Lamento confessar que, durante o curso primário, meu boletim trimestral muitas vezes trazia uma observação, indicando que eu não estava desenvolvendo plenamente meu potencial. Não sei se alguma vez você já teve tal observação em seu boletim, mas posso afirmar que esse tipo de anotação não é agradável para os pais.
No meu caso, isso ofuscava qualquer outra nota no boletim que, de outro modo, teria suscitado sorrisos e uma feliz celebração, no jantar. Numa dessas vezes, tentei explicar a meus pais que, se a professora tivesse escrito que eu já tinha desenvolvido todo o meu potencial, eles teriam se sentido insultados com essa insinuação. Como já disse, tentei isso apenas uma vez.
Essa idéia de otimizar nosso potencial tornou-se hoje quase uma indústria. Acho que é porque um grande número de pessoas também deve ter recebido uma observação semelhante em seus boletins. Se você assistir à televisão, provavelmente ficará submerso num mar de anúncios. Parece que em todo canal alguém está tentando vender uma maneira mais rápida de picar legumes ou de maximizar nosso potencial. Tudo facilitado em seis pagamentos.
Podemos falar jocosamente sobre essas coisas. Mas existe um fato subjacente a tudo isso, que não pode ser ignorado. Essa enorme quantidade de livros e fitas e seminários destinados a ajudar as pessoas a desenvolver seu potencial, existe porque muitos estão se sentindo inseguros ou incapazes de fazer tudo o que deles se espera. Uma perspectiva mais positiva ou um dia mais bem organizado — que normalmente esses livros e cursos prometem — seria claramente de ajuda para muitas pessoas. Mas, para outas, a necessidade é mais profunda.
A dificuldade em satisfazer essa necessidade através do que é geralmente chamado pensamento positivo, é que este pode sucumbir ao pensamento negativo. Admiramos a história do trem que faz seu caminho montanha acima, repetindo sem parar: "Acho que posso, acho que posso." Mas se for um desses dias em que estamos dominados pelo pensamento: "Nunca vou conseguir", ficaremos mentalmente parados na estação, o dia todo.
Esta é uma das coisas que torna a abordagem puramente cristã de Jesus tão surpreendente. Ela não depende do "pensamento positivo". Ao descrever o que ele fazia, e ao ensinar como qualquer pessoa pode seguir seu exemplo, Jesus explicava que ele não era auto-suficiente, mas totalmente dependente de Deus, a fonte e o fundamento de sua vida e de suas obras.
Ele disse: "Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou" (João 5:30). Mais tarde, enfatizou ainda mais esse ponto: "...o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras" (João 14:10). O eterno Cristo, a natureza divina de Jesus, tornou-o totalmente consciente de sua capacidade, dada por Deus e governada por Ele.
Jesus era motivado por Deus, autorizado por Deus, inspirado por Deus. Ele demonstrava uma união absoluta com o Pai. Devido a esse senso consciente de união com Deus, ele foi dotado da capacidade para cumprir sua missão. A grande dádiva de Deus à humanidade é o exemplo de Cristo Jesus, que nos ensina como reivindicar para nós mesmos essa união com a divindade. O fato espiritual da nossa união com Deus abre a porta para a felicidade real, porque ela nos liberta das limitações e incertezas
Se pudermos confiar somente na nossa aptidão ou QI, na nossa vontade humana ou capacidade de vendas, na nossa cultura ou status social, nunca sentiremos que desenvolvemos plenamente nosso potencial, porque nenhuma dessas coisas nos fornece as ferramentas necessárias. Jesus nos mostrou o caminho. Uma vida que está consciente da presença constante de Deus, é uma vida bem sucedida.
