A letra de uma canção do autor de blues americano Muddy Waters inclui a seguinte pergunta: “Por que você não vive de forma a ser um instrumento de Deus?” Muddy Waters, “Why don't you live so God can use you?”, 20–24 de julho de 1942, Primeiras Sessões de Gravação, 1941–1946, compilado por Johnny Parth, Registros de documentos, © 1992. Quando observamos os profetas da Bíblia, de Amós a Zacarias, percebemos que foi exatamente isso o que eles fizeram. Seus esforços conscientes procurando ouvir a voz de Deus e transmitir a outros o que tinham ouvido, salvou e curou pessoas, famílias e até nações inteiras.
Há lugar para profetas hoje em dia. Cada um de nós é chamado a expressar e vivenciar as profundas verdades espirituais que redimem nossa vida da influência da materialidade do dia-a-dia.
A maioria das pessoas pensa que a profecia consiste apenas em predizer o futuro. Os profetas da Bíblia, porém, não somente profetizavam acontecimentos futuros, eles expunham verdades espirituais. Eles entendiam que Deus estava revelando um plano divino para a humanidade. Repetidamente exortavam o povo hebreu a que deixasse de ocupar seus pensamentos com os assuntos do mundo e adorassem a um só Deus. Nessas ocasiões, eles profetizavam as conseqüências da desobediência às leis do Santo de Israel. Mas também anunciavam o grande bem que se manifesta naturalmente quando seguimos a orientação de Deus. A percepção que os profetas tinham dos acontecimentos futuros ia muito além da mera observação e análise humanas. A nossa percepção também tem esse alcance.
A capacidade de ouvir e transmitir verdades espirituais se origina em Deus. Quando procuramos ouvir a orientação de Deus, começamos a desenvolver a compreensão espiritual, que não se limita à simples crença de que Deus existe. Compreender que Deus é bom, amoroso e fonte de vida, traz à nossa existência uma espiritualidade que gera resultados práticos. Nossa disposição de ouvir e de viver “de forma a ser um instrumento de Deus” nos ajuda a perseverar e comprovar que Sua bondade está sempre presente, mesmo quando as circunstâncias em nossa vida pareçam ser as piores possíveis.
Certa ocasião, há alguns anos, fui criticado por um colega que utilizou sua notável inteligência para convencer meus colegas de trabalho de que eu era culpado por todos os problemas que a empresa estava atravessando. Quando fui falar com meu chefe em busca de apoio, descobri que aquele colega já havia falado com ele também, e que meu chefe concordava com sua opinião. Fiquei arrasado e com medo de perder o emprego, do qual eu gostava muito.
Comecei a orar para saber o que fazer. Resolvi não ficar zangado nem colocar-me na defensiva. Eu sabia que Deus é Tudo, e que Ele é Amor divino. Concluí então que o único poder verdadeiro nessa situação era o Amor.
Foi muito difícil não ceder à idéia de que todos estavam contra mim, mas resisti a ela com todas as minhas forças. A história do profeta Elias trouxe-me muito consolo e inspiração (Ver 1 Reis, capítulo 19). O rei de Israel, Acabe, e sua mulher Jezabel haviam voltado a introduzir o culto aos ídolos e haviam matado todos os profetas de Deus, exceto Elias. Escarnecendo dele de uma forma cruel, Jezabel enviou uma carta a Elias, prometendo matá-lo no dia seguinte. Ele então viu-se forçado a fugir, e estava tão desesperado que se preparava para morrer.
Porém, em sua jornada, Elias foi amparado por Deus, que o ajudou a encontrar refúgio nas montanhas. Nesse local ele ouviu um “cicio tranqüilo e suave”, que fez com que ele voltasse a ter esperança e que lhe mostrou que nem mesmo o vento, o fogo ou o terremoto conseguiriam abalar seu relacionamento com Deus.
Após adquirir essa concepção mais elevada da presença e do poder de Deus, Elias foi levado a ungir novos reis para a Síria e Israel e a designar o profeta Eliseu para dar continuidade à obra de Deus. A repressão, a perseguição, a falta de um lugar onde ficar, a fome, o desânimo, o medo e a sensação de perda, tudo isso foi superado através da compreensão mais elevada que Elias adquiriu a respeito de Deus.
Enquanto eu ponderava sobre o despertar espiritual desse profeta, compreendi que podemos sempre contar com a orientação de Deus e que Seu plano está sempre em ação. Elias havia procurado ouvir a voz de Deus e estava disposto a agir de acordo com Suas instruções, o que resultou em muitas bênçãos para ele e para o povo hebreu. Assim como ele, nós também podemos saber que Deus é quem “perdoa todas as [nossas] iniqüidades; quem sara todas as [nossas] enfermidades; quem da cova redime a [nossa] vida e [nos] coroa de graça e misericórdia” (Salmo 103: 3, 4). Durante um período de cerca de dois meses fui compreendendo cada vez melhor que todas as pessoas em sua natureza espiritual são a descendência do Amor, a própria semelhança do Pai-Mãe. Logo compreendi, não apenas que as pessoas que trabalhavam comigo eram meus irmãos e irmãs, mas também que minha capacidade e a oportunidade de fazer o bem e de causar um impacto positivo no ambiente à minha volta não dependiam daquele trabalho. Eu não estava orando para provar que estava pessoalmente certo, nem para tentar manter meu emprego. Eu orava para que o plano correto de Deus se manifestasse para todos os envolvidos. Eu sabia que nesse plano não poderia haver antagonismos, mentiras, nem perda para ninguém. Tinha certeza de que, se o melhor fosse sair daquela empresa, então Deus certamente prepararia outro lugar para mim.
A história do profeta Elias trouxe-me inspiração. Assim como ele, aprendi que Deus perdoa e sara todas as enfermidades.
A seguinte passagem de Mary Baker Eddy chamou-me especialmente a atenção: “Imperturbada em meio ao testemunho chocante dos sentidos materiais, a Ciência, sempre entronizada, vai desvendando aos mortais o Princípio divino, imutável, harmonioso — vai desvendando a Vida e o universo, sempre presentes e eternos” (Ciência e Saúde, p. 306). A situação em que me encontrava era bastante perturbadora e poderia ser encarada como um “testemunho chocante dos sentidos materiais”. Para mim, a declaração da Sra. Eddy que mencionei acima reforçou o fato confortador de que eu podia confiar em Deus, mesmo em meio àquela situação. Ao confiar nesse Princípio divino, Deus, em vez de reagir às circunstâncias humanas, eu gostava de pensar que minha atitude era a de um profeta moderno.
A situação logo se resolveu. Primeiramente terminou o antagonismo no trabalho. Em seguida, a empresa contratou um consultor externo, que tinha experiência em muitas das tarefas que eu executava. Embora eu pudesse pensar que essa providência fosse uma ameaça ao meu emprego, encarei a situação como uma maneira de Deus atender às necessidades da empresa. Suas necessidades foram atendidas e deixei de ser tão pressionado. Pouco tempo depois apareceu uma vaga para mim em outra cidade, onde trabalhei com satisfação durante alguns anos.
Esse acontecimento em minha carreira levou-me a trabalhar por conta própria, o que me trouxe uma enorme satisfação profissional. Também surgiram oportunidades excelentes para outras pessoas de minha família.
Quando aceitamos nossas próprias profecias, podemos esperar trazer para nossa vida e para a de muitas outras pessoas, mais paz, orientação, propósito e cura.
