Em todas as partes do mundo os programas em ondas curtas do O Arauto da Ciência Cristã chegam a um grande público. Achamos que os leitores que não tenham tido a possibilidade de ouvir essas transmissões gostariam de ler, de vez em quando, algo desses programas radiofônicos.
O domingo da Páscoa é uma data importante, precedida por dias em que vários episódios bíblicos são rememorados e celebrados. Atualmente, muita gente aproveita esses feriados para descansar, ir à praia ou fazer um passeio pelo campo. Mas outros celebram a Semana Santa com espírito religioso e profundo, e com razão, pois trata-se de um momento importante para todas as culturas que lêem a Bíblia. Primeiramente, a Páscoa marca o início do Êxodo, isto é, a libertação do povo hebreu, depois de um longo período de cativeiro no Egito. A ressurreição de Cristo Jesus se deu durante os festejos da Páscoa, mostrando como ele se libertou dos grilhões dos sentidos materiais e encontrou a vida imorredoura.
Numa entrevista radiofônica do O Arauto da Ciência Cristã, entrevistou de São Paulo, e falaram sobre as comemorações da Semana Santa e da Páscoa. Reproduzimos aqui alguns trechos desse programa.
Heloísa Rivas — Hoje em dia muita gente já não encara a Semana Santa como dias de oração e recolhimento espiritual, mas sim como simples feriados. Mas esses dias têm muita importância no relato bíblico. O que você poderia nos dizer, Orlando, sobre esse assunto?
Orlando Trentini — A ressurreição foi o ponto culminante da carreira e da obra de Cristo Jesus, e depois dela houve a ascensão, quando ele se elevou acima da percepção dos sentidos materiais. No Evangelho de João, o próprio Jesus define claramente sua missão: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida." João 14:6. Mas antes disso, ele teve de tomar sobre si a cruz, aceitá-la e carregá-la. O conceito comum sobre a cruz é de que ela implica sacrifício, sofrimento, aflição, infortúnio, trabalho sem recompensa.
Heloísa — Mas muitas vezes os quadros apresentados pelas comemorações da Semana Santa se sobrepõem ao sentido jubiloso da Páscoa, evocando os eventos da crucificação e do sofrimento de Jesus.
Orlando — Exatamente. Para os cristãos a cruz é um símbolo de redenção, de salvação. A cruz representa a Paixão e a morte de Jesus, o sofrimento pelo qual ele passou. A cruz tem o efeito de impressionar, condoer, e por isso ocupa um lugar importante nas comemorações que precedem a Páscoa.
Heloísa — Será justo que, ao relembrar a história do Mestre do cristianismo, o pensamento visualize principalmente a imagem de Jesus crucificado?
Orlando — Essa imagem é geralmente aceita. Mas não devemos perder de vista o significado mais importante desse episódio, ou seja, a ressurreição. Quando comemoramos a Páscoa, não podemos esquecer os acontecimentos que se desenrolaram nesses dias, há quase dois mil anos, quando Jesus carregou a cruz e nela foi pregado, até expirar. Mas também temos de ver o que se seguiu, pois depois disso os discípulos de Jesus espalharam aos quatro cantos do mundo a verdade de que Jesus não permaneceu pregado no madeiro maldito, mas de lá foi retirado, e depois ressuscitou.
Heloísa — Então esse é o ponto mais importante? Ou seja, o que veio depois da crucificação, isto é, a ressurreição?
Orlando — É vital, para a humanidade, reconhecer que ele ressuscitou. Ele triunfou sobre o sofrimento, a pena, a aflição. Ele saiu do túmulo estreito e lúgubre.
Heloísa — É preciso celebrar com alegria, com júbilo, essa grande vitória! É preciso ver a elevação espiritual que essa experiência revela, a vitória final sobre a morte. O Cristo, que Jesus manifestou, está agora, hoje, ao alcance daquele que o busca, ao alcance da consciência humana.
Orlando — Antes da crucificação, parecia que os discípulos não haviam entendido o imenso alcance dos ensinamentos e das curas realizadas por Cristo Jesus. Pela ressurreição, eles perceberam, eles viram a confirmação de que os ensinamentos de seu Mestre estavam baseados em leis espirituais. Por exemplo, aquela mulher que havia sido pecadora foi, arrependida, procurar o corpo de Jesus, esperando encontrá-lo morto, como o havia visto na cruz. Mas em vez disso, ela o encontrou ressuscitado. É assim que todo cristão deve buscar a Cristo Jesus, não no sofrimento e na tristeza, não mais pendurado na cruz, mas na plena glória de Deus.
Heloísa — No evangelho de Lucas lemos estas palavras de Jesus: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me." Lucas 9:23. O que quer dizer "tomar a cruz"? Significa que é necessário experimentar sofrimento?
Orlando — Esse negar-se a si mesmo indica a necessidade de renunciar aos sentimentos de vaidade, ciúmes, inveja, ódio, orgulho, etc. Segui-lo não é só um ato de fé, mas também de crescimento espiritual. Cristo Jesus não exigiu que sofrêssemos.
Heloísa — Esse foi o grande amor que ele teve para com o mundo, um amor que nos faz aprender, crescer e corrigir-nos.
Orlando — Não é necessário passarmos por sofrimento físico para descobrir que a vida é eterna. Jesus já o fez, e no-lo revelou. A vida diária de Jesus não consistia de sofrimento, mas sim de pleno amor, incluindo as afeições que tinham um alcance todo abrangente. Ele viveu e ensinou o amor espiritual, que traz à luz a união inerente entre Deus e o homem.
Heloísa — A Sra. Eddy o explica muito bem em Ciência e Saúde: "Jesus de Nazaré ensinou e demonstrou a união do homem com o Pai, e por isso lhe devemos homenagem eterna. Sua missão foi tanto individual como coletiva." Ciência e Saúde, p. 18.
Orlando — Foi graças ao seu amor totalmente altruísta que Jesus triunfou sobre a perseguição e o ódio A ordem que ele deu, de tomarmos a cruz e segui-lo, significa tomar por base esse amor espiritual, que permite o ministério de cura.
Heloísa — E na Ciência Cristã aprendemos a continuar a realização desse trabalho de cura, trazendo soluções aos problemas humanos dos dias de hoje.
Orlando — Isso começa no fundo do coração de cada um, com a cura de tudo aquilo que se pode corrigir em nossos próprios pensamentos. Esse tipo de cura inclui melhora na saúde, no relacionamento com terceiros, nos negócios e na comunidade como um todo.
Heloísa — Então o que rememoramos na Semana Santa e na Páscoa nos serve de lição, uma lição de que o Amor triunfa sobre o mal, a Vida sobre a morte.
Orlando — Sem dúvida, seguir o Mestre é motivo de alegria, traz a expectativa de felicidade e bem-estar, de uma forma de amor que se pode pôr em prática e que traz cura aos necessitados. Compreender que Jesus saiu da cruz há muito tempo, ressuscitou e ascendeu é a verdadeira comemoração da Páscoa.
Heloísa — E não pode ser de outro jeito, pois, afinal de contas, já faz quase dois mil anos que sabemos que Cristo Jesus ressuscitou!
