Recém Saído da universidade e sem ter nenhuma obrigação, naquele verão, exceto desenvolver as duas atividades que lhe eram mais caras: ganhar experiência como engenheiro de som e estudar Ciência Cristã. Era esse o caso de um amigo meu.
Ele havia se formado recentemente em engenharia de som e iria, no verão, trabalhar vinte horas semanais como estagiário, em um estúdio de gravação. Supunha que, com um horário tão leve, ele teria algumas horas por dia para ler e pesquisar a Bíblia e Ciência e Saúde, da Sra. Eddy. Durante a maior parte desse período, ele e a esposa tomariam conta da casa de um professor. Condições ideais para estudo e crescimento espiritual, ele pensou. Mas não foi isso que aconteceu. Dia após dia, ele entrava no escritório do professor para estudar, mas ao invés de receber a inspiração que esperava, ficava sonolento e acabava dormindo. O verão acabou e ele havia feito muito pouco progresso na compreensão sobre Deus e o homem.
Por que aconteceu isso, se ele tanto desejava que fosse diferente? Como ele enfim percebeu, a assim chamada mente carnal, ou mortal, que pretenderia se opor à onipotência da Mente única e divina, resiste aos nossos esforços para progredir espiritualmente e uma de suas principais armas é induzir à sonolência ou ao sono, quando o que mais queremos é orar ou estudar. Por ocasião do grande desafio de Cristo Jesus no jardim do Getsêmani, mesmo os discípulos em que ele mais confiava, Pedro, Tiago e João, caíram vítimas dessa hipnótica influência. Três vezes Jesus, que iria enfrentar a traição e a crucificação, encontrou-os dormindo, quando deveriam estar orando. Ver Marcos 14:32-42. A Ciência Cristã define de modo específico a oculta influência da mente mortal, que procura nos impedir de estar espiritualmente vigilantes: é o magnetismo animal, a crença errônea de que há mente na matéria e de que o mal é poder.
O magnetismo animal é a fonte de tudo o que dificulta o crescimento na prática da Ciência do Cristo. Jesus, porém, mostrou que o magnetismo animal não tem poder real. Ele sabia que o homem é, em realidade, o filho de Deus e vive, não na matéria, mas no Espírito, é a idéia da Mente única e infinita, total e eternamente livre da atração por qualquer tipo de distrações materiais. Pela ressurreição e subseqüente ascensão, Jesus comprovou que Deus é o único poder e que a matéria, ou o mal, não tem nenhuma partícula de autoridade.
Cada um de nós pode elevar-se até uma compreensão mais completa da supremacia de Deus e de nossa verdadeira natureza espiritual como filhos de Deus. Podemos entender de forma cada vez mais clara que a resistência do magnetismo animal ao progresso espiritual não passa de uma mentira que alega ser o nosso próprio pensamento e que, como ensinam tanto as Escrituras como Ciência e Saúde, nós temos, em verdade, a Mente de Cristo. O apóstolo Paulo apontou para esse fato e para a nossa capacidade, dada por Deus, de resistir ao mal, quando escreveu: "...embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo." 2 Cor. 10:3-5.
Sem dúvida, isso exige vigilância. Mas não há nada de difícil ou desnatural em seguir a instrução de Paulo. A resistência da assim chamada mente carnal não tem base nem substância real. Como nosso verdadeiro ser é a semelhança espiritual de Deus, é natural, para nós, ser obedientes a Deus e a Seu Cristo.
