14:66-72 Antes de ser julgado perante o Sinédrio, Jesus profetizou que Pedro o negaria. Após o julgamento, a profecia cumpriu-se. Pedro, de fato, seguira Jesus, mas à distância. Estando Pedro embaixo no pátio, ... uma das criadas do sumo sacerdote ..., vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. Um galo cantou. Aparentemente, Pedro havia se esquecido da profecia de Jesus.
Mais tarde, a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem ... Tendo, anteriormente, afirmado com veemência que estava disposto a morrer com Jesus, Pedro agora pragueja e nega que conhecia esse homem. Mas, num sentido mais profundo, ele talvez estivesse certo. Será que ele conhecia Jesus de verdade, mesmo após ter reconhecido que ele era o Cristo Ver Marcos 8:29. e ter participado de seu ministério?
E...cantou o galo... De repente Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. Ele havia acabado de fazer o que havia dito que nunca faria. E... desatou a chorar amargamente.
15:1-20 Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes ... e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o magistrado romano. Alguns escritos remanescentes definem Pilatos como um homem cruel e corrupto, sendo muitos erros atribuídos à sua administração opressora. Entretanto, os evangelistas o descrevem de maneira mais humana, como uma pessoa que não desejava ser cúmplice da crucificação de Jesus.
Se, do ponto de vista cronológico, a narrativa de Marcos estiver correta, esse não é só um dia de festa, mas também o dia da preparação que antecede o sábado. Os inimigos de Jesus precisavam fazer tudo antes que entrassem em vigor as restrições relacionadas com o sábado. Ao final, Pilatos teria de julgar essa questão; ele tinha o direito de confirmar ou de revogar a sentença de morte.
Mas, para fazer isso, ele precisaria conhecer os fatos relacionados com o caso. Então Pilatos o interrogou: És tu o rei dos judeus? Ciente de que Pilatos poderia ficar indiferente a uma acusação de blasfêmia, o Sinédrio a substituiu por uma acusação de alta traição, que provavelmente inflamaria mais os ânimos. Se a preocupação religiosa era saber se ele era o Messias, a preocupação política era saber se ele era o rei.
Respondeu Jesus: Tu o dizes. A resposta é ambígua, ou seja, não é nem um "sim" direto, nem uma clara negativa. Como leitores, sabemos que ele é o rei, mas não segundo o conceito que Pilatos tinha sobre majestade. Jesus é o rei, ou seja, ele é o Guia, o porta-voz da mensagem de salvação.
Todavia, os principais sacerdotes estavam ficando muito preocupados e o acusavam de muitas outras coisas desconhecidas, apresentando, assim, falso testemunho. Desta vez, porém, Jesus não disse nada. Tornou Pilatos a interrogá-lo, procurando fazer com que ele respondesse às acusações. Jesus, porém, não respondeu palavra. O tempo das palavras havia chegado ao fim. Ver Amós 8:11, 12. Pilatos ficou muito admirado... Conforme A Bíblia na Linguagem de Hoje. Essa palavra era usada com frequência para descrever uma sensação de surpresa, espanto e até mesmo temor. Pilatos talvez não entendesse o que estava acontecendo, mas podia perceber algo incomum nesse homem e nas circunstâncias que o cercavam.
Embora não esteja provado do ponto de vista histórico, Marcos escreve que era costume dos romanos, por ocasião da festa, ... soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem. Estava na prisão um homem chamado Barrabás, que havia participado de um tumulto e cometido homicídio. A ironia é que Barrabás era culpado da acusação que havia sido falsamente levantada contra Jesus. Entretanto a multidão começou a pedir que soltasse Barrabás.
Resoluto, Pilatos perguntou à multidão: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? A pergunta é formulada na expectativa de uma resposta positiva. Pilatos bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado; não haviam sido apresentadas provas que fundamentassem as acusações. Talvez ele realmente estivesse impressionado e percebesse que Jesus não era um agitador político. Jesus permanecia em silêncio, resignado. Mas os principais sacerdotes estavam decididos a não verem seus esforços frustrados e incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás. Pilatos havia deixado de considerar dois aspectos da questão. O povo jamais o apoiaria contra o desejo do Sinédrio, e muitos dos que estavam na multidão eram amigos de Barrabás. É fácil imaginar que o Sinédrio manipulava a multidão, persuadindo-a a seguir na direção que eles queriam, murmurando coisas terríveis a respeito de Jesus. Assim, a multidão recusou a oferta de Pilatos.
A surpresa e a consternação de Pilatos ficam evidentes no seu esforço de negociar com eles: Que farei, então, deste a quem chamais o rei dos judeus? Eles, porém, clamavam: Crucifica-o! A multidão escolhe soltar um assassino, alguém que matou uma pessoa, em vez de libertar Jesus, que havia devolvido a vida a tantas pessoas! A ironia se intensifica. É Pilatos quem grita: Que mal fez ele? Embora essa seja outra confirmação da inocência de Jesus, ela não serve para nada. E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o! Eles haviam escolhido o castigo mais hediondo, reservado aos mais perversos criminosos.
Pressentindo a iminência de um tumulto, Pilatos deu-se por vencido e, querendo contentar a multidão, sol-tou-lhes Barrabás, que havia sido condenado por assassinato. E a Jesus, que ele acreditava ser inocente, mandou açoitar e entregou-o para ser crucificado.
Apesar do rigor do açoite romano, os soldados ... levaram Jesus para dentro do palácio, ... e reuniram todo o destacamento para o humilharem ainda mais. Zombando dele, devido às acusações de ser rei, vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam. Depois de o terem torturado, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem. Do ponto de vista dos soldados, essa situação lhes proporcionou uma pausa criativa nas tensões relacionadas com seus deveres em dias de festa. Do ponto de vista de Marcos, foi o cumprimento das Escrituras. Mas, há também um outro significado que denota grande ironia. Pensemos na maneira majestosa como Jesus havia entrado em Jerusalém. Mais tarde ele fora ungido. O sumo sacerdote lhe perguntara: "És tu o Cristo...?" Jesus respondera: "Eu sou", e eles o condenaram à morte. Pilatos lhe havia perguntado: "És tu o rei dos judeus?" E o apresentou à multidão tratando-o dessa forma, exatamente antes de ordenar sua execução. Os soldados o haviam saudado, embora o tivessem feito com zombaria. Ele seria pendurado em uma cruz com a inscrição: "O Rei dos Judeus". Como leitores, sabemos da verdade a respeito dessas palavras, mas as personagens no relato não compreendem isso.
Algumas vezes, os leitores da Bíblia podem sentir-se inclinados a atenuar a angústia e o abandono de Jesus, voltando-se diretamente para sua glória. Contudo, para poder valorizar a glória e a vitória, precisamos estar cientes da magnitude do desafio. No próximo segmento, falaremos sobre a crucificação.
