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Matéria de capa

Celebrar a vida

Da edição de novembro de 2005 dO Arauto da Ciência Cristã


Novembro de 1982... Estava enfrentando pela primeira vez o frio e os dias nublados de um outono austríaco. O dia 1º foi feriado nacional. Como não houve aula, ao passear de bonde, pude observar várias pessoas se dirigindo ao Zentralfriedhof (cemitério central), não muito longe de onde eu morava. Várias coisas me chamaram a atenção: a maneira como as pessoas estavam vestidas, as flores que carregavam, a expressão que tinham no rosto. Não me parecia algo tão lúgubre, triste, mas um evento social e familiar. Mais tarde, aprendi que era isso mesmo. O dia seguinte, dia 2, foi só um feriado religioso, não nacional como eu estava acostumada no Brasil.

Na verdade, nunca havia gostado dessa época do ano. Por vários motivos, sempre tentei fazer algo diferente do que faz a maioria das pessoas. Durante muitos anos na minha adolescência e fase adulta questionei o comportamento da comunidade no Dia de Finados e não fui a cemitério.

Após aquele novembro em Viena, houve diversos episódios em que chorei desesperadamente, inconformada pela falta de minha mãe, sentindo-me injustiçada por ter presenciado sua enfermidade e morte na minha infância, ter crescido sem sua presença, por passar momentos solitária e sem um ombro maternal para descarregar minhas lágrimas.

Não era nada promissor manter esses sentimentos, por isso, recorri à oração. Desde pequena aprendi de memória a Oração do Senhor. O primeiro verso diz: “Pai-Nosso que estás no céu”. O sentido espiritual que Mary Baker Eddy apresenta para essa frase é: “Nosso Pai-Mãe Deus, todo-harmonioso.” Dessa vez, mais do que nunca, meu coração foi tocado e comecei a me libertar de uma imagem física. Não deixei de amar minha mãe, mas comecei a entender que eu tinha minha Mãe, Deus, sempre ao meu lado e que o amor, o carinho e o consolo maternos de que precisava, estavam disponíveis para mim naquele exato momento e, na verdade, sempre estariam. Esse pensamento me trouxe não somente consolo, mas também força, esperança e base para uma vida normal, sadia e feliz. Não sei dizer precisamente quando aquele sentimento de perda ou de falta se esvaneceu, mas poderia dizer que a cura foi tão completa que várias pessoas surgiram em minha vida como “mães” e cresceu em mim um sentimento maternal para com crianças, familiares e amigos, o que até hoje me enche de alegria.

Ao estudar a Bíblia e Ciência e Saúde, acalmaram-se minhas inquietações. Entendi que a questão comportamental é fruto da cultura, assim como da interpretação de um povo sobre o significado religioso da existência.

Não há dúvidas de que o estudo acadêmico, o interesse por várias áreas de conhecimento e a leitura também moldam a maneira de pensar e agir de cada um. No meu caso, sinto que, muito mais do que a combinação de todos esses aspectos, a visão de vanguarda, progressista, profunda e metafísica da Christian Science formaram o meu conceito, fundamentado na Bíblia, sobre o mundo e sobre mim mesma.

Ao escrever a Primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo estava em Éfeso, na Ásia menor, atualmente conhecida como Turquia, e Corinto está na Grécia. Como o Cristianismo estava se difundindo rápida e livremente, Paulo mantinha correspondência com os cristãos e sentia uma forte missão de espalhar os inovadores e profundos ensinamentos de Jesus. Apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente, Paulo considerava ter recebido um chamado para tão nobre incumbência divina. O povo em Corinto estava distorcendo alguns aspectos da verdadeira vida cristã e vivendo em desordem, e aqui Paulo mostra como encarar e analisar diversos aspectos para uma vida pacífica e correta. No capítulo 15 dessa carta, há uma extensa explicação sobre o verdadeiro sentido da vida e da vida eterna. Ali, afirma que o último inimigo que será destruído é a morte. Podemos pensar por que “o último inimigo” e como “será destruído”.

