A situação não estava fácil. Imaginem uma escola da periferia, numa grande metrópole, e uns adolescentes, alunos da turma da noite, sem nenhum interesse pelo estudo, vagando pelas escadas e corredores da escola, perturbando as aulas e os colegas. O material pedagógico aparecia quebrado e os trabalhos dos alunos do dia, que ficavam afixados nas paredes das classes, eram rasgados ou borrados. Eu era a orientadora educacional e pedagógica da escola e achava que precisava fazer alguma coisa, mas nenhuma medida disciplinar parecia surtir efeito. Aliás, o sistema da diretoria, na época, era bem tradicional e autoritário, um sistema com o qual eu estava acostumada. Esses alunos pareciam fechados a toda e qualquer mudança de comportamento. Eu, porém, estava disposta a mudar minha atitude. Havia aprendido a importância de mudarmos nosso pensamento, antes de tentar mudar alguma situação.
Quando conheci a Christian Science, estava me sentindo completamente desprezada e sem nenhum valor. Fazia pouco tempo que eu me divorciara. Minha auto-estima estava abaladíssima. Mas, o estudo da Bíblia e de Ciência e Saúde havia resgatado o senso do meu valor, como filha amada de Deus. Com a participação nos trabalhos de uma igreja filial, tanto em cargos como nas assembléias, eu havia percebido como é bom ver que os outros nos ouvem e valorizam nossa opinião. Eu tinha aprendido a ouvir e a valorizar a opinião alheia.
Além disso, estava aprendendo a não me apegar a preconceitos e julgamentos estereotipados, mas sim, a estar aberta às idéias que nos vêm de Deus, a estar disposta a confiar no fato de que a criação divina é governada por seu Criador. Por exemplo, pouco tempo antes dessa situação com os alunos, a administração municipal, à qual estava subordinada a escola, havia passado por uma mudança política bastante radical e contrária às minhas convicções anteriores. Mas, a confiança no governo de Deus me deixara completamente em paz.
Foi com essa “bagagem” que eu comecei a examinar a questão daqueles alunos. Em vez de meramente julgá-los rebeldes e condená-los como um problema, percebi que a atitude deles, embora parecesse uma agressão, era, em realidade, um pedido de ajuda. Eles queriam ser ouvidos, valorizados e respeitados, assim como eu, anos antes. Em vez de lhes dar ordens (que, de qualquer forma, não seriam obedecidas) passei a conversar com eles, a ouvir o que eles pensavam e desejavam.
Surgiu a idéia de formarem um grêmio estudantil. A opinião de muitos, na escola, foi de que aquilo não poderia dar certo. “Tendo à testa justamente os piores elementos do colégio, como é que o grêmio poderia dar certo?” Relembrando isso, agora, vejo um certo paralelo com o que é relatado nos Evangelhos, quanto às críticas que Jesus recebia por comer em companhia dos publicanos e pecadores. A Bíblia nos diz: “Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Marcos 2:17).
O grêmio deu certo, sim, e eles sentiram que tinham um propósito, que eram respeitados por alguém. Eu fazia com eles reuniões de planejamento das atividades do grêmio e nelas discutia-se também a necessidade de assistir às aulas, de fazer os trabalhos escolares. Se o grêmio organizava uma festa, na escola, eu exigia que não houvesse álcool nem drogas, e a exigência era respeitada. Foram realizadas visitas de estudo fora da escola e o comportamento deles foi ótimo. Eles passaram, com naturalidade, a demonstrar as qualidades espirituais que tinham, por serem filhos de Deus. No fim do ano, todos os alunos que faziam parte dessa turminha foram aprovados, com exceção de uma menina. Além disso, a exposição de trabalhos dos alunos do dia ficou intacta o tempo todo.