Uma das crenças carnais mais sutis, que necessita ser detectada e destruída, é que a inspiração deveria vir sempre sem esforço. Depois que o estágio de meu amigo terminou, ele confidenciou a um membro da família a frustração que sentira pelo fraco resultado de suas tentativas de estudar. Não querendo usar a vontade humana para empenhar-se, ele achava que uma grande inspiração deveria como que jorrar em seu pensamento e ele mergulharia nos livros. Isso nunca aconteceu, porque ele não havia estado em guarda contra a resistência da mente carnal. Não havia percebido que, quando insistimos no nosso direito divino de orar, estudar e vivenciar o crescimento espiritual, não estamos usando a vontade humana, mas destruindo-a; estamos nos disciplinando para ficar subordinados à vontade divina, à Verdade. (Ver Ciência e Saúde, p. 206)
A luta e o esforço tantas vezes necessários para render-se à vontade divina e, assim, vencer as tentativas enganosas do magnetismo animal, não é trabalho enfadonho, mas sim, enaltecedor e inspirativo. A conversa de meu amigo com o membro da família, que é praticista da Ciência Cristã, mostrou-lhe que é necessário algo mais do que simplesmente sentar-se em frente à Bíblia e Ciência e Saúde. Pode ser preciso um esforço perseverante e diligente para quebrar o fascínio da apatia da mente carnal ou a aversão pela Verdade e pelo conhecimento da Verdade. No início de Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreve: "Pedir simplesmente que possamos amar Deus nunca nos fará amá-Lo; mas o anseio por sermos melhores e mais santos, expresso na vigilância diária e no esforço de assimilar mais do caráter divino, há de nos moldar e formar de novo, até que despertemos na Sua semelhança." Ciência e Saúde, p. 4. Adiante, falando sobre o próprio livro Ciência e Saúde, ela diz: "Lede esse livro do começo ao fim. Estudai-o, ponderai-o. Será de fato doce ao primeiro sabor, quando vos curar; mas não murmureis contra a Verdade, se achardes amarga sua digestão. Quando vos aproximardes mais e mais desse Princípio divino, quando comerdes o corpo divino desse Princípio — participando assim da natureza, ou elementos primários da Verdade e do Amor — não vos surpreendais nem fiqueis descontentes por terdes de participar da taça de cicuta e comer as ervas amargas; porquanto foi assim que na ceia pascal os israelitas de outrora prefiguraram essa jornada perigosa que os tiraria da escravidão, e os conduziria para o El Dorado da fé e da esperança." Ibidem, p. 559.
Aquelas conversas com o membro da família foram decisivas na vida de meu amigo. Dali em diante ele encontrou alegria e inspiração no estudo. Seu progresso não mais foi obscurecido por um falso senso de humildade, que o levava a pensar que tudo o que tinha a fazer, para ter inspiração, era sentar diante dos livros e esperar. Ele levou a peito a necessidade de se empenhar por obter inspiração e seu progresso foi rápido. Dentro de dois anos ele se comprometeu consigo mesmo a entrar para a prática pública da Ciência Cristã. Leu Ciência e Saúde do começo ao fim, no mínimo sete vezes, buscando cuidadosamente um tema específico de cada vez. Leu-o sistematicamente, procurando suas declarações confortadoras, depois suas promessas e, então, suas exigências. Sempre que encontrava uma palavra que não compreendia completamente, procurava seu significado no dicionário e escrevia-o na margem do livro-texto. Também estudou a Bíblia inteira.
Através de todo esse estudo, seu desejo predominante era o de obter o significado espiritual do que lia. Convenceu-se cada vez mais de que tudo o que realmente importava era fazer a vontade de Deus. Sempre que se sentia inseguro sobre qual seria realmente a vontade de Deus para ele, confiava na direção de seu pastor: a Bíblia e Ciência e Saúde. A resistência ao progresso espiritual não mais o pôde deter, por mais intensa que fosse. Depois de dois anos de estudo persistente, permitiu que seu interesse pela prática da cura se tornasse conhecido e colocou seu nome nas Páginas Amarelas do guia telefônico de sua cidade. Hoje ele é praticista da Ciência Cristã em tempo integral. Pensando nessa experiência, ele diz que não é que nunca mais tenha ficado sonolento ou nunca mais tenha dormido, depois disso! Mas havia ganho uma base firme e aprendera o que tinha de fazer: esforçar-se para "assimilar mais do caráter divino".
Ele diz que é a prova viva de que qualquer pessoa pode fazer o trabalho de cura, se tomar a Bíblia e Ciência e Saúde e, resistindo às sugestões do magnetismo animal, empenhar-se para alcançar o profundo significado espiritual do que esses livros têm a dizer. Ele sente que sua vida demonstra a declaração da Sra. Eddy, de que "algumas pessoas assimilam a verdade mais depressa do que outras, mas qualquer aluno que se atenha às regras divinas da Ciência Cristã e se embeba do espírito de Cristo, pode demonstrar a Ciência Cristã, expulsar o erro, curar os doentes e aumentar continuamente seu cabedal de compreensão espiritual, de potência, de iluminação e de êxito." Ibidem, p. 462
Talvez nem todos venham a se dedicar à prática pública da Ciência Cristã em horário integral, como meu amigo. Mas todos podem conhecer a inspiração, a alegria e a satisfação que alcançamos quando nos empenhamos, de todo o coração, pelo objectivo diário, e atingível, do progresso espiritual.
