Certa Vez, eu comentei com outro membro de minha igreja como era pequena nossa igreja filial, pois éramos cinco membros. Antes mesmo que eu acabasse de falar, ela retrucou: "Nós não temos uma igreja pequena!" E esse foi o fim da conversa.
Aquela reprovação incisiva atingiu o alvo. Em realidade, não tínhamos mesmo uma igreja pequena. Nossa congregação era dedicada, cheia de amor e gratidão a Deus. A cura cristã estava acontecendo continuamente. Não havia nenhuma sensação de sobrecarga em nosso trabalho. Nós todos gostávamos de trabalhar uns com os outros. Nossa atividade era uma gratificante experiência de crescimento para todos. Não nos faltava nada.
A igreja não é uma simples estrutura física ou um registro do número de membros, mantido para ser visto por todos. Concebida espiritualmente, a igreja é uma idéia divina que expressa o poder e a presença de Deus e foge a qualquer medição humana possível. Discorrer sobre o tamanho da igreja, pensando nela em termos materiais, finitos, é como tentar definir as dimensões da vida, que é eterna. A vida real, sendo o efeito de Deus, a Vida divina, não tem nem começo nem fim; nem altos, nem baixos; não tem aqui ou ali. A Vida está em toda parte, através da criação infinita de Deus, e é sempre boa. Da mesma maneira, a igreja não tem começo, nem fim, nem altos, nem baixos. Não pertence ao mundo, mas ao Espírito e, assim, frustra, para sempre, qualquer tentativa de ser quantificada da maneira como o mundo o faz.
Manter no pensamento a verdadeira natureza da Igreja como idéia espiritual, eleva o nosso conceito a respeito dessa instituição humana. Vemos, por exemplo, que um número grande de membros não significa necessariamente que mais trabalho bom esteja sendo feito. É a cura espiritual genuína o que realmente traz benefícios à raça humana. Poderíamos nos perguntar: "Onde há maior probabilidade de se encontrar progresso espiritual e liberdade: por entre fileiras de cinco milhões de pessoas convictas de que a vida esteja na matéria e dela provenha, ou junto a um único sanador cristão ativo e alerta, que compreende estarem a vida e a saúde eternamente presentes em Deus, o Espírito?"
O trabalho eficaz numa igreja começa com Deus, não com uma ou mais pessoas. Na Bíblia, Gideão e seu bando de homens provaram quão importante é confiar em Deus, em vez de no número de pessoas, para conseguir um grande feito. Ver Juízes, capítulos 6 a 8. O povo de Gideão estava prestes a ser dominado e eliminado pelas forças do inimigo. Os adversários haviam chegado em tão grande número, que a Bíblia os descreve como gafanhotos. Também seus camelos eram inumeráveis "como a areia que há na praia do mar". Para ir à luta, Gideão tinha à sua disposição trinta e dois mil homens. Mediante instrução divina, porém, foi induzido a reduzir aquele número praticamente a um punhado de bravos. A Bíblia registra as palavras pronunciadas pelo Senhor: "É demais o povo que está contigo, para eu entregar os midianitas nas suas mãos; Israel poderia se gloriar contra mim, dizendo: A minha própria mão me livrou." Com trezentos homens e com a convicção de que a sabedoria e o poder necessários para vencer a batalha provinham de Deus, Gideão frustrou os planos dos inimigos, de dominarem sua nação.
Essa ilustração não deve nos levar a concluir que precisamos de pouca gente para conseguir realizar um grande trabalho. Ressalta, porém, o fato de que um bom desempenho é o resultado de seguir a orientação de Deus e independe da quantidade de simpatizantes que temos ao nosso redor.
A idéia espiritual, a Igreja, não é uma pequena idéia; é uma idéia grandiosa. Aliás, ela é nada menos que infinita. A mente humana, com o seu sentido material das coisas, tem a tendência de interpretar essa idéia de maneiras limitadas, algumas mais mundanas que outras. A sutileza arquitetônica e a abundância de fundos constróem um edifício elaborado e anunciam ao mundo: "Esta é uma igreja!" Um nativo solitário, caminhando pela Cordilheira dos Andes, finca um toco no chão, abre sua Bíblia para ler e proclama: "Esta é uma Igreja!" O importante é lembrar que, independentemente do que a mente humana declara a respeito da igreja, a Igreja é muito mais do que algo mundano. Não é simplesmente uma coisa, mas sim uma força celestial para o bem, atuando na mente e no coração de todos aqueles que amam a Deus verdadeiramente.
À medida que cresce o amor que uma pessoa tem por Deus, essa força celestial para o bem é sentida intimamente. Ela nos estimula a efetuar boas obras. Traz-nos paz e cura. Sentimos o consolo de Deus. As coisas mundanas já não nos atraem. Objectivos e ambições puramente pessoais se desvanecem. Um desejo profundo de saber mais a respeito de Deus e de Seu amor todo-abrangente retém nossa atenção. Há maior número de curas. Compartilhamos com outros o que aprendemos sobre Deus. Essas pessoas obtêm curas, querem saber mais. É a Igreja operando sua maravilha.
Multidões de adoradores, edifício atraente, o respeito do mundo e assim por diante, tudo isso é irrelevante e inconseqüente para a adoração sagrada. O que nos leva a ter uma experiência significativa na igreja é o pendor de nosso pensamento. À medida que cada elemento dessemelhante do Cristo, pertencente à mente carnal, for sendo eliminado da consciência através das qualidades puras do Amor divino, na mesma proporção estaremos demonstrando nossa unidade com a Igreja verdadeira.
