Minha mãe queria muito trocar o tapete da sala. Após tantos anos tentando disfarçar as marcas das crianças com cores escuras, ela estava ansiosa para deixar a sala de visitas mais luminosa, usando um tom mais claro de tapete.
Como ela não estava em casa, sua neta Stephanie se encarregou de receber os entregadores na manhã em que entregaram o tapete.
Quando minha mãe chegou em casa à tarde, correu ansiosa para a sala de visitas. Sem perceber que ainda estava com os óculos escuros, ela olhou para o chão e comentou com um certo desapontamento na voz: "Não é tão claro como eu imaginava."
A Stephanie, que estava a seu lado, sugeriu: "Vovó, tire os óculos escuros!" Quando ela fez isso, percebeu que o tapete era exatamente da cor que ela havia previsto.
Da mesma forma que uma lente colorida faz uma grande diferença na aparência das coisas, nosso estado mental é uma espécie de lente que influencia o que vemos e vivenciamos.
Era evidente que as pernas da minha filha não estavam se desenvolvendo na mesma proporção.
E para que possamos encarar a nós mesmos e aos outros a partir de uma perspectiva mais nítida, é importante conseguir um conceito de identidade mais preciso, mais espiritual. Isso pode ter um efeito marcante em nossa vida. A fundadora do O Arauto escreveu: "A medida que os mortais conseguirem conceitos mais corretos acerca de Deus e do homem, inumeráveis objetos da criação, que antes eram invisíveis, tornar-se-ão visíveis" (Ciência e Saúde, p. 264).
Esses "conceitos mais corretos" abrem o caminho para a cura física. E nós os conseguimos quando realmente desviamos o olhar de um conceito, de uma noção mortal baseada na carne, sobre quem somos, e reconhecemos que cada pessoa é a imagem espiritual de Deus.
São Paulo escreveu: "Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade" (1 Coríntios 15:53). Em Ciência e Saúde lemos: "Os mortais despojam-se do que é mortal, e revestem-se do novo homem ou homem real, na proporção em que compreendem a Ciência do homem e procuram o modelo verdadeiro" (p. 409). Voltar a atenção para o fato espiritual ao invés de nos fixarmos no aspecto material das coisas significa "despojar-se" aos poucos da mortalidade e "revestir-se" da imortalidade.
Minha família constatou o impacto dessa mudança de enfoque na sua vida. Quando minha filha Sarah estava cursando o ensino fundamental, era uma criança com muita energia. Então, ela sofreu um acidente quando patinava no gelo. Eu e meu marido começamos a orar para ela imediatamente. Firmamo-nos na idéia de que ela não poderia estar separada de Deus. Achamos que essa era a maneira mais eficaz de ajudarmos nossa filha. Já havíamos presenciado inúmeras vezes o poder da oração na cura de problemas físicos, até mesmo os mais graves.
Mas percebemos que Sarah começou a se apoiar mais em um pé do que no outro.
Continuamos a orar para reconhecer que sua identidade era perfeita sempre, e que era algo que lhe havia sido concedido por Deus.
Porém, conforme Sarah crescia, era evidente que suas pernas não estavam se desenvolvendo normalmente ou na mesma proporção. A perna que ela havia machucado estava visivelmente mais curta do que a outra e ela mancava muito quando caminhava.
Certa manhã, depois de vê-la brincando com as amigas no quintal de nossa casa, confidenciei minha preocupação a um membro de nossa igreja, esperando receber palavras de consolo. Sua resposta surpreendeu-me.
"Como você está vendo sua filha?", perguntou-me ele. "Será que a espontaneidade, a agilidade e a energia dependem da matéria para se expressar ou são elas qualidades espirituais, que fazem parte de sua filha eternamente?"
Esse comentário me abriu os olhos. O sorriso fácil e gracioso de Sarah, sua risada alegre, sua amabilidade, bem como sua energia e agilidade, essas qualidades jamais poderiam ser perdidas ou prejudicadas, porque elas nunca deixavam de emanar de Deus. Eu havia tirado os óculos escuros, por assim dizer, e percebido o que significa tornar-se menos mortal e mais imortal.
Eu e meu marido continuamos a orar para a cura de Sarah, mas com um enfoque diferente. Quando ela começou a cursar o ensino médio, suas pernas estavam crescendo normalmente e ela participava de esportes vigorosos na escola. Ainda hoje ela gosta de praticar atletismo. Ela corre regularmente em maratonas e participou até de uma maratona especial realizada nas Montanhas Rochosas.
Quanto mais reconhecermos, ou seja, compreendermos, que nós mesmos e as outras pessoas somos espirituais, independentemente de condições físicas, tanto mais a saúde e a liberdade se tornarão evidentes na nossa vida. Por isso, vamos tirar os "óculos escuros", e deixar entrar mais da luz do sol da imortalidade em nossa vida!
