No início de 1890, Mary Baker Eddy encontrava-se em uma das encruzilhadas mais importante de sua vida. No ano anterior, ela havia saído de Boston, Massachusetts e mudara-se para Concord, New Hampshire, com a intenção de dedicar seu tempo a uma profunda revisão do livro sanador, de sua autoria, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. A fim de aliviar as pressões do trabalho, antes de se mudar, ela se demitira do cargo de Pastora da Igreja de Cristo, (Cientista) de Boston; transferira a responsabilidade pela publicação do The Christian Science Journal, a uma "Comissão de Publicação", formada por alunos seus; dissolvera sua associação de alunos; fechara a Faculdade de Metafísica de Massachusetts, da qual era Presidente e professora; e solicitara à igreja de Boston que dissolvesse sua organização de cunho congregacional, mantendo, porém, a realização de cultos, como associação voluntária. Sob sua orientação, foi nomeada uma diretoria, que seria responsável pelos cultos e pela contratação de um pastor que pregasse em estrita consonância com os ensinamentos da Ciência Cristã.
Tendo assim aplanado o caminho, a Sra. Eddy voltou-se inteiramente à revisão de seu livro. O propósito não era o de acrescentar idéias novas, mas sim o de elucidar e iluminar mais a fundo os conceitos divinamente inspirados ali contidos desde o início. Quando saiu a qüinquagésima edição de Ciência e Saúde, em janeiro de 1891, continha importantes modificações: a ordem dos capítulos era diferente, com novos títulos; havia, pela primeira vez, títulos marginais; no início de cada capítulo, citações bíblicas substituíam as citações literárias; o índice anterior, de trinta e oito páginas, aumentara para setenta e uma; por todo o livro, porções de texto haviam sido mudadas de lugar e haviam sido acrescentadas quarenta páginas de material novo; e em praticamente todas as páginas havia sinais de alguma revisão. Falando dessa nova edição, a Sra. Eddy escreveu a dois alunos seus: "Fiz questão, especialmente,. .. de sistematizar a exposição da Ciência de forma tal que o estudioso se visse compelido a reconhecer que ela é demonstravelmente verdadeira, e pode ser compreendida com base em provas." História da Igreja, documento: L08229, Departamento de História da Igreja d'A Igreja Mãe.
A Descobridora da Ciência Cristã não escreveu Ciência e Saúde partindo de bases teóricas. Embora todos os conceitos ali expostos lhe tenham vindo por revelação divina, ela não começara a escrever o livro até que a praticidade daquelas idéias ficasse provada pela cura dos outros, por meio da oração cristã científica. Ela acrescentou à nova edição estas palavras, possivelmente para dar ênfase a esse ponto: "Ao aplicar as regras da Ciência, na prática, a autora restabeleceu a saúde nos casos mais graves de doenças, tanto agudas como crônicas. Secreções foram mudadas, a estrutura do corpo foi renovada, membros curtos foram alongados, juntas juntas ancilosadas tornaram-se flexíveis, e ossos cariados foram restaurados ao seu estado sadio." Ciência e Saúde, 50a Edição, 1891, pp. 55–56. Ver também edição atual, p. 162.
Com relação aos "membros curtos", é bem possível que a Sra. Eddy estivesse pensando em uma cura ocorrida aproximadamente um ano antes de ela sair de Boston. O homem que fora curado relatou sua experiência a um Cientista Cristão, em Los Ângeles, em 1903:
Há aproximadamente dezoito anos, quando eu morava em Boston, caí do terceiro andar de uma construção em que eu estava trabalhando. Quebrei a perna em três pontos. Levaram-me ao hospital, onde procuraram ajudar-me. Disseram que a perna estava tão mal que teriam de amputá-la. Eu disse: "Não, prefiro morrer." Eles deixaram que sarasse da melhor maneira possível e, como resultado, acabei tendo de usar um suporte de ferro de mais de vinte centímetros. Fui chamado à casa da Sra. Eddy, na Avenida Commonwealth, em Boston, para fazer alguns serviços leves. A Sra. Eddy entrou na sala em que eu estava trabalhando e, vendo meu estado, observou bondosamente: "Suponho que o senhor tenha a esperança de se livrar disso, algum dia." Eu respondi: "Não, já fizeram tudo o que era possível e agora consigo andar com a ajuda de uma bengala." A Sra. Eddy retrucou: "Sente-se, vou lhe dar tratamento." Quando terminou o tratamento, ela disse: "Vá para casa e tire esse suporte de ferro; dê à sua perna a chance de se endireitar." Fui para casa e fiz como ela havia dito, e agora estou muito bem. Só posso dizer que a perna ficou tão boa quanto a outra.Journal, dezembro de 1905, p. 572.
