Algumas pessoas se perguntam: “Quem agüenta ser professora hoje em dia?” Bem, posso dizer que dou aulas há quase 35 anos. Tudo começou porque meu pai quis que suas filhas fossem professoras e sentia orgulho disso. Por isso, no curso médio fiz o “normal” ou magistério e, posteriormente, na universidade, Ciências Físicas e Biológicas e Pedagogia.
Logo depois de concluir o magistério, prestei um concurso público e ingressei em uma escola municipal na periferia de São Paulo, uma dessas escolas construídas em terrenos sem valor comercial, próximas a córregos que transbordavam, sem infraestrutura de saneamento, em ruas sem saída. Os alunos eram carentes, pobres e de favelas.
No início de minha carreira eu não gostava do que fazia. Tinha vergonha de dizer que era professora, pois não via sentido no trabalho. Em 1979, eu estava me divorciando e sentia minha vida pequena, apática. Ao conhecer a Christian Science passei a ver que tinha o direito divino de progredir. Com a reinstalação da democracia no país e da liberdade de pensamento, percebi o grande valor da alfabetização.
Ao compreender o que a educação pode fazer por uma pessoa e por um país, comecei a amar minha profissão, a me dedicar a ela e me aprimorar profissionalmente. Vi que a pessoa alfabetizada sabe quem ela é, o que está fazendo no mundo e que papel pode desempenhar. Ela pode pensar, julgar e ser atuante.
Houve uma época em que introduzi na sala de aula o ensino bíblico para as crianças. Todos os dias escrevia no quadro um versículo e explicava o significado daquela mensagem. Dizia também que eles podiam aprender tudo, porque eram filhos inteligentes de Deus. “Vocês vão conseguir”, eu os incentivava. Quando eles conseguiam, eu punha a mão na cabecinha de cada um e falava: “Deus pôs inteligência nesta cabeça, nesta, nesta...” Eram alunos pequeninos e gostavam da interação.
Para os que já sabiam ler, eu perguntava: “Quem tem a Bíblia em casa?” Alguns levantavam o braço. Pedia então que procurassem na Bíblia alguma mensagem para trazer para a sala de aula. Houve uma época que chegamos a ter de 8 a 12 Bíblias abertas sobre as carteiras. Às vezes os textos eram grandes, mas com essa iniciativa, as Sagradas Escrituras estavam presentes na aula, despertando as idéias. A classe era calma e tudo corria bem. Eu também fazia oração com eles, logo que entrava. Fazíamos uma oração silenciosa e eu lhes dizia: “Cada um vai conversar com Deus do jeito que quiser.” Era um momento de comunhão com Deus. Depois me contavam que agradeciam por ter pai, mãe, pelo cachorrinho que estava doente e depois sarou... Era um clima maravilhoso e eu sabia que era muito importante.
Certa ocasião precisei trocar o período de aulas, para atender à necessidade de minhas filhas. Entretanto, não havia sala para mim, devido à minha classificação. Fui falar com a diretora e ela disse que estava pensando em criar uma sala com 25 alunos multi-repetentes, de primeira série, sem problemas mentais, mas com dificuldades padagógicas. Crianças que haviam sido mal alfabetizadas. Aceitei o desafio.
A Diretora transformou o laboratório desativado numa sala de aula. Ficamos longe do prédio principal da escola, mas foi o melhor período da minha vida. Durante um semestre criei atividades especiais. Aprender a pegar no lápis é um movimento dificílimo para uma criança que não tem coordenação motora fina. Por isso, eu os levava para a quadra e fazíamos educação física: andar em cima da linha, fora da linha; bater palmas uma vez e pular para dentro do circulo; bater palmas duas vezes e pular para fora do círculo e muitas outras atividades. Foi um trabalho sério, de auto-reconhecimento, para desenvolver a lateralidade e para ganhar segurança do corpo.
A oração me ajudou a perceber as idéias que vinham de Deus e pôlas em prática. No início, os alunos eram muito confusos, atrapalhados, inquietos. Precisei até levar um sino para me comunicar com eles. Com perseverança e amor por aquelas crianças, consegui fazer com que todos aprendessem a sílaba simples. Aprenderam a formar palavras e pequenas frases. Essas crianças eram como um muro cheio de buracos e eu fechei todos aqueles buracos.
Eles conseguiram depois acompanhar as séries seguintes e não foram mais reprovados. O trabalho com essa classe foi muito gratificante. Dessa turma, houve uma menina que acompanhei até a quinta série.
Pude comprovar que a verdade é espiritual e que no Reino de Deus não existe nada que possa causar mal ao homem. Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde: “Todas as criaturas de Deus, que se movem na harmonia da Ciência, são inofensivas, úteis, indestrutíveis” (p. 514), portanto, todos os seres que se movem na harmonia divina são idéias puras e capazes de fazer o bem.
Já posso me aposentar, mas sei que tenho muita coisa para transmitir, tenho conhecimento e energia. Não desejo ficar ociosa e quanto mais trabalho, melhor eu me sinto e agradeço a Deus. Como resultado da oração e do meu conceito sobre o ensino, minha atividade profissional não me desgastou a saúde mental e física. Ser professor é muito importante, pois pode elevar uma criança. Ela confia naquilo que o professor lhe diz. Se o professor elogiar o aluno e reconhecer seus valores, poderá ajudá-lo a adquirir auto-estima, autoconfiança, vontade de de aprender, de progredir, de ser um bom cidadão.
A Christian Science me ensinou a não ver diferença entre as pessoas. Tenho alunos que querem ser diferentes e talvez até amedrontar pela aparência. Mas, aprendi a ver a todos iguais, como Deus os vê. Eu não os discrimino, e sei que cada um tem a capacidade acima do que demonstram. Reconheço cada criança e adolescente como são criados espiritualmente por Deus. A partir daí, falo ao coração deles; o respeito passa a ser recíproco e não há agressão. Essa experiência é maravilhosa e pode ser vivenciada por todos os professores.
