As Escrituras falam de inúmeras mulheres heróicas, influentes, que, com sua atitude fizeram diferença e deixaram bons exemplos de maternidade.
Há Joquebede, mãe de Moisés, que desafiou a ordem do Faraó de matar os filhos homens e escondeu Moisés o quanto pôde. Colocou-o depois numa cesta calafetada e soltou-o sobre o rio, pedindo à filha mais velha que o seguisse pela margem. Quando a filha do Faraó encontrou a criança, a irmã de Moisés sugeriu que Joquebede o amamentasse, sem revelar que ela era sua mãe. A coragem moral de Joquebede foi assim recompensada, pois não só ela preservou a vida do filho, mas também teve a certeza de que ele estava bem cuidado (Êxodo 2).
Numa cultura em que não ter filhos era considerado um sinal do desagrado de Deus, vemos Ana que, mesmo estéril, não desanima em sua oração e se torna mãe de Samuel. Em gratidão por seu nascimento, entrega-o ainda criança ao sacerdote Eli, para ser criado no serviço do Senhor. Ana aceita separar-se dele e passa a vê-lo apenas uma vez por ano, mas fica feliz por saber que ele terá uma grande carreira (ver 1 Samuel 1 e 2). O cântico de agradecimento que Ana entoa ao entregar o filho, é a base do cântico que, séculos depois, entoaria Maria, mãe de Jesus (Lucas 1:46-55).
E por falar em Maria, já pensaram em como Jesus poderia ser considerado um filho "difícil"? Um filho bom, sem dúvida, mas seu comportamento não era típico. Ele tinha uma missão divina a cumprir e Maria precisou de muita paciência e humildade. Mesmo antes de Jesus nascer, Maria aceitou correr o risco de ser envergonhada perante a sociedade, pois ainda não estava casada. Logo após o nascimento de Jesus, seus pais tiveram de fugir para o Egito, devido à perseguição de Herodes; anos depois, o menino ficou para trás em Jerusalém, deixando-os preocupados, a procurálo por toda a cidade durante três dias; já homem, em vez de tranquilamente seguir o ofício da família, na carpintaria, Jesus saiu pelo país a pregar, sendo atacado por escribas e fariseus, a elite da época. O que teria sentido a mãe, enquanto isso? Uma coisa sabemos: ela nunca impediu nem atrapalhou sua missão.
Entre tantas outras mães, na Bíblia, uma em particular tem algo em comum com muitas mães da atualidade: ela teve de criar o filho sozinha e tornou-se chefe da família. Trata-se de Hagar (Gênesis 16 e 21), escrava egípcia na terra de Canaã: essa condição já indica um início de vida desafortunado, pois além de escrava, vivia em terra estrangeira, como serva de Sara, mulher de Abraão. Embora Deus houvesse prometido a Abraão uma grande descendência, os anos haviam se passado e Sara ainda não tivera nenhum filho. Como era costume na época, ela sugeriu ao marido que tivesse um filho com sua escrava, Hagar. Esta concebeu e provavelmente sentiu-se orgulhosa disso, talvez tenha se sentido superior à estéril Sara. "Foi sua senhora por ela desprezada", diz a Bíblia (Gen. 16:4). Sara reagiu e "humilhou-a", continua o relato bíblico.
Deve ter sido um tratamento extremamente duro, pois lemos que, embora grávida e sozinha, Hagar fugiu para o deserto, onde não havia nem recursos nem proteção. Foi um ato de desespero, sem dúvida. Um "anjo do Senhor", uma mensagem divina, foi ao seu encontro, no deserto, e deu-lhe a ordem de voltar para Sara. Ao mesmo tempo, transmitiu-lhe a promessa divina de que ela teria numerosa descendência. Assim sendo, a mesma promessa feita ao grande patriarca Abraão, foi feita também a uma mulher escrava, de outro povo. Deus é imparcial em Seu amor. Hagar tem a percepção de um Deus que a vê, isto é, que está presente, que a leva em consideração, apesar de sua humilde condição social. Deduzimos que essa compreensão lhe dá forças para engolir o orgulho e voltar humildemente para a casa de sua senhora, onde seu filho estaria protegido. Ao nascer o menino, Abraão o reconhece como filho e lhe dá o nome de Ismael.
Anos mais tarde, Sara teve finalmente um filho seu, Isaque, e novamente foi tomada de ciúmes contra Hagar. "Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque, meu filho" disse ela a Abraão (Gen. 21:10). A Bíblia conta que o patriarca ficou triste com a idéia de separar-se de Ismael mas, para manter a paz conjugal, resolveu confiar o menino aos cuidados de Deus, e despediu mãe e filho com comida e água para atravessar o deserto.
De novo está Hagar no deserto, desta vez não por decisão própria, com uma criança para cuidar e sem ajuda humana. Uma vez acabada a água, coloca o menino debaixo de um arbusto e afasta-se para não vê-lo morrer, pois a morte lhe parece a única perspectiva. Chora amargamente, de desespero e solidão. Outra vez uma mensagem angelical lhe traz à lembrança o cuidado de Deus e Sua promessa. Abrem-se-lhe os olhos e ela vê um poço. É a salvação. Daí em diante, "Deus estava com o rapaz, que cresceu, habitou no deserto e se tornou flecheiro; habitou no deserto de Parã, e sua mãe o casou com uma mulher da terra do Egito", narra a Bíblia. A tarefa de encontrar esposa para os filhos era tarefa masculina, mas Hagar cumpre esse papel também. Escrava submissa no início, veio a ser mãe de um grande povo, após sua luta interior e aprendizado.
A fé e criatividade de Joquebede, a persistência e desprendimento de Ana, a humildade e paciência de Maria, a coragem e capacidade de recuperação de Hagar, são qualidades espirituais que continuam sustentando as mães de hoje.
