Eu tinha grandes expectativas que pareciam impossíveis de ser alcançadas. Minha esposa fora uma pessoa única. Consideravame um felizardo por ter encontrado uma pessoa como ela. As probabilidades de encontrar duas iguais pareciam astronômicas. Mas, foi com uma situação assim que me deparei quando, novembro de 1989, uma doença fatal repentina a levou.
Havíamos nos conhecido em uma anula de esgrima na faculdade. Pelo menos para mim, foi amor à primeira vista. Fui fisgado pela maneira com que ela me lançava um olhar mal-humorado, cada vez que eu marcava um ponto contra ela. Casamo-nos ainda muito jovens, crescemos juntos, construímos nossa vida lado a lado e conseguimos (de alguma maneira) sobrepujar os maus momentos.
Agora, nada era mais o mesmo. Nada. Não era só pesar, era horror. Sentia-me como se tivesse sido partido ao meio. Como isso pôde acontecer? Nada era normal. Tudo parecia estranho como em um pesadelo, em que cada momento doloroso se arrasta interminavelmente. Até mesmo respirar era antinatural para mim. Inspirava o ar e tinha de me forçar a expirá-lo.
Orgulhava-me da minha independência. Embora acreditasse em Deus, havia preferido nāo envolvê-Lo desnecessariamente em meus assuntos. Agora, via apenas duas possibilidades para meu futuro: passar o resto da vida em uma prisão acolchoada ou me volver a Deus.
Embora, teoricamente, acreditasse em um Deus Todo-poderoso, não via como Ele poderia me ajudar. Eu era um homem de meia idade em busca de companhia, mas estava destreinado ou desinteressado em marcar encontros.
Durante meses orei e lutei para colocar minha vontade de lado e me entregar aos cuidados de Deus. Foi difícil. Algumas vezes, o melhor que podia fazer era ter um vislumbre da verdade reconfortante e repeti-la, em voz alta, até que retornasse.
Lentamente, comecei a me sentir mais próximo de Deus. Havia momentos de esperança e de calma confiança. Esforcei-me para ser grato. A verdade é que eu estava constantemente cercado pelo amor da família e dos amigos, muito embora não fosse por essa espécie de amor que eu desejasse. Algumas vezes, o sorriso anônimo de uma garçonete em um restaurante ou de uma caixa de supermercado, era o bastante para que eu ganhasse o dia.
Enquanto orava, ponderava sobre as promessas da Bíblia de novidade de vida e de renovação. Um dia, deparei-me com este trecho de Ciência e Saúde: “O afeto humano não é derramado em vão, ainda que não seja retribuído. O amor enriquece a natureza, engrandecendo-a, purificando-a e elevando-a” (p. 57).
Se eu fosse um personagem de desenho animado, naquele momento, você veria uma lámpada se acendendo sobre a minha cabeça. Talvez eu não tivesse muita certeza de possuir um conhecimento completo sobre o Amor divino, mas o “afeto humano”, esse eu Decidi “derramar” esse “afeto humano” sobre todos, sem exceção, sem qualquer expectativa de retribuição. Imaginei que, na medida em que estivesse realmente certo de não ter nenhuma expectativa, estaria livre para sentir afeto por qualquer pessoa.
Avance rapidamente a fita até outubro de 1990. Estou conversando com uma amiga, gerente de recursos humanos para a Universidade do Noroeste, onde trabalho como diretor adjunto de computação acadêmica. Conto-lhe, meio na brincadeira, que estou procurando uma namorada e se ela poderia me apresentar alguém.
Alguns dias mais tarde, ela liga e diz que acabaram de contratar uma pessoa nova em seu escritório e que, talvez, eu estivesse interessado em convidá-la para sair. Anoto o telefone da Cristina, pensando, antes de tudo, que preciso de um pouco de prática.
Imagino convidá-la para almoçar, baseado na teoria de que uma hora, de qualquer coisa, dá para suportar. Convido-a e ela aceita, baseada na mesma teoria, conforme descobrimos mais tarde almoço, mal posso comer. Sinto o afeto que tanto havia tentado expressar sendo retribuído a mim. Voltamos caminhando até o escritório dela e quase nos despedimos com um beijo. Felizmente, no último minuto, nos lembramos de que estamos em plena luz do dia, que nos conhecemos há apenas uma hora e que temos um relacionamento profissional a manter.
De volta ao meu escritório, enquanto pondero sobre qual será meu próximo passo, o telefone toca. É a Cristina.
Cristina? Cristina! Era uma ligação comercial, ela nem sequer sabia que estava falando comigo. Mas, naturalmente, sendo homem, presumo que essa seja a maneira de me encorajar a dar o próximo passo. Estimulado, convido-a para ir comigo em uma excursão de um dia em meu carro novo (que necessita fazer quilometragem por motivo de manutenção). Muito embora essa fosse a última coisa que tivesse em mente quando me ligou, ela aceita.
Durante meses orei e lutei para colocar minha vontade de lado e me entregar aos cuidados de Deus.
Nosso passeio foi em um magnífico dia de outubro — daquele tipo de dia que só acontece em filmes. O céu tinha um azul brilhante profundo. Estava quente, mas com um frescor no ar como uma mensagem de que o dia seria uma bênção: Eu, em meu reluzente carro novo e, ao meu lado, uma mulher que, embora eu ainda não o soubesse, se tornaria em breve minha esposa.
Tivemos uma conversa extraordinária, na qual meses de relacionamento são comprimidos em minutos, anos em horas. Sentimo-nos como se sempre tivéssemos nos conhecido e nossa conversa fosse uma mera confirmação desse fato. Sabíamos todas as respostas antes das perguntas.
Galena, no estado de Illinois, era o nosso destino (escolhido estritamente por causa da quilometragem), e acabou sendo o local perfeito. Visitamos as lojas, andamos de mãos dadas e caminhamos pela feira da cidade. Ao final do dia, subimos uma colina para ter uma visão geral da cidade. No topo da colina, com a cidade aos nossos pés e as montanhas ondulando a distância, finalmente demos o primeiro beijo.
Gostaria de dizer que vivemos felizes para sempre, mas a verdade é que também tivemos nossos problemas, como qualquer outro casal. Entretanto, durante quase 14 anos, nunca duvidei de que a mão de Deus nos unira. Acredito que seja porque eu estava disposto a dar amor, sem qualquer expectativa de retribuição... e o amor me foi retribuído.