A Sra. Eddy curava da mesma forma que amava a Deus: fazia parte de sua natureza e assim fora desde criança. Para ela, nada era mais importante do que fazer a vontade de Deus, que ela identificava por meio de oração diária. Ela instava continuamente seus alunos a se apoiar mais em Deus, em vez de ir a ela em busca de conselhos, mencionando às vezes, em suas cartas, Provérbios 3:5, 6, da Bíblia. Mas isso de modo algum significava que havia deixado de se importar com os alunos. Muito pelo contrário, a Sra. Eddy tinha para com eles o mesmo sentimento que uma mãe tem para com os filhos. Como escreveu a um deles: "Deus me deu novas lições e eu também tenho de 'cuidar dos negócios de meu Pai'. Não pense que é a falta de amor, mas sim a convicção quanto ao dever, que me faz desejar o isolamento da sociedade." História da Igreja, documento: L04139.
O que predomina na correspondência da Sra. Eddy, durante esse período, é a grande necessidade de amor mútuo. Um belo exemplo disso encontra-se nestas palavras endereçadas a um aluno:
Que o domingo de Páscoa vos leve minha oração.. . 'Filhinhos, amai-vos uns aos outros'.. . deveis amar a todos. Ainda que os outros vos persigam, deveis amar a todos. Deveis, porém, amar especialmente os irmãos. Deveis reunir-vos com eles, animá-los em seus labores, apontar-lhes o caminho do amor e mostrar-lhes esse caminho, vós mesmos amando em primeiro lugar e esperando pacientemente que eles vos acompanhem nesse grande passo, amando-vos uns aos outros e andando juntos. É isso que o mundo tem de ver, para que possamos convencê-lo das verdades da Ciência Ciência Cristã. História da Igreja, documento: L08931.
Quando os Cientistas Cristãos de Chicago estavam tendo divergências com relação ao controvertido pastor de sua Igreja de Cristo, Cientista, George Day, Ver Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Trial (Boston: The Christian Science Publishing Society, publicado originalmente por Holt, Rinehart and Winston, 1971), pp. 267-268. a Sra. Eddy escreveu a uma professora de Ciência Cristã Ellen Brown Linscott, C.S.D. daquela cidade, falando-lhe de seu "grande amor por tudo o que ele havia dito e feito de bom, sendo que perdoei e esqueci as coisas que ele havia falado contra mim". Ela encerrou sua carta, dizendo:
Mostre-me quão grande é seu amor a Deus, perdoando, ou melhor, amando toda a humanidade, e só esta vez lhe peço, mostre que é mais cristã do que ele, dando o primeiro passo para a reconciliação. Você vai fazer isso, querida? Meu coração sangra com esta reputação entre os homens — de que nós não somos irmãos. Humilhar-me-ia no pó da terra, para que isso fosse diferente. História da Igreja, documento: L11026.
Na semana anterior, a Sra. Eddy ficara sabendo que o Sr. Day estava doente e escrevera-lhe "uma carta com a intenção de curá-lo" História da Igreja, documento: L12650. Dois dias depois de escrever à professora de Chicago, a Sra. Eddy foi informada de que a carta ao Sr. Day cumprira seu propósito.
Ao escrever a outro aluno sobre a relação entre o Amor divino e a cura, a Sra. Eddy disse:
A cura ficará mais fácil e será mais imediata à medida que perceber que Deus, o Bem, é tudo, e o Bem é Amor. É preciso ter Amor, e perder o sentimento errôneo chamado amor. É preciso sentir o Amor que nunca falha — aquela noção perfeita do poder divino que faz da cura não mais um poder, mas uma graça. Então terá o Amor que lança fora o medo, e, quando o medo some, a dúvida desaparece e seu trabalho está feito. Por quê? porque nunca deixou de estar feito. História da Igreja, documento: L08565. Ver Reminiscências de pessoas que conheceram Mary Baker Eddy (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1991) pp. 70–71.
