Rachel Crandell comenta sobre algumas maneiras pelas quais as pessoas de fé podem contribuir para a cura do nosso planeta.
ambientalista, professora, escritora e fotógrafa, gosta de citar o que Felix Houphouët-Boigny, ex-presidente da Costa do Marfim, disse certa vez: “O homem foi à lua, mas ele ainda não sabe como reproduzir uma flor, uma árvore, ou o canto de um pássaro. Vamos manter nossos queridos países livres de erros irreversíveis, que nos levariam, no futuro, a ansiar ardentemente pelos mesmos pássaros e árvores.”
“As pessoas de fé têm muito a contribuir para a cura do nosso planeta,” diz Rachel. “Como desejamos continuar a manter o controle de nossos recursos naturais, o mundo necessita de nossas orações. Gosto muito de pensar na oração como espiritualizando meu pensamento a respeito de tudo que se apresente como fora de ordem, imprudente, mórbido, violento, poluído, injusto — e vislumbrar a verdade do ser.”
Conversei informalmente ao telefone com Rachel, enquanto ela esperava, em um pequeno aeroporto no Alasca, para embarcar em um avião planador que a levaria a Arctic Village, no estado do Alaska, onde era esperada para um encontro com a comunidade de Gwich'in.
“Penso muito sobre nosso mundo”, continuou Rachel. “Faço parte de muitas organizações ambientais. Leio artigos sobre ameaças à viabilidade do planeta, temores sobre o que o aquecimento global poderá causar, desmatamento, erosão do solo, deslocamento de povos indígenas, superpopulação, introdução de espécies que invadem ecossistemas nativos. Tudo isso pode ser desanimador, se eu aceitar que exista outro poder além de Deus.”
Concordamos que talvez não fosse possível falar sobre todos os assuntos que Rachel havia mencionado, e deveríamos nos concentrar naqueles pelos quais ela tinha um interesse especial — florestas tropicais, povos indígenas, e recursos alimentares.
Rachel Crandell visitou florestas tropicais em oito países, inclusive a Costa Rica.
Como Cientista Cristã, Rachel diz que recorre regularmente à Bíblia em busca de respostas espirituais para questões ambientais. “A história de José, no livro do Gênesis, me ajuda freqüentemente”, ela diz. “Ele foi injustamente atacado pelos seus irmãos, lançado em um poço, vendido como escravo, e, em seguida, acusado falsamente e colocado na prisão. No entanto, não há nada sobre pensamentos ou até mesmo desejos de vingança pelas injustiças sofridas. Por fim, tornou-se a segunda pessoa no governo de todo o Egito, resolvendo os problemas ambientais do país e alimentando toda a nação.
Gosto de pensar em José como um modelo que devo seguir. Ele começava pedindo as respostas a Deus, nunca culpando ninguém. José estava disposto a ouvir a Deus. Portanto, por meio da sabedoria e da orientação de Deus, recebeu oportunidade e autoridade para resolver as crises do país e beneficiar a todos — inclusive sua própria família.
'E quanto a mim?' Penso: 'Estou preparada? Amo o suficiente, confio o bastante no que Deus me orienta a fazer e sigo o exemplo de José? Posso perdoar os fazendeiros que não demonstram bom senso quando pulverizam as colheitas em dia de ventania? Ou os madeireiros que desmatam as florestas? Posso confiar em Deus tão completamente que paro de temer pelas árvores do mundo?'
Minhas orações buscam respostas a perguntas como essas. Quando surgem situações que parecem ser fruto de má intenção ou apenas erros, tento vê-las sob uma luz espiritual e obter uma perspectiva totalmente nova — a visão que Deus teria da situação.”
A seguir, fizemos uma pausa para falar sobre John Muir, o fundador do Clube da Serra, que certa vez escreveu: “Quando uma pessoa extrai uma única coisa da natureza, essa pessoa descobre que a coisa extraída está, na verdade, conectada ao resto do mundo”. “Como isso é verdadeiro”, comenta Rachel, “e Muir não estava falando somente sobre as plantas e os animais, mas também sobre o impacto que nossas açōes e escolhas causam ao resto do planeta — ao ar, à água, e ao clima”.
