Neste mês de maio, completam-se cinco anos em que estive pela primeira vez na FEBEM, para iniciar um trabalho de amor, uma vez por semana, com adolescentes infratores da lei.
Pensei na possibilidade de ajudar o próximo nessa área quando soube que uma amiga fazia um trabalho semelhante em uma cadeia. Entretanto, minha decisão foi tomada com base neste versículo bíblico que entrou no meu pensamento como uma provocação: “Meus irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que são espirituais devem ajudar essa pessoa a se corrigir” (Gálatas 6:1).
O estudo da Christian Science me revelou que todos somos espirituais, mas é preciso compreender essa verdade e viver de acordo com as leis divinas, para desfrutar de todo o bem a que temos direito, como filhos de Deus. Ficou muito claro, para mim, que eu poderia ajudar esses menores a corrigir hábitos nocivos à sociedade e, principalmente, a eles mesmos.
Para ajudar jovens iludidos pelas riquezas do mundo ou vítimas de injustiças sociais ou familiares, decidi levar a Escola Dominical da Christian Science àquele local para lhes mostrar horizontes para eles desconhecidos. A base inicial foi ensinar quem é Deus e a verdadeira e perfeita identidade do homem, como filho de Deus. A partir daí, fomos evoluindo, para chegar a parte prática, ou seja, como podem se tornar bons filhos, bons irmãos, bons maridos, bons pais (alguns já são pais aos 15 anos), bons amigos, enfim, bons cidadãos.
Os trechos de Ciência e Saúde nas páginas 587 e 591 foram muito proveitosos.
Gosto muito de falar sobre trabalho, incentivando-os a descobrir seus talentos. Procuro aprender em que consiste certas profissões para dar a eles uma idéia que os motive, focalizando que, embora as pessoas sejam beneficiadas, trabalhamos para Deus. Desse modo, a recompensa virá também de Deus: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Romanos 11:36).
Percebo que além da pobreza, ignorância e consumismo, o que os leva a cometer infrações é uma responsabilidade muito grande de prover às necessidades da família, imposta, às vezes, pelos próprios familiares. Ajudo-os a ver, por meio dos exemplos da Bíblia, como Deus supre às necessidades de todos, enviando idéias, indicando as oportunidades que cada um tem de ser útil à sua família, à sociedade e a si mesmo.
A maioria dos jovens passa pouco tempo na FEBEM, por isso cada minuto é precioso. Como as aulas de religião não são obrigatórias, não é possível fazer um trabalho contínuo. Posso encontrar um garoto numa semana e na outra não. Poucos são assíduos, com esses, porém, consigo fazer um trabalho completo.
Para manter constância, preciso de força espiritual e para isso é importante que ore para mim mesma e que acredite no ensino espiritual. Confio em que a semente lançada irá vingar.
A reação dos jovens é muito diversificada: alguns se agarram aos ensinamentos como uma tábua de salvação. Outros, saem no momento em que estou concluindo uma idéia e também oro para não me sentir frustrada.
Muitos pensam que se converter a uma religião é um ato mágico, que os modificará completamente. Mostro-lhes que o processo de regeneração requer esforço e, mesmo se for demorado, nunca deve ser abandonado, pois os frutos que se colhem valem esse esforço. Asseguro-lhes, como nos promete a Bíblia em Provérbios 28:20, que “a vida da pessoa honesta é cheia de felicidade”.
O ensino que lhes passo é o mesmo que se dá aos alunos da Escola Dominical de nossa igreja e isso elimina o sentimento de exclusão e os faz sentir amados.
Para criar um clima alegre e ao mesmo tempo de reflexão e inspiração, levo um aparelho de som e cantamos juntos alguns hinos da Christian Science gravados. Eles se identificam bastante com as mensagens. Foi muito gratificante ver que um aluno copiou dois hinos em uma folha, para tê-los sempre consigo.
Eles gostam especialmente do Hino 412, que fala em liberdade e cura, e do Hino 172, que começa com uma mensagem que resgata o amor próprio e a auto-estima: “Dispõe-te, deixa tua luz brilhar”.
Sou grata a Deus por perceber que os adolescentes estão aprendendo a acompanhar a metafísica da Christian Science e a “substituir os objetos dos sentidos pelas idéias da Alma” (Ciência e Saúde, p.269). Mostro que cada objeto pode representar algo. Por exemplo: uma casa simboliza as idéias de segurança, utilidade, praticidade, conforto e lar. Essas idéias fazem parte do nosso próprio ser. Portanto, se as reconhecermos, no momento oportuno esse conceito de casa se manifestará, de forma visível aos sentidos.
Paulatinamente, os jovens vão entendendo que ambições ou bens materiais não são mais importantes que os valores e as qualidades espirituais que estão aprendendo nas atividades aplicadas nesse período de correção.
A mensagem bíblica “a resposta branda desvia o furor” (Prov. 15: 1), foi-me muito útil, certa ocasião. Um menino do grupo pensava que existiam espíritos maus e que o mal é poderoso. Durante a aula, ele disse que, a qualquer momento, um espírito mau iria se manifestar e acabaria com a aula para mostrar que o mal é poderoso. Respondilhe que só a presença de Deus é real, não o mal. Ele se sentiu desafiado e junto com outros, fez invocações a tal entidade. É claro que nada aconteceu, a não ser o bem.
Durante e após o ocorrido, percebi que era preciso amá-lo muito, vê-lo conforme Deus o via. Embora ele não tenha mais voltado às aulas, nunca deixei de conversar com ele e de lhe mostrar o quanto o aprecio, independentemente do que ele acredita. Agora ele não demonstra mais rancor. Essa experiência me ensinou que deveria ouvir a instrução divina com mais atenção. A partir daí, as aulas têm sido bastante harmoniosas.
Assim como eles, também cresço com essas experiências. Desenvolvi mais paciência, disciplina, ordem, planejamento e é claro, um amor maior ao próximo. Aprendi a ser melhor mãe após ter exercitado qualidades maternais, bem necessárias nessa função.
Estou certa de que o único caminho eficaz na correção da má conduta é a espiritualização do pensamento, por isso me traz tanta satisfação realizar esse trabalho voluntário.
