Nasci em Angola, um país belíssimo, com cores difíceis de descrever. Mas havia, na época, uma situação de guerra, medo, ódio, destruição e necessidade de fuga. Para alguns, tratava-se de "terrorismo", para outros, eram atos plenamente justificados. Infelizmente, apesar dos esforços e das décadas que se passaram, a situação continua difícil. A minha família conseguiu escapar da guerra e alcançar outro continente, onde reconstruímos nossa vida.
Muitos de nós sofremos o impacto de guerras, fome, doenças, e muitas vezes ficamos sem esperança de conseguir ultrapassar essas experiências. Tensões e conflitos econômicos, políticos e religiosos oprimem às vezes populações inteiras e nos sentimos impotentes para ajudar. Como podemos combater essa sensação de impotência?
Em um comentário bíblico, encontrei uma observação interessante a respeito das tentações que Cristo Jesus enfrentou no deserto. No Evangelho de Mateus (cap. 4), a Bíblia narra que, depois de quarenta dias de jejum e oração no deserto, Jesus teve fome e o tentador lhe sugeriu converter as pedras em pães. Nessa tentação, o comentarista vê um paralelo com os problemas econômicos que o homem enfrenta, individual e coletivamente.
A seguir, o tentador desafia Jesus a atirar-se do pináculo do templo, isto é, a mostrar-se poderoso. Aqui também, o estudioso vê um paralelo com os conflitos políticos e a luta pelo poder.
Por fim, o diabo incita Jesus a prestar-lhe adoração, em troca de algo (todos os reinos do mundo) que, em realidade, não poderia lhe dar. Nessa tentação, o comentarista identifica o conflito religioso: quais os deuses que adoramos? (The Complete Bible Handbook, John Bowker, DK Publishing, pp. 326-327).
As guerras e a pobreza que afetam o continente africano, e tantos outros lugares do planeta, podem ser comparadas às tentações que Jesus sofreu no deserto. Embora se apresentem de formas diferentes, elas possuem aquele mesmo denominador comum da economia, da política e da religião. Por isso, podemos aprender com o exemplo de Jesus: ele venceu cada uma daquelas tentações. Para cada argumento do tentador, ele tinha uma resposta pronta, sob a forma de uma lei espiritual. E "...com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram", diz a Bíblia.
Por que Jesus teve essa autoridade? "A Verdade, a Vida e o Amor divinos davam a Jesus autoridade sobre o pecado, a doença e a morte. Sua missão foi revelar a Ciência do ser celeste, provar o que Deus é, e o que Ele faz pelo homem", escreveu a Sra. Eddy em Ciência e Saúde (p. 26). Nesse livro, ela define Verdade, Vida e Amor como sendo sinônimos de Deus, referindo-se a um Deus único e sempre presente. Assim como a Vida, a Verdade e o Amor estavam com Jesus e lhe davam autoridade, também estão presentes em todas as situações da nossa vida, em qualquer lugar do mundo.
Eu pude sentir essa Vida, essa Verdade e esse Amor em muitos aspectos do dia-a-dia. Por exemplo, certa vez, à porta de casa, quando corria para apanhar a camioneta da escola, fui colhida por um caminhão e jogada para longe como se eu fosse uma pequena trouxa de roupa. Mais tarde, no hospital, os médicos, depois de me observarem, disseram que foi um milagre eu não ter ficado esmigalhada entre as dez rodas do caminhão. Durante todo esse tempo não perdi a consciência e senti-me protegida e resguardada. E sei que qualquer que seja o continente em que eu estiver, Deus está sempre comigo para me guiar, me amparar e me libertar do perigo.
O poder de Deus, como Vida, é tão infinito que pode nos proteger tanto de um caminhão como de bombas. O alcance de Deus, como Amor transpõe toda e qualquer fronteira econômica, política ou religiosa.
O poder de Deus, como Vida, é tão infinito que pode nos proteger tanto de um caminhão como de bombas. O alcance de Deus, como Amor, transpõe toda e qualquer fronteira econômica, política ou religiosa. A luz de Deus, como Verdade, ilumina a compreensão e dá inteligência a todos os Seus filhos para encontrarem as soluções e os recursos necessários.
Passaram-se muitos anos depois do evento que relatei. A Vida, a Verdade e o Amor continuam comigo, desde a África, através da Europa e até à América do Norte. E sei que estão presentes nos recantos mais remotos do globo, para abençoar e guardar Seus filhos amados.
