O é catedrático na Katholieke Universiteit Brabant (Universidade Católica Brabant), na cidade de Tilburg, Holanda. Seu pai era pastor da igreja reformada holandesa, por isso os valores cristãos estiveram muito presentes desde sua mais tenra idade. Participou de movimentos de evangelização em lares e continua muito ativo em sua igreja. Graafland tem quatro filhas, a mais nova com dois anos e a mais velha com nove. Sua primeira formação é em econometria, uma área muito matemática e analítica, não relacionada a valores éticos. Não encontrando nisso total satisfação, e desejando estabelecer uma relação entre os valores cristãos e a economia, estudou teologia e encontrou inspiração na Bíblia, nos livros de Deuteronômio e II Timóteo. Durante o Simpósio sobre Negócios e Espiritualidade, realizado no Babson College, em Boston, Graafland conversou com . Apresentamos aqui excertos dessa conversa.
Aos 18 anos fiz um teste vocacional que revelou minha inclinação para econometria, uma especialidade da área de economia, para analisar e medir dados económicos. No terceiro ano da faculdade, comecei a trabalhar na Universidade Erasmus, em Amsterdã, como aluno assistente. Ao me formar, em 1986 passei a trabalhar quatro dias por semana em um instituto cuja função é orientar o governo sobre a economia. Em seguida, fiz o curso de doutorado e o concluí em 1990. Eu analisava as possíveis consequências que afetariam o mercado de trabalho, principalmente para as profissões que requerem pouca ou nenhuma formação, composta pela classe de trabalhadores que mais sofre.
Minha dissertação foi sobre os motivos para a concessão do auxíliodesemprego. No começo dos anos 80, o índice de desemprego na Holanda era 11% e quando a economia mundial melhorou, esse índice começou a decair lentamente e hoje é de 3%. É claro que não temos como medir, mas acredito que nossas orações contribuíram para o progresso económico e para a geração de novos empregos.
Também utilizei minha experiência em composição de salário, oferta e procura de trabalho. Construí um modelo para mostrar como o desemprego é afetado pela política governamental.
De uma certa forma, a espiritualidade contribuiu para esse meu trabalho. Mesmo ao pesquisar objetivamente, a fé em Deus e a forma como se vê o mundo e as pessoas influenciam o resultado. Por exemplo, o fato de eu me interessar pelo desemprego tem a ver com o fato de eu acreditar em Deus. Valorizo muito o cuidado e a atenção que devemos dedicar áqueles que mais sofrem.
Quando criei um modelo de análise de trabalhadores, constatei que as pessoas não trabalham somente pelo dinheiro, mas sim por valores que vão muito além do aspecto materialista do trabalho. E isso foi algo novo. O estudo dos modelos neo-clás-sicos, frequentemente usados para analisar a disponibilidade de mão-de-obra no mercado, constata somente dois objetivos: consumo e divertimento. Mas, ao falar sobre a classe mais pobre, a questão é muito mais delicada.
Dentro do meu desejo cristão de ajudar o próximo, acho que os governos devem oferecer à população boas condições sociais, como educação e emprego. Entretanto, os membros da sociedade também têm uma responsabilidade cada vez maior, visto que a dinâmica da economia está se alterando. À medida que a globalização aumenta, o poder do governo diminui, enquanto cresce a responsabilidade das empresas em auxiliar a resolver problemas sociais, como a grande disparidade entre ricos e pobres. E as empresas podem contribuir muito para a redução dos problemas ambientais. E esse é um objetivo do momento: mostrar às grandes empresas que é possível encontrar um equilíbrio entre a lucratividade e os valores sociais e ambientais. Essa é uma maneira de ajudar o próximo.
Em abril deste ano, ao receber minha cadeira na Universidade, tive de dar uma palestra para todos os professores. A primeira parte foi sobre ética e apresentei um modelo económico sobre o relacionamento entre a sustentação económica, social e ecológica. A segunda parte foi para refletir sobre a responsabilidade das empresas, ou seja, se é obrigação ou opção contribuir para a sociedade e para a ecologia. Também falei sobre os motivos cristãos. para mim, Deus é o Criador, ou seja, é o primeiro "dono" do universo. Quando acreditamos que Deus valoriza Sua criação, as pessoas e o meio ambiente, temos de fazer com que outros vejam esses valores. Essa conscientização esclarece a diferença entre sentir-se "obrigado a fazer o bem" e "motivado a fazer o bem". E encontramos essa motivação tanto no antigo testamento como no novo. No êxodo dos israelitas estava presente o espírito cooperativo entre o povo. E no exemplo de Jesus, ao dedicar sua vida à humanidade, ele pediu que vivamos e compartilhemos sua mensagem.
É muito importante empenharnos para conscientizar os homens de negócios sobre valores éticos e cristãos. É claro que uma empresa precisa ser lucrativa para sobreviver, mas é preciso pensar quais são seus verdadeiros valores e propósito, assim como sua contribuição para o mundo. E aqueles que acreditam em Deus podem sistematicamente buscar o plano divino. Como igreja, como membros da sociedade, como empresários, é importante fazermos algo para aqueles que estão desempregados ou que têm uma incapacidade física ou mental. Não podemos simplesmente esquecer esse problema
A oração é, com certeza, uma grande ajuda, e nos fornecerá idéias que trarão soluções.