Séculos antes do ministério de Jesus, Moisés havia aprendido essa lição de Deus. Educado na corte do Faraó, ele tivera as vantagens de uma vida de privilégios, com o status e a autoridade que a acompanhavam. Contudo, mais tarde, quando ele foi encarregado por Deus de ir até o Faraó para libertar os filhos de Israel da escravidão, Moisés duvidou. Ele não era do grupo dos "acho que posso", mas dos "sei que não vou conseguir". Ele não tinha nenhuma idéia do seu potencial. Mas a Mente divina, que inspirou Jesus, era a mesma Mente que despertou Moisés para suas capacidades divinas.
A Bíblia relata: "Então, disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua. Respondeu-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? ... Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar" (Êxodo 4:10—12). Moisés confiou em Deus e assim foi capaz de descobrir sua capacidade. Confiando em Deus, ele foi capaz de desenvolver plenamente seu potencial.
A dúvida e o medo humanos afligem muitas pessoas. São o solo fértil para a semente da insegurança. Quando esses sentimentos governam nosso coração, é pouco provável que sejamos bem sucedidos. Nem sequer tentamos fazer tudo o que podemos. Derrotamos a nós mesmos, antes de começarmos a fazer alguma coisa.
Esse veneno mental pode ser facilmente neutralizado e destruído. O Apóstolo Paulo fez um breve comentário que está cheio de poder espiritual. Ele declarou: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Filip. 4:13). Essa verdade dá a cada um de nós tudo o que é necessário para desenvolver nosso potencial. Paulo nos dá certeza em vez de incerteza, coragem em vez de medo, porque aprendemos que Deus, o bem infinito, supre tudo o de que necessitamos. Existe uma grande diferença entre a vontade humana, que diz: "Eu farei isso", e o sentido espiritual que sabe que todas as coisas são possíveis, com a ajuda de Deus. O ego humano, como um balão, pode ser furado. Mas a Mente divina é inexpugnável.
A força que nos vem do Cristo é a compreensão de que a Mente divina é nossa Mente. Deus, a Mente divina, é sempre ativa, totalmente sábia e poderosa, é o bem ilimitado. Essa inteligência espiritual é refletida pelo homem. Quando estamos conscientes dessa verdade, somos receptivos à orientação de Deus, à provisão da Mente, exatamente como o foram Moisés e os discípulos de Jesus.
Algumas vezes, não é a insegurança, mas as circunstâncias que parecem nos impedir de desenvolver nosso potencial.
A concorrência, a falta de oportunidade, os malentendidos, a injustiça ou os preconceitos podem (Continua na página39) parecer bloquear nosso progresso. Existe uma verdade importante que nos capacita a vencer isso também: nenhuma dessas coisas poderá bloquear nosso caminho, se nos recusarmos a dar-lhes o nosso consentimento.
De novo, temos o exemplo de Jesus. Tantas forças conspiraram para acabar com sua vida e sua missão. Mas sua obra não se perdeu. Sua promessa à humanidade foi cumprida. Seu exemplo continua vivo e hoje nos inspira e nos ajuda. Se aceitarmos a noção de que alguma circunstância possa bloquear o propósito que Deus tem para nós, sofreremos por crermos nisso. Mas, quando passamos para o outro lado da equação e compreendemos que, por ser Deus onipotente, nada existe que possa opor-se à vontade dEle, então ficamos imunes aos males que tentam bloquear nosso caminho.
Num folheto chamado Não e Sim, Mary Baker Eddy escreveu: "Jesus anulou e tornou sem efeito tudo o que é dissemelhante de Deus; mas ele não poderia tê-lo feito se o erro e o pecado existissem na Mente de Deus. O que Deus conhece, Ele também predestina; e precisa ser cumprido" (p. 37). Todo o bem é possível e permanece possível quando confiamos na Mente divina. A consciência crescente de que Deus está conosco, remove todos os obstáculos e revela a evidência da bondade de Deus, que abrange nossa vida e a de toda a humanidade.
Todos temos uma vida governada e inspirada por Deus. Podemos nos juntar a Paulo e declarar: "Tudo posso naquele que me fortalece." Ao compreender esse ponto, passamos para além do potencial e chegamos ao seu pleno cumprimento.