Em princípios de 1891, o Capitão Joseph S. Eastaman, um dos membros da Diretoria da Igreja voluntária de Boston, foi testemunha de uma demonstração dessa ação curativa isenta de medo. Ele contou sua experiência a alguém que depois a deixou registrada para a posteridade:
O Capitão Eastaman tinha uma entrevista marcada com a Sra. Eddy.. .. Chegou à casa dela na hora aprazada, foi atendido pelo secretário da Sra. Eddy, Calvin Frye, que o introduziu na sala de visitas e depois subiu ao andar superior para avisar a Sra. Eddy da chegada do Capitão. Quando começava a descer novamente para o térreo, de repente caiu de cabeça pela escada abaixo e parecia ter quebrado o pescoço. A Sra. Eddy, ouvindo aquele barulho, apareceu no topo da escada, perguntando o que havia acontecido. Aí percebeu que o Sr. Frye estava caído, lá embaixo. Ela disse: "Calvin, fique de pé." Disse novamente: "Calvin, levante-se imediatamente." Pela terceira vez, disse calmamente: "Calvin, levante-se agora mesmo, você está bem." O Sr. Frye levantou-se instantaneamente, olhou para a Sra. Eddy, que vinha descendo a escada, e depois foi para outra sala. O Capitão Eastaman teve a reunião com a Sra. Eddy e depois tomou o trem de volta para Boston. Ele não tinha dúvidas de que havia testemunhado uma demonstração de vitória sobre a pretensão de morte por acidente. Reminiscências de Arthur A. Maxfield, História da Igreja. Alguns anos depois, o Capitão Eastaman deu esse testemunho no Edifício Original d'A Igreja Mãe: reminiscências de Eloise M. Knapp, História da Igreja.
O diário de Calvin Frye mostra que seu trabalho com a Sra. Eddy continuou sem nenhuma interrupção nem empecilho devido a esse incidente. Depois disso, viveu ainda muitos anos de vida ativa e saudável. Cerca de quatro meses depois, outro aluno, David A. Easton, visitou a Sra. Eddy. Contou-lhe que estava morrendo de tuberculose. Uma semana depois, ele lhe escreveu:
Estou curado. Percebi isso no dia seguinte à minha visita.. .. Quando fui vê-la, parecia que eu vinha sendo levado por uma rápida correnteza de pensamento mortal, à qual eu não conseguia resistir e que estava me carregando mais e mais para baixo. Parece que suas poucas, mas vigorosas palavras, me tiraram para fora dessa correnteza. Sinto-me como um novo homem. Carta de Easton, 30 de setembro de 1891, História da Igreja.
Em resposta, a Sra. Eddy disse-lhe que sentira a presença sanadora de Deus, por ocasião daquela visita. Ela continuou: "Diga a sua esposa que dessa vez o deixe ir pregar o evangelho da cura. Você mesmo deve se lembrar disso quando chegar a hora." História da Igreja, documento: L04680. Um ano e meio depois, a Sra. Eddy pediria ao Conselho de Diretores que o convidasse para ser o pastor d'A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, em Boston.
Quando a Sra. Eddy reorganizou a igreja de Boston, em meados de 1892, também a transformou de igreja local a uma organização internacional. O mais importante é que substituiu a forma anterior de administração congregacional, onde os membros tinham poder decisório, por um sistema de governo baseado em leis divinamente inspiradas. Ela havia de propósito solicitado a dissolução da organização anterior, devido às contínuas disputas internas, causadas por uns poucos membros. Seu ideal de organização era de que esta se apoias-se no amor recíproco entre os membros.
No número de março de 1892, do The Christian Science Journal, a Sra. Eddy escreveu sobre a organização da igreja, nos mesmos termos por ela utilizados para descrever o casamento: "Se nossa Igreja está organizada, é para atender à ordem: 'Deixa por enquanto'. O pacto verdadeiramente cristão é o amor pelos outros. Esse vínculo é totalmente espiritual e inviolável." Journal, março de 1892, p. 488. Ver também Miscellaneous Writings, p. 91.
Para melhor apoiar esse conceito, a Sra. Eddy foi inspirada a fazer com que sua igreja reorganizada fosse governada por Regras que ela escreveu, Regras baseadas na lei de Deus. Dessa forma, as opiniões humanas dos membros não tinham lugar e por conseguinte, não seriam de impedimento para o amor recíproco entre os membros, se estes obedecessem a essas Regras.
Em 1° de setembro de 1892, a Sra. Eddy fundou A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, mediante um Fideicomisso que criou o Conselho de Diretores da Ciência Cristã para administrar a Igreja de acordo com as Regras que ela escrevera. Cada uma dessa Regras foi divinamente inspirada para atender à necessidade não só do momento, mas também do futuro. Em 1895, essas Regras foram compiladas e publicadas como Manual de A Igreja Mãe.
Em outubro, a Sra. Eddy escreveu a um aluno:
É impossível descrever minha tarefa, nesse verão que passou, de enfrentar a tempestade de guias cegos e salvaguardar as pessoas e fundar a Igreja de Cristo em Boston. Mas foi me dado realizá-la. Essa nova forma de organização da Igreja é uma luz colocada sobre um monte. História da Igreja, documento: L01584.
Essa "luz" é produzida pela chama do Amor divino, o poder e a graça que existem para a cura da humanidade, individual e coletivamente, o mesmo poder e a mesma graça que caracterizaram todas as obras de cura de Mary Baker Eddy.
