Eu estava em pé na porta, do outro lado do quarto: ela engatilhou o revólver, apontado diretamente para mim. Contudo, minha calma era total, sem nenhum medo. Sentia o poder e a presença do amor de Deus e não tinha nenhuma dúvida de que Ele estava nos protegendo e cuidando de nós.
O que me levava a esse confronto? Algumas horas antes, naquela noite, uma amiga e eu estávamos jantando em um restaurante. Ela me confidenciou que havia muitos meses sua colega de apartamento vinha demonstrando um comportamento emocionalmente perturbado e, freqüentemente, minha amiga temia por sua própria vida. Ela desejava minha ajuda para pedir à colega que se mudasse. Quando estávamos começando a comer, sua colega entrou no restaurante. Havia seguido minha amiga até ali e tencionava juntar-se a nós mas, quando lhe pedimos, polidamente, para sair, sua conduta inconveniente tornou-se tão incômoda para os demais freqüentadores que alguém chamou a polícia.
A polícia elaborou um plano e insistiu para levar a moça para casa. Minha amiga foi para casa de carro, na frente. Um plano tão perigoso e inapropriado transformou-se numa oportunidade de falar a verdade com intrepidez, negando cada acusação hostil feita. Disse-lhe que ela não queria machucar a mim nem a qualquer outra pessoa porque Deus a amava, como Ele ama a todos os Seus filhos, imparcial e incondicionalmente. Ele queria que ela amase a todos, que fosse afável e afetuosa para com Seus filhos. Enquanto orava, pensava nela como minha irmã em Cristo, não como uma adversária.
Quando chegamos à casa de minha amiga, sua colega foi para o quarto. Minha amiga estava aterrorizada. Ela me disse que essa moça tinha uma arma e certamente a usaria. Enquanto orávamos, declarei que esse lar, incluindo cada pessoa dentro dele, estava protegido e preservado pela lei do amor de Deus. Falamos sobre quantas pessoas, na Bíblia, enfrentaram situações perigosas, ameaçadoras, e foram salvas quando se voltaram a Deus. As promessas de proteção contidas na Bíblia valiam para nós também.
Eu sabia também que o filho de Deus está isento de qualquer tentação e da má intenção, particularmente a de pôr em risco a vida dos outros. O amor de Deus por Sua criação é uma lei, que produz pensamento e ação corretos. Deus está no controle de tudo. Eu tinha certeza de que não existe nenhuma situação de perigo; Deus nos mantém seguros sob Seus cuidados.
Encaminhando-me até o quarto da colega, senti o amor de Deus envolvendo e protegendo a todos e sabia que não havia perigo. Então, de pé ali na porta, lembrei-lhe o que tínhamos falado no carro. Enquanto caminhava em direção a ela, sentia elevação espiritual. Não tinha nenhuma dúvida de que ela corresponderia ao amor sincero das minhas orações. Estendendo-lhe a mão, pedi-lhe gentil, mas firmemente, que me entregasse o revólver. Sem questionar nem hesitar, ela acionou a trava de segurança e o entregou para mim. Senti que essa reação positiva e imediata era o resultado da oração que fora feita no carro. Saí do quarto e chamei a polícia, louvando a Deus e regozijando-me pelo fato de que a salvação pertence a Ele.
Quando eu estava desligando o telefone, ela me agarrou pelos cabelos, puxando-me para trás. Enquanto lutávamos, meu único pensamento era de que se tratava apenas de um grande abraço. Sentia somente a bondade de Deus envolvendo-nos em Sua misericórdia. De repente, ela me soltou completamente.
A polícia chegou e interrogou-nos por várias horas. Eles nos trataram com paciência e amabilidade. Às vezes, minha amiga e eu ficávamos num quarto separado dos outros, orando. Sentindo-se fortalecida e curada do medo, ela silenciosamente reconhecia o bem que estava ocorrendo.
Lembrei-me do israelita Davi, que depositou total confiança em Deus. Ele tinha uma consciência calma e tranqüila porque compreendia o profundo amor que Deus tem pelo homem. Com firme confiança e fé inabalável na imparcial bondade divina, ele se volvia constantemente a Deus em oração. Permaneceu sem medo em meio a situações perigosas com Saul, que o perseguia com a intenção de fazer-lhe mal. Ele orava: "...o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte e o meu refúgio. Ó Deus, da violência tu me salvas" (2 Samuel 22:3).
Ter medo de outra pessoa é crer num poder separado de Deus. A Sra. Eddy escreve: "Temos de aprender que o mal é a terrível ilusão e irrealidade da existência. O mal não é supremo; o bem não é impotente; nem são primárias as assim chamadas leis da matéria, nem é secundária a lei do Espírito. Sem essa lição, perdemos de vista o Pai perfeito, ou o Princípio divino do homem" (Ciência e Saúde, p. 207).
A compreensão de que o homem é a imagem espiritual de Deus, revela que o mal não é uma pessoa. É uma ilusão, isto é, uma sugestão errônea, que não tem nenhum poder nem inteligência para levar a cabo suas ameaças. O único poder verdadeiro é o Amor divino. O amor de Deus é onipotente e é o único poder onipresente e ativo na nossa vida. Nossa defesa está em reivindicarmos que, como imagem de Deus, refletimos o poder do Amor como se fosse nosso. A Sra. Eddy explica: "Os bons pensamentos são uma armadura impenetrável; assim revestidos, estais completamente resguardados contra os ataques do erro de qualquer espécie. E não só vós estais protegidos, mas também todos aqueles sobre os quais repousam vossos pensamentos são dessa forma beneficiados" (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 210). O Amor é irresistível.
Após algum tempo num centro de tratamento psiquiátrico, a colega da minha amiga voltou para retirar seus pertences e mudar-se. Isso foi feito em harmonia e nos regozijamos porque nossas orações estavam revelando o bom plano de Deus para todos.
Podemos nos sentir em segurança com a compreensão de que a identidade dada por Deus é nossa única vida. A confrontação com o perigo não precisa causar pânico nem desespero. Compreendendo que o Amor divino expressa seu completo domínio através do homem, sentiremos mais completamente que o poder de Deus é nossa única defesa.