A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: "Nossa igreja está construída sobre o Princípio divino, o Amor. Só nos podemos unir a essa igreja à medida que nascemos de novo do Espírito e alcançamos a Vida que é a Verdade e a Verdade que é a Vida, produzindo os frutos do Amor — expulsando o erro e curando os doentes." Ciência e Saúde, p. 35. A igreja não é uma atividade secular que, para funcionar, precisa ser estimulada, promovida ou impulsionada, dependendo de como está sendo recebida pelas massas. Não é um modismo, um fenômeno temporal, algo que vem e vai de acordo com o apoio popular. É um ideal divino ao qual devemos nos adequar. Quanto mais procurarmos viver nossa vida em fiel conformidade com o exemplo de nosso Mestre, "expulsando o erro e curando os doentes," tanto mais próximos nos sentiremos da Igreja e tanto mais fácil será para nós abranger o nosso próximo através das atividades da igreja.
Há já alguns anos, uma desconhecida pediu-me ajuda pela Ciência Cristã. Havia mais de trinta anos que ela não freqüentava igreja alguma com regularidade. Ela encontrava grande consolo nos ensinamentos da Ciência Cristã e desejava aprender mais. Durante alguns meses, falamos a respeito de Deus, de Seu grande amor por todos e do poder sanador que emana do conhecimento desse amor. Ela não estava em busca de cura física, mas apenas queria aumentar sua própria compreensão a respeito do que a Ciência Cristã ensina sobre nosso Pai-Mãe.
Convidei-a para vir à igreja. Ela não demonstrou muito interesse, pelo menos não de início; eu, porém, confiei o resultado a Deus e, depois de três meses, ela efetivamente compareceu. Continuou a freqüentar e ela mesma convidou novatos para conferências e para os cultos. O espírito de alegria e desprendimento que ela trouxe à congregação abençoou a todos e se estendeu muito além das paredes de nossa sala de cultos.
Se achamos que nossa igreja é pequena, o que mais precisa de crescimento é a nossa compreensão de como expressar de maneira mais ativa as qualidades da Igreja em nossa vida diária. Podemos ver uma igreja ativa e saudável em qualidades espirituais tais como amor, alegria, paz, união, expressados livre e abundantemente. À medida que manifestamos esses sinais da presença de Deus em nossas atividades do dia-a-dia, outras pessoas são abençoadas e elas, por sua vez, expressam essas mesmas qualidades. O efeito visível do levedo do Amor divino é o aumento da atividade na igreja como organização.
A compreensão espiritual é o que faz prosperar nosso trabalho na igreja. A Mente divina é a fonte dessa compreensão, e qualquer membro da igreja, quer seja ele o único ou um entre mil, tem a capacidade de refletir essa compreensão. Um único membro alerta pode ter um discernimento espiritual que um milhão de pessoas talvez estejam ainda aguardando. Não há limite para a eficácia de uma idéia inspirada por Deus, em termos de curar outros e de ampliar o alcance da organização da igreja.
Consideremos a história do homem pobre, porém sábio, registrada no livro de Eclesiastes. Lemos: "Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens: veio contra ela um grande rei, sitiou-a e levantou contra ela grandes baluartes. Encontrou-se nela um homem pobre, porém sábio, que a livrou pela sua sabedoria." Ecles. 9:14, 15. Se os baluartes levantados pelo mundo, tais como ignorância, preconceito religioso e falta generalizada de interesse pelos assuntos espirituais parecerem comprometer a sobrevivência de uma igreja, não precisamos nos deixar intimidar por essa pretensão de poder, assim como o sábio homem pobre não se intimidou diante do grande potencial bélico do rei. A oposição à Igreja é apenas um simulacro de poder. Não provém de Deus. Somente aquilo que provém de Deus tem poder. Quando confiamos inteiramente nEle, em nosso trabalho para a igreja, não podemos deixar de incrementar o progresso de nossa igreja, Conquistaremos e venceremos toda e qualquer forma de oposição aos nossos firmes esforços.
Através de sua ressurreição, Cristo Jesus provou o triunfo inevitável do bem sobre todo o mal. Ele estava destinado a completar sua missão como Messias. Nem mesmo o túmulo pôde impedi-lo de lograr êxito em seu propósito. O mesmo acontece com a Igreja, porque não há intriga nem maquinação que possa impedi-la de cumprir sua missão. Nem mesmo a ameaça de morte pode retardar sua marcha para frente. Ela é apoiada e sustentada por Deus, protegida pelo Amor divino e fortalecida pela Verdade imortal. O mal não tem outra escolha senão ceder, à medida que essa Igreja prossegue na sua missão rumo ao céu.
Quando compreendemos que a Igreja é uma idéia espiritual e a aceitamos como tal, conseguimos o que se faz necessário para executar o trabalho que precisa ser feito. Não há limite para o bem que podemos realizar em nossa comunidade, bem como para o mundo em geral, em prol da cura e redenção da humanidade.
Uma cousa peço ao Senhor, e a buscarei:
que eu possa morar na Casa do Senhor
todos os dias da minha vida,
para contemplar a beleza do Senhor
e meditar no seu templo.
Salmos 27:4