Mary Baker Eddy apresenta respostas de uma forma muito lógica: “A Vida é a lei da Alma, ou seja, a lei do espírito da Verdade, e a Alma nunca está sem seu representante. O ser individual do homen não pode morrer nem desaparecer na inconsciência, como também não o pode a Alma, pois ambos são imortais” (Ciência e Saúde, P. 427). Aqui, a autora usa os substantivos em maiúsculas para se referir a Deus. A lei citada é divina, portanto, absoluta e incontestável. Por ser o homem representante da Alma, Deus, é imortal, ou seja, não morre, é eterno.

“A morte nada mais é senão outra fase do sonho de que a existência possa ser material. Nada pode interferir na harmonia do ser, ou pôr termo à existência do homem na Ciência. O homem é o mesmo, tanto depois como antes de ter fraturado um osso ou de seu corpo ter sido guilhotinado. Se o homem nunca houvesse de vencer a morte, por que dizem as Escrituras: 'O último inimigo a ser destruído é a morte'?” (Ibidem). Parece-me claro que não se trata do homem corporal, de quantos anos vai viver, ou de que o corpo humano deveria ser imortal. O inimigo que tenta nos aprisionar é o conceito limitado de vida, o conceito de que somos sujeitos à decadência e a um fim. Tais conceitos devem ser destruídos, vencidos pela compreensão de que a vida é eterna.

“O teor da Palavra significa que obteremos a vitória sobre a morte, na proporção em que vencermos o pecado”, continua a Sra. Eddy. À medida que eliminarmos de nossos pensamentos pontos de vista limitados, injustos, egoístas, vingativos e maldosos, estaremos vencendo o pecado, e conseqüentemente, a morte. “Deus, a Vida, a Verdade e o Amor fazem imperecível o homem” (Ibidem). Imperecível. Eterno. Imortal. Esse é o homem criado por Deus.

Paulo também alude ao fato de que há corpos celestes e um certo tipo de beleza neles. Mas tanto o corpo quanto a beleza são espirituais. Não há uma definição ou forma humanamente descritível, só a certeza de que no Reino de Deus há imortalidade. Esse Reino não é algo distante, mas sim o estado de consciência do bem que podemos alcançar aqui e agora. É a transformação que pode ocorrer num abrir e fechar de olhos, no abandono de um pensamento materialista e limitado para a conquista do pensamento espiritualizado e ilimitado.

Ao fim desse capítulo, para dar força e autoridade ao que afirma, Paulo menciona dois profetas, bem conhecidos ao povo hebreu: “a morte está destruída e a vitória é completa”, ou “tragada foi a morte pela vitória”, retomando a idéia de que Deus acabará com a morte e enxugará as lágrimas dos olhos de todos (ver 1 Cor. 15 e Isaías 25); “onde está, ó morte a sua vitória?”, refutando que a morte e o castigo possam sobrevir aos que confiam no Senhor Deus (ver 1 Cor. 15 e Oséias 13). Mary Baker Eddy novamente faz menção aos versículos da Carta aos Coríntios ao explanar o triunfo sobre a morte: a imposição mortal entra em batalha contra os fatos da Vida imortal, mas a lei espiritual, imbatível e única, rejeita, condena e destrói o túmulo. O pensamento espiritualizado se reveste de imortalidade e incorruptibilidade, ou seja, não permite acepções limitadas e distorcidas a respeito da criação divina (ver Ciência e Saúde, P. 496). Portanto, vê e vivencia a eternidade, agora e sempre. Imposições fúnebres são eliminadas e uma sensação de paz, satisfação, ganho e tranqüilidade é adquirida. Nuvens escuras de tormentos pessoais ou coletivos são afastadas pelo sopro divino que traz luz, esperança e vida ao caminho a ser percorrido.

Essa compreensão espiritual possibilitou a mim e possibilita a qualquer pessoa, durante o ano inteiro, inclusive nos primeiros dias de novembro, rejeitar o luto e desfrutar da força e alegria divinas, celebrando sempre a Vida.

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