Como sempre, no início do ano escolar, os professores comentavam sobre as novas turmas de alunos. “Minha classe é tão agitada!” “Este ano não dei sorte... tenho dois meninos chamados Rafael, na minha turma!” “Ah, este ano tenho um Leonardo, você sabe como são todos os Leonardos...” É sempre muito grande a sugestão de que crianças com um determinado nome apresentam um determinado tipo de comportamento. Por associação de idéias, não é raro os professores rotularem este ou aquele aluno, com base em experiências anteriores, agradáveis ou ruins.
Todos ficaram admirados por ser eu a única professora que não havia se queixado de sua classe. Com o passar das semanas, porém, acabei me convencendo de que não era possível que só a minha turma, na escola toda, não tivesse nenhum problema. E os problemas começaram a aparecer. Agressividade, ciúmes, apatia, parecia que eu estava perdendo o controle da classe e a cada dia eu me sentia mais incomodada.
As crianças estavam aprendendo a ler e, como primeiro texto, como ponto de partida para o processo de alfabetização, estávamos utilizando o nome de cada uma delas. O nosso nome é o que primeiro nos dá um senso de identidade. Na época de que nos fala a Bíblia, o nome da pessoa muitas vezes era dado, ou mudado, de acordo com as características dessa pessoa; ele era, realmente, a expressão de sua natureza, de sua identidade. Por isso, comecei a me perguntar: “Qual é o verdadeiro nome, a verdadeira identidade, destas crianças?”
O meu amor pelos alunos não dependia das características deles
Muito antes de serem meus alunos, cada um deles era o filho amado de Deus. O Pai-Mãe era o verdadeiro responsável por meus alunos, pois Ele criou tudo e só criou o que é puro, bom, belo e harmonioso. Eu também estava sob o cuidado constante de Deus, guiada por Ele a tomar as atitudes corretas, a cada momento. Aos poucos fui adquirindo uma sensação doce e serena de paz, profunda paz interior. Comecei a perceber claramente o que era necessário fazer: em vez de me fixar no nome de cada um deles, devia reconhecer a identidade espiritual, pronta e madura, de cada aluno. Cada criança, independentemente do nome humano que tivesse, só podia manifestar o nome, a natureza, do Cristo. Certa vez, Jesus disse: “...quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe” (Mateus 18:5). Não é de admirar que, à medida que eu reconhecia as qualidades que o Cristo conferia àqueles pequeninos, eu mesma me tornava mais calma, mais serena, mais paciente.
O mais interessante, nessa experiência, foi que meu amor pelos alunos não dependia das características deles (como gostar mais de quem era bonzinho e menos de quem era rebelde). Eu conseguia ver e amar as qualidades divinas do Cristo em todos, sem distinção. Essa é uma lei do Princípio infinito, Deus. Todos nós já estamos capacitados a amar, ou seja, a reconhecer em nós mesmos e nos outros o perfeito reflexo espiritual de nosso Criador.
Já quase no meio do ano, um aluno de outra turma, classificado de “hiperativo”, foi transferido para a minha classe. Ele havia causado muitos transtornos para os colegas e para a professora anterior a mim. Como eu estava apoiada na oração e nos fatos espirituais que já expliquei, recebi com alegria o novo aluno. E o nome dele era Rafael, um “daqueles” nomes. Não tardou muito que algumas colegas viessem me felicitar pela “coragem” de aceitar o menino, inclusive contando de outros Rafaéis “terríveis”.
Lembrei-me de um trecho de Ciência e Saúde que diz: “As opiniões humanas não são espirituais. Procedem do ouvir dos ouvidos, da corporalidade e não do Princípio, do mortal e não do imortal” (p. 192). Ora, se não procedem do Princípio, não procedem da Verdade, que é outro sinônimo de Deus, e portanto não podem ser verdadeiras. Vi que não precisava ter “coragem”, pois não teria de enfrentar um combate. Já me havia sido demonstrado o poder do pensamento inspirado para estabelecer a harmonia na classe. Partindo da convicção íntima de que o menino possuía qualidades cristãs como todo filho de Deus, não o vi como se fosse um problema. Reconheci e dei realce às características espirituais que ele refletia de Deus. Em pouco tempo, ele se tornou meu auxiliar, ajudando a coordenar as atividades na sala. Esse Rafael teve um ano escolar em tudo bastante produtivo e seu nome era ouvido somente em elogios.
A Sra. Eddy diz, em Ciência e Saúde: “Toda a educação das crianças deve visar a formação de hábitos de obediência à lei moral e espiritual, com os quais a criança possa enfrentar e vencer a crença nas pretensas leis físicas, crença essa que engendra as moléstias” (p. 62). A melhor maneira de levar a criança à “obediência à lei moral e espiritual” é procurarmos nós mesmos obedecer a essa lei, mantendo em nossa consciência a individualidade espiritual, o verdadeiro nome de cada um.
