha casa, pegar a peça e eu o trago de volta.”
Em realidade, eu não vi uma sarça ardente, como Moisés, nem perdi a visão, como Paulo, mas a revelação que tive foi de certa forma a mesma. A realidade da Verdade me foi revelada de forma tão palpável e enfática nesse despertar espiritual, que se tornou “a rocha” na qual a minha vida está edificada.
