A mensagem que estava no toldo à beira da estrada, chamou minha atenção: “Todo aquele que desejar ser o primeiro precisa, primeiro, ser o último e o servo de todos”. Desde que meu trajeto para o trabalho me obrigava a passar diariamente em frente àquela igreja, fazia questão, frequentemente, de observar o tema para o culto do próximo domingo. Porém, a abordagem daquela semana despertou meu interesse mais do que das outras vezes. De maneira simples, mas profunda, ele repercutiu algo que eu havia descoberto como um assunto recorrente do princípio ao fim da Bíblia: aqueles que expressarem abnegação, misericórdia e compaixão, serão abençoados e terão uma vida plena e recompensadora. Contudo, ele também me lembrou de uma questão que estava tentando entender sobre o conceito de mansidão como um todo.
Pelo menos, de um ponto de vista bíblico, sabia que mansidão era uma qualidade importante. Afinal, as bem-aventuranças, que Jesus deu a seus seguidores no Sermão do Monte, contêm a seguinte promessa: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5). Mas, “isso se referia àquela época”, pensei, “agora é diferente”. Além disso, por mais que tentasse, não conseguia conciliar a idéia de mansidão com a realidade contemporânea do mundo ao meu redor.
De um ponto de vista profissional, a humildade pode ser tudo menos algo que esteja na moda. Tenho trabalhado em várias empresas corporativas e as pessoas que são promovidas estão longe daquilo que considero ser calmo. De fato, todo o conceito de humildade simplesmente não parece ter qualquer relevância prática para a vida moderna, em geral, uma vez que a auto-assertividade, a agressividade, a confiança em excesso, a ambição pessoal e o espírito empreendedor parecem ditar quem progride e quem fica para trás.
Contudo, como estudante da Bíblia por toda a minha vida, tenho recorrido incontáveis vezes aos exemplos dos profetas e de Cristo Jesus, em busca de inspiração sobre como viver um estilo de vida contemporâneo, com seus desafios também contemporâneos. Seus exemplos não poderiam lançar alguma luz sobre o tema da humildade, também?
Ao ponderar esse assunto com mais profundidade, compreendi que tanto as palavras como os exemplos de Jesus enfatizavam, de forma consistente, a necessidade de se viver uma vida humilde e abnegada. Mary Baker Eddy, cujo estudo da Bíblia e do ministério de cura de Jesus, levaram-na à descoberta da Christian Science, refere-se a Jesus em seu livro Ciência e Saúde, como: “o melhor homem que jamais pisou este mundo” (P. 52). Contudo, ela também o chama: “o humilde demonstrador do bem” (Ibidem, P. 49) e: “O grande Nazareno, tão meigo quão poderoso” (Ibidem, P. 597).
Pensei ser interessante, porque a análise da importante carreira de Jesus me fez lembrar que ele não seria alguém que eu teria, anteriormente, caracterizado como calmo. Ele derrubou as mesas dos cambistas e expulsou os mercadores do templo de Jerusalém. Repreendeu fariseus, escribas e outros líderes religiosos de sua época. Além disso, com “autoridade e poder”, ordenava aos espíritos imundos que saíssem de suas vítimas.
Perguntei-me: “Portanto, o que exatamente havia na vida e na prática de Jesus que o caracterizasse como calmo?” Parecia-me que sua humildade fluía de sua profunda, inspirada e incessante devoção a Deus. Às vezes, sua capacidade de pôr de lado sua própria vontade e de ouvir a orientação divina, refletia uma postura mais tradicional com relação à mansidão. “...não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22) foi sua sincera oração, naquelas horas que antecederam sua prisão e crucificação. Entretanto, em outras ocasiões, a obediência de Jesus à orientação de Deus o impeliram a vigorosamente declarar a verdade ou a repreender a hipocrisia. Não obstante, foi sua maneira humilde de ouvir e seu desejo consistente de fazer a vontade de Deus, que verdadeiramente fizeram de Jesus um modelo de mansidão. Ao pensar sobre isso, percebi um exemplo muito relevante a ser seguido em minha própria vida, especialmente nas atuais circunstâncias.
A empresa onde eu trabalhava anunciou que suas operações globais seriam vendidas. Fui demitida. Entrei em pânico ao pensar que teria de ser entrevistada pelos novos empregadores. Descobri que, quando tivesse de falar sobre mim mesma e sobre minha experiência profissional, eu hesitaria e entraria em choque ou falaria a esmo, com auto-assertividade excessiva. Então, uma amiga me ofereceu uma solução: “Quando você tiver de responder”, disse ela, “por que você não lembra a si mesma apenas de que está falando sobre uma filha de Deus?”
Então, ocorreu-me que talvez esta fosse a importância da mansidão: que o de que eu necessitava era uma abordagem como a do Cristo, tanto meiga quanto poderosa, porque ela brota do desejo de ser o homem ou a mulher que Deus criou. Percebi que estava disposta a ouvir a orientação de Deus sobre o que dizer, no momento apropriado, e que encontraria minha “verdadeira” voz, ou seja, aquela que expressa minha inerente auto-estima como o reflexo da Mente divina. Isso me capacitou a abordar as entrevistas com honestidade, integridade e convicção provenientes do reconhecimento de mim mesma como filha de Deus e não como uma “simples mortal”, tendo de reformular minha experiência humana e história material. Quanto mais eu orava ao longo dessas linhas, mais descobria que era plenamente capaz de atingir o nível de graça, equilíbrio e sinceridade nas entrevistas, o que no passado não havia conseguido. Ademais, descobri uma confiança que provinha da compreensão de que a mansidão e a coragem caminham lado a lado.
Como resultado da minha disposição crescente de me volver a Deus para obter orientação, compreendi que o verdadeiro significado de mansidão não é adotar ou desculpar uma atitude de timidez ou fraqueza, nem ser capacho para os outros pisarem. Ao contrário, é a força para manter a calma diante da adversidade; a tranquilidade e a gentileza diante da aspereza; ouvir de forma consciente e consistente a orientação divina e segui-la.
Essa é a mansidão que contém a promessa da bênção divina, a herança da saúde, da santidade e da verdadeira felicidade, aqui e agora.
