Era bem tarde da noite, quando meu marido me acordou. Disse que estava se sentindo mal, com muita dor no peito. Pediu que eu o levasse para o hospital. Vesti-me imediatamente e comecei a ajudá-lo a se vestir também. Ele não era estudante da Christian Science, mas senti que poderia compartilhar com ele as idéias inspiradas que me vinham naquele momento. O estudo diário da Bíblia e do livro-texto, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, já havia me ajudado em muitas ocasiões, inclusive no caso de problemas físicos. Uma idéia angelical que me veio bem clara, naquele momento, e que compartilhei com meu marido, foi a de que Deus, o bem, por ser onipresente, estava agindo e se manifestando ali mesmo, e não era necessário irmos a outro lugar (no caso um hospital) em busca do bem-estar que nosso Pai nos dá continuamente. Falei-lhe sobre o Amor que enche todo o espaço e disse-lhe que ele nunca poderia sair desse Amor, que é Deus.
Quando já estávamos prontos para sair, meu marido disse: "Estou muito bem, não preciso ir ao hospital." Voltou para o quarto e foi dormir. Eu fui para o quarto ao lado, pois senti a necessidade de continuar orando mais algum tempo. Li diversos trechos da Bíblia e de Ciência e Saúde, pensando sobre seu significado, e li alguns hinos do Hinário da Ciência Cristã. Na manhã seguinte, meu marido acordou bem disposto e desceu para tomar sua refeição, como de costume.
Como aconteceu comigo nessa ocasião, somos muitas vezes chamados a desviar nossa atenção da aparência material e a fazer com que nossos alhos mentais repousem no fato espiritual. Temos, então, a oportunidade de olhar para além da visão restrita que os sentidos materiais apresentam e olhar para o amplo horizonte da verdade espiritual. Essa visão espiritual nos proporciona a força para enfrentar situações difíceis e alcançar a luz da Vida que é Deus. Nessa luz, conseguimos enxergar e sentir a criação perfeita de Deus. E daí a harmonia se manifesta no plano humano.
Cristo Jesus nos deu um exemplo bem claro disso naquela que ficou conhecida como a Última Ceia, na noite em que foi traído. Ele estava prestes a enfrentar a experiência mais dura de sua carreira, no entanto, fez com que a atenção dos discípulos se volvesse para a Verdade espiritual, como a alertar que, por trás de cada experiência difícil, há sempre algo novo e mais elevado para ser descoberto. "Não se turbe o vosso coração;" disse Jesus aos discípulos, "credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar" (João 14:1, 2). O acontecimento culminante de sua carreira estava próximo, e os derradeiros momentos que passou com os discípulos foram de imensa importância também para nós, que lemos agora os profundos ensinamentos que ele deu nessa ocasião (ver João 13—17). Naquela noite, estavam comemorando a Páscoa dos judeus, ou seja, a libertação da escravidão no Egito. Mas o que Jesus ensinou significava para a humanidade uma libertação muito maior, a libertação da escravidão da matéria.
Jesus compreendia que sua verdadeira identidade não era material, era, isso sim, a Crística expressão das qualidades divinas. Compreendia que ele era o Filho para sempre unido ao Pai e que seu verdadeiro corpo, sua identidade espiritual, era indestrutível: "Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei" (João 2:19) dissera em sua pregação.
A cerimônia de partir o pão, tradicional na comemoração da Páscoa dos judeus, adquiriu um significado mais elevado nessa noite. Falando dos discípulos que participaram dessa ceia, a Sra. Eddy diz, em Ciência e Saúde: "Seu pão realmente descera do céu. Era a grande verdade do ser espiritual que curava os doentes e expulsava o erro. Seu Mestre lhes havia explicado isso tudo antes, e agora esse pão os alimentava e sustentava. Eles haviam levado esse pão de casa em casa, partindoo (explicando-o) aos outros, e agora esse pão confortava a eles mesmos" (p.33). Em comunhão sagrada com as idéias que nos vêm de Deus, nós também podemos discernir o verdadeiro sentido de corpo, comer o pão da verdade espiritual e beber o vinho da inspiração celestial. Podemos, realmente, seguir Jesus em suas obras.
Nas horas que se seguiram a essa ceia — com a prisão, tortura e crucificação do Mestre — deve ter parecido aos discípulos que de nada havia adiantado toda aquela sabedoria e consciência espiritual. Mas quando chegou a manhã da ressurreição, quando viram Jesus à margem do lago, esperando por eles, puderam constatar o resultado prático de tudo o que lhes havia sido ensinado. Essa é a manhã da Páscoa cristã.
Vivendo, na prática, os ensinamentos de Jesus, podemos nos libertar da escravidão das preocupações quanto à nossa segurança, física ou econômica. Podemos remover a pedra do medo, que parece, às vezes, enterrar nossa capacidade de demonstrar domínio e inteligência. É essa a verdadeira comemoração da Páscoa, que traz conseqüências identificáveis em nossa vida diária.
Regozijemo-nos nessa "manhã" da ressurreição!
