Os Meus Amigos e eu adorávamos fazer caminhadas e escalar as colinas de nossa vizinhança, sempre que podíamos. Lembro-me de como subíamos vigorosamente nas rochas escarpadas. No entanto, numa dessas excursões, minha confiança foi abalada.
Após trepar o cimo de uma rocha bem grande, preparei-me para saltar para outra ao lado. O espaço entre as duas era suficientemente estreito, aí uns quatro palmos, parecia simples. O que eu não previra, contudo, foi aterrizar numa parte arenosa da rocha, que logo cedeu. Sem uma ponta onde me agarrar, comecei a escorregar pela rocha abaixo e, por um momento, pensei que fosse o meu fim. De repente, espantado, senti meus pés tocarem o chão. Embora não o tivesse percebido à primeira vista, as duas rochas estavam unidas escassos palmos abaixo do local onde saltara.
É difícil descrever a combinação de surpresa e grande alívio que senti, quando percebi que eu não estava em perigo. Recordo esse breve instante com admiração, por ver quão rápida e profundamente nossa percepção, ou falta dela, nos pode afetar. Esse incidente na rocha me causou um enorme susto, até que me apercebi que estava em chão seguro.
Quando à nossa volta verificamos a quantidade imensa de problemas por resolver, alguns deles avassaladores, pode parecer que existimos em tempos que vão de mal a pior, que vivemos com pouca esperança de encontrar respostas. Não importa quanto queiramos acreditar que Deus governa — que existe um Princípio divino sustentador operando universalmente — podemos ser levados a pensar que Ele perdeu o poder que eventualmente tenha possuído.
Até as palavras de Cristo Jesus podem não ser encorajadoras. Ele disse a seus ouvintes: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das cousas que sobrevirão ao mundo”. E no entanto, parar aí a leitura oculta aquela que é, no meu entender, a parte mais importante da sua mensagem. Ele prossegue: “Ora, ao começarem estas cousas a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima.” Lucas 21:25, 26, 28. Ele não disse que a vossa destruição se aproximava, embora inicialmente assim parecesse.
Olhando as coisas de um ponto de vista mais elevado, vendo os acontecimentos que nos rodeiam à luz da Ciência Cristã, aprendemos que a aparência de tumulto pode indicar o cumprimento da lei de Deus, não a sua ausência, operando nos assuntos humanos. Como aprendemos na Ciência, o efeito da lei divina na cena humana não é apenas limar as arestas, tornando a vida mais confortável em meio a um universo físico instável. Mary Baker Eddy compreendeu que se tratava de uma poderosa influência transformadora. Ela escreveu: “A desagregação das crenças materiais pode parecer fome e peste, carência e desgraça, pecado, doença e morte, que assumem novas fases até que sua nulidade apareça. Essas perturbações continuarão até o fim do erro, quando toda discórdia for absorvida pela Verdade espiritual.”Ciência e Saúde, p. 96.
Embora a perspectiva de perturbações materiais ocorrendo num período de tempo possa parecer inquietante, a Ciência dá-nos a visão espiritual tão necessária para estabilizar, curar e fazer-nos crescer espiritualmente nessas ocasiões. Revela a Deus, não como o criador ou zelador ausente de um universo material caótico e em desconjunção, ao qual suplicamos que ponha tudo de volta no lugar, mas sim como o divino e onipotente Princípio de toda a harmonia. Deus é Espírito, a suprema causa única, que é todo bom e cuja criação é totalmente espiritual.
Possuir uma perspectiva espiritual é reconhecer o bem que Deus dá a cada um de Seus filhos, a todos os indivíduos sem exceção. É possuir, com primazia em nossos afetos e objetivos, o senso espiritual que revela o universo, incluindo o homem, movendo-se em completo acordo com o bem, governado pela Verdade e pelo Amor. E é preciso só uma fração disso, mesmo a mais ínfima parcela de vislumbre da atividade universal e da supremacia de Deus, para mudar o modo de ver nosso mundo.
Cultivar a perspectiva espiritual não significa fechar os olhos a qualquer tipo de epidemia ou destruição materialmente visível. É subordinar o quadro material ao que nos é revelado espiritualmente da verdade do ser e ao que nós aprendemos da vontade de Deus, quando nos voltamos a Ele em oração.
Um amigo contou-me como sua perspectiva mudou como resultado da oração, quando teve de mudar-se para um bairro que ele sabia estar em mau estado. Para qualquer lado que olhasse, ele via casas mal cuidadas, poucos sinais de renovação e ainda mais escassos projetos de desenvolvimento. Agora ele fazia parte dessa comunidade.
Ele sabia que o mais fácil seria resignar-se a viver em meio a esse cenário desolador. Mas, ao orar, algo recorrente lhe dizia para olhar de novo, para ver o que não vira antes. Ele compreendeu que esse impulso era o Cristo, a influência curativa e redentora de Deus. O efeito que isso teve no meu amigo foi o de ajudá-lo a ver para além da superfície das coisas, para a presença e atividade do bem espiritual.
Ele descobriu que, em vez da decadência que sempre esperara ver, havia evidência de reparações, de reconstrução e de novo desenvolvimento. Depois de um breve período de tempo, cerca de dois ou três meses, ele ficou espantado com a transformação que ocorria em sua comunidade. As pessoas pensavam de maneira diferente acerca do bairro. Muitos prédios há muito negligenciados estavam sendo reparados ou dando lugar a novas edificações. Velhos padrões de pensamento estavam cedendo. Ele sentiu que isso era porque as pessoas por toda a parte, ele incluído, estavam a reagir gradualmente à influência redentora do Cristo.
A Ciência nos impele a persistentemente volver nossa atenção sobre condições materiais instáveis e mutáveis para uma visão mais verdadeira e espiritual, para o que Deus cria e expressa. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras a Sra. Eddy diz: “A causalidade espiritual é a única questão a considerar, pois mais do que todas as outras, a causalidade espiritual está relacionada com o progresso humano.” Ibidem, p. 170. É dessa forma que aprendemos o que está realmente a acontecer nestes tempos de mudança. É assim que removemos o medo e a incerteza, que resultam das conclusões materiais, e vemos com mais clareza a mão de Deus operando na vida humana.
