A Expectativa De que o mundo acabará ou de que Jesus retornará num determinado momento e local é um tema recorrente na história cristã. Na Segunda Epístola de Pedro, no Novo Testamento, o autor dirige-se àqueles que haviam acreditado erroneamente que Deus destruiria o mundo com fogo e que Jesus retornaria ainda durante o curso de vida deles. A demora desses acontecimentos estava, aparentemente, gerando dúvidas entre os primitivos cristãos. Numa tentativa de acabar com a fixação que eles tinham pelo tempo, o autor dessa epístola explica que “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pedro 3:8).
Enfatizando ainda mais a futilidade de se tentar confinar o Deus infinito a um cronograma, o escritor continua: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3:9). Aquilo que, para alguns parece demora, é interpretado nesse versículo como a evidência da misericórdia de Deus, dando às pessoas mais tempo para se arrependerem e se volverem do mal para o bem.
Em grego, o significado da palavra traduzida para o português como “arrependimento” inclui o sentido de “pensar de uma forma diferente” ou “reexaminar os pensamentos”. Esse foi o tema do ministério cristão a partir do momento em que Jesus começou a pregar, dizendo: “...Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 4:17).
Ele exortava as pessoas a reexaminarem as doutrinas que seguiam e os conceitos que aceitavam como verdadeiros. Mandava que elas pensassem de uma forma diferente, que se libertassem das limitações de uma estrutura materialista e adotassem conceitos mais espirituais. Por exemplo, ele pediu que elas pensassem melhor a respeito do mandamento “Não matarás”, exortando seus seguidores a não apenas absterem-se de matar, mas também a se recusarem a ficar irados sem motivo ou chamar alguém de tolo (ver Mateus 5:21, 22).
Em tudo o que dizia e fazia, Jesus exortava as pessoas a reexaminarem as crenças que tinham. Quando curava as pessoas de doenças consideradas incuráveis, quando caminhava sobre as águas, quando acalmava as tempestades e ressuscitava os mortos, ele fazia com que aqueles que testemunhavam esses acontecimentos repensassem as idéias que aceitavam como verdadeiras sobre a matéria, a doença e a morte.
Será que a matéria é uma substância sólida? Será que a doença faz parte da vida? Será que a morte é irreversível? Ele parecia dizer: Pense de novo sobre isso. Pondere melhor sobre o assunto. Reexamine seus pensamentos. Analise o que está por baixo da superfície material da vida.
Isso foi o que Mary Baker Eddy fez em meados do século XIX, numa época em que a corrente predominante no clero já não considerava o exemplo de cura cristã deixado por Jesus como um modelo a ser imitado. A persistência dela em volver-se das conjeturas materiais para a investigação dos fatos espirituais levou-a a restabelecer a cura cristã como um método prático de cuidado com a saúde e de crescimento espiritual. Certa vez, ela referiu-se à sua descoberta da Christian Science como “a sóbria reflexão da humanidade que prossegue” (Não e Sim, p. 19).
Como acontece com o cristianismo original, a Christian Science pede que pensemos de uma forma diferente. Exorta-nos a analisar bem e reexaminar a natureza da matéria, da doença e da morte. Coloca em dúvida as condições que percebemos através de nossos sentidos físicos e explica que o universo é criado pelo Espírito.
A mudança na maneira de pensar resulta na cura da doença e da injustiça
Essa mudança na maneira como entendemos a criação resulta agora, como no tempo de Jesus, na cura da doença e da injustiça. Mas esses incidentes de cura não são um objetivo em si mesmos ou de si mesmos. Eles são sinais de arrependimento, de se “pensar melhor” a respeito de qualquer situação. Eles apontam para uma necessidade contínua de nos afastarmos da matéria e reexaminarmos a natureza da substância e da vida, de irmos além da letra da lei e incorporarmos seu espírito. É esse repensar, essa “sóbria reflexão”, que conduz ao progresso da humanidade.
No Glossário do livro Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, a palavra ano é descrita em parte como “espaço de tempo para arrependimento” (p. 598). Nessa explicação espiritual do termo ano, a Sra. Eddy refere-se a uma parte do versículo da Segunda Epístola de Pedro mencionado acima, no qual a aparente demora de Deus em acabar com o mundo é interpretada como uma forma de conceder mais tempo para o arrependimento.
Essas idéias dão margem a algumas questões importantes sobre como encaramos a entrada e a passagem de um novo ano no calendário. Será que estamos aproveitando cada ano novo que nos é concedido como uma oportunidade de reexaminar e rejeitar a tirania do materialismo e de pensar de uma forma diferente sobre a natureza da realidade?
Vemos cada novo ano como um “espaço de tempo para arrependimento” ou apenas como uma extensão da vida mortal, que nos proporciona mais tempo para irmos em busca de conforto, felicidade e sucesso dentro da estrutura da mortalidade? Será que eu e você viveríamos de uma forma diferente, se considerássemos que o propósito de cada ano é conceder-nos um pouco mais de tempo para que pensemos melhor no significado da vida?
Deus, que com misericórdia inclui toda a Sua criação no Amor eterno, não está à espera de um momento propício para deixar cair uma espada sobre a cabeça dos pecadores e salvar algumas poucas pessoas justas. Esse Princípio divino também não mede nosso progresso de acordo com o passar dos anos, séculos ou milênios, mas de acordo com o bem que flui em nossa vida a cada dia, na medida em que nos volvemos da matéria para o Espírito.
Esse fluxo constante do bem é o reaparecimento do Cristo, a idéia espiritual de Deus, que Jesus expressou de modo tão perfeito em sua vida e nas obras de cura que realizou. A vinda do Cristo não depende de nenhum cataclismo, mas já está se manifestando em nós mesmos, transformando silenciosamente o universo.
