1:14—45 Depois de João ter sido preso, Jesus iniciou seu ministério, utilizando o fundamento já estabelecido. Ele também pregava, mas sua mensagem tinha um novo enfoque: o tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. O poder de Deus estava presente no mundo de uma forma nova, e a missão de Jesus era mostrar essa nova forma e explicar o que significava o reino de Deus estar próximo. Sua tarefa era compartilhar esse significado e ele lançou-se ao trabalho, sem perder tempo.
1:16—20 Caminhando. .. viu os irmãos Simão e André pescando. Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Eles obedeceram. A cena se repetiu com Tiago. .. e João. Eles o seguiram sem hesitação. Só podemos nos maravilhar ao ver a autoridade que emanava de Jesus e que deve ter impelido esses quatro homens a abandonar, instantaneamente, seu sustento e modo de vida como pescadores. Repleta de detalhes primorosos, a cena estimula nossa imaginação e nossas perguntas. Será que eles já se conheciam? Como puderam tomar uma decisão dessas? O que houve com suas famílias? Ficamos maravilhados.
1:21—28 Na cena seguinte, Jesus aparece ensinando na sinagoga no sábado. Lá, as pessoas maravilhavam-se com a autoridade de sua mensagem. Era diferente de tudo o que eles já tinham ouvido. De repente, sua palavra inspirada foi interrompida por um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou: Que temos nós contigo. .. ? Bem sei quem és: o Santo de Deus! Imediatamente, Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai desse homem. Agitando-o e gritando muito, ele saiu, não porque a obediência seja algo próprio dos espíritos imundos, mas porque os espíritos imundos ficam impotentes na presença firme do Espírito, Deus, que havia descido sobre o homem.
As pessoas ficaram realmente impressionadas, sentiam um misto de veneração, temor, e admiração. E se perguntavam: Que vem a ser isto? Uma nova doutrina! Com autoridade ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem! A multidão já tinha se maravilhado com o que Jesus ensinava; havia se fortalecido com seu discurso inspirado. Mas agora, ao testemunhar essa cura, eles viram a manifestação concreta de suas palavras, a imediata comprovação de sua veracidade, a demonstração prática fluindo naturalmente daquilo que havia sido ensinado. Impressionante! A admiração do povo condiz perfeitamente com o conceito da atividade de Deus irrompendo no mundo de forma totalmente nova com o fato de o reino de Deus estar próximo e os novos ensinamentos serem algo real. Então, correu célere a fama de Jesus em todas as direções. . .
1:29-31 Após presenciar a cura na sinagoga, os discípulos aproximaram-se de Jesus com um problema pessoal. A sogra de Simão estava acamada, com febre. Aproximando-se Jesus tomou-a pela mão. . . e a curou. Não proferiu nenhuma palavra. Não há registro de que tenha havido oração. Imediatamente a febre a deixou, passando ela a servi-los. A simplicidade desse acontecimento nos encanta. Jesus demonstrou dentro de uma casa a mesma autoridade que havia demonstrado na sinagoga, dando provas do poder de Deus em todo lugar.
1:32—34 As restrições ao trabalho no sábado não impediam a troca de informações: À tarde, ao cair do sol,. .. ele curou muitos doentes.. . e também expeliu muitos demônios. As notícias haviam se espalhado rapidamente e, na hora do crepúsculo, toda a cidade estava à sua porta. Ele atendeu a todos.
1:35-39 Se tudo isso aconteceu num dia, não é de admirar que Jesus tivesse acordado cedo no dia seguinte e saído Para um lugar deserto onde orava. Encontrou um lugar sossegado, longe das multidões e, sozinho, volveu-se ao Pai em oração, reflexão e afirmação. Não sabemos como orou; mas quando os discípulos finalmente o encontraram, dizendo “Todos te buscam”, não retornaram a Cafarnaum. As orações de Jesus o impeliram a continuar rumo a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim. Não fez nenhuma retirada estratégica, ao contrário, Jesus muito expandiu o seu ministério. Então, foi por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios.
1:40-45 Certo dia, um leproso aproximou-se. .. rogando-lhe, de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me. Com esse procedimento simples, o leproso violou todas as normas. Os leprosos eram obrigados a anunciar: “Impuro, impuro”, quando se locomoviam, para que todos pudessem evitá-los. Douglas R.A. Hare, Mark (Louisville, Ky.: Westminster John Knox Press, 1996), pp. 33—34. Mas esse leproso se aproximou de Jesus com um pedido inacreditável: “Queres fazer isso?” Ele já sabia que Jesus podia! Estaria Jesus disposto a ignorar as normas da sociedade e atender à sua necessidade?
Sem hesitar, Jesus tocou-o. Qualquer pessoa que estivesse por perto teria sentido repulsa. Ninguém tocava um leproso! Qualquer contato significava contaminação imediata. Larry W. Hurtado, Mark (Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1989), p. 30. Mas Jesus superou essa barreira e removeu a impureza, dizendo: fica limpo! Imediatamente, o homem ficou livre, saudável, curado. Para Jesus, a doença daquele homem era o oposto da bondade de Deus, a antítese da proximidade do reino. A resposta de Jesus foi curá-lo e libertá-lo.
Em seguida, advertiu o homem, dizendo:. .. não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote. A ordem é forte, enfática e aparentemente contraditória. Apresentar-se pessoalmente a alguém era uma maneira de contar o que tinha acontecido. Além do mais, ele deveria oferecer pela sua purificação o que Moisés havia determinado, para servir de testemunho ao povo. É certo que ele não poderia ser completa e totalmente reintegrado à sociedade até ser declarado oficialmente “limpo”. Mas a instrução de Jesus, para que ele providenciasse sua purificação de acordo com as normas oficiais, levanta dúvidas. Estaria Jesus realmente afirmando o papel do Templo, ao apoiar meticulosamente as leis rabínicas? Então, por que ele havia tocado o homem?
Em realidade, o leproso havia sido abandonado pelo mesmo sistema encarregado de ajudá-lo; ele tinha recebido a condenação perpétua de “impuro” e havia sido relegado à condição de uma pessoa falecida. Não tinha recurso, esperança, lugar no sistema de adoração dos judeus. Não é provável que Jesus, após curá-lo, o tivesse mandado, são e perfeito, de volta àquele sistema, a fim de apoiar o sistema. É mais provável que o fato de enviá-lo aos sacerdotes tenha servido como testemunho contra a falibilidade do sistema. Apesar de seu Templo glorioso, de todas as cerimônias e da pompa de seus cultos, aqueles sacerdotes não haviam podido curá-lo; eles só eram capazes de condená-lo e bani-lo. Ver artigo: Edwin K. Broadhead, “Mk 1,44: The Witness of the Leper,” ZNW 83:3—4, 1992, 257—265.
Após a cura, o homem entrou a propalar muitas cousas e a divulgar a notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar publicamente em qualquer cidade. O texto grego diz: “Ele começou a proclamar grandemente a palavra e a divulgá-la." Hurtado, p. 34. Essa linguagem faz eco à própria pregação de Jesus. Talvez fosse simplesmente impossível a esse homem continuar calado a respeito de sua cura. Por isso, a divulgou. O resultado foi que Jesus precisou refugiar-se em lugares desertos, tranqüilos, que lhe davam tempo para a reflexão, para a afirmação e renovação espiritual.
... e de toda parte vinham ter com ele, seguindo-o sem descanso.
Com base na cura, o início do ministério teve muita ressonância. As pessoas reagiram com entusiasmo, o que não aconteceu com as autoridades. Elas não ficaram nada contentes com o que estava acontecendo e logo começaram os atritos.