Rachel, como professora, gosta de apresentar uma questão estatística aos seus alunos: “Vocês sabiam que, em média, o item alimentação, na América, viaja mais de 2.000 quilômetros para chegar até nós”? Ela se refere ao livro de ensaios de Barbara Kingsolver, Small Wonder [Pequena Maravilha] (Nova Iorque, Harper Collins, 2002), no qual a autora sugere que, em média, o Sr. e a Sra. Fulano de Tal, nos Estados Unidos, provavelmente comem dez ou mais itens alimentícios por dia. Em um ano, a comida que cada pessoa consome terá percorrido oito milhões de quilômetros, por terra, ar, ou mar. Imaginem um caminhão, carregado com maçãs, laranjas, e alface, percorrendo uma distância equivalente a uma viagem de ida e volta à lua, dez vezes por ano, só para você! Alimentação e transporte são as duas maiores causas do aquecimento global. “Podemos nos dar ao luxo de continuar fazendo isso, dessa maneira?” Pergunta Kingsolver, a autora do livro.
“Nossos hábitos, impelidos pela conveniência”, diz Rachel, “nos colocam em uma taxa de extinção que hoje se iguala ao que era, aproximadamente há 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos. Não acho que as pessoas encontrarão nenhuma paz de espírito, enquanto não compreenderem, mais claramente, a natureza espiritual da criação e reconhecerem a Deus como a fonte de todo o bem. Gosto do que Mary Baker Eddy disse sobre isso: 'O Espírito diversifica, classifica, e individualiza todos os pensamentos, os quais são tão eternos como a Mente que os concebe; mas a inteligência, a existência, e a continuidade de toda individualidade permanecem em Deus, que é seu Princípio divinamente criador' (Ciência e Saúde, p. 513).
Depende de nós — fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, humana e espiritualmente — para sermos guiados a tomar decisões sábias sobre nossas ações, para mudar o rumo que traçamos
Isso é sustentabilidade espiritual”, diz Rachel, “e está conosco exatamente aqui e agora. A obra de Deus já está feita. Cada idéia de Deus é distinta e completa. Não precisamos temer por nenhuma forma de vida”.
Rachel visitou florestas tropicais na Costa Rica, Belize, Guatemala, Peru, Equador, Bolívia, Bornéu, e nas Ilhas Virgens britânicas. De 1997 a 1998, tirou uma licença sabática do ensino, o que lhe possibilitou viver, por cinco meses, às margens do Santuário Jaguar com seus amigos da tribo Maia, em uma aldeia em Belize.
Dormia em uma rede dentro de uma palhoça que os Maias construíram para ela; lavava roupa e tomava banho em um riacho, buscava lenha na floresta, pescava peixes com armadilha, arrancava mandioca com facão, aprendeu a esculpir em ardósia e a fazer tortinhas “bem redondas.” Foi nesse lugar que coletou material para um livro infantil, intitulado: “Hands of the Maya” (As Mãos dos Maias), [Nova Iorque, Henry Holt and Company, 2002].
Em uma ocasião, ficou encantada por ter conseguido ajudar os chefes da aldeia em uma disputa de terra, que já durava seis anos, a respeito de seis acres de floresta que o governo local queria derrubar para usar a madeira na construção de casas. Os aldeões haviam trabalhado duro para manter a floresta intacta e a estavam usando como um jardim medicinal para a comunidade.
“Orei durante muitas noites”, disse Rachel, “para reconhecer que não era o funcionário do governo, encarregado de resolver o problema da terra, que estava no controle. Era Deus. Meus amigos Maias não podiam ser privados do que era legalmente deles. Bem no fundo, sabia que não estávamos lidando com terra, mas com idéias espirituais. Conforme escreveu Mary Baker Eddy, quando descobrimos que somos feitos à imagem e semelhança de Deus: 'Vemos que o homem nunca perdeu seu estado espiritual e sua harmonia eterna' (Ciência e Saúde, p. 548).
Compartilhei essas idéias com várias pessoas da aldeia”, continuou Rachel, “e sugeri que evitassem falas ríspidas em resposta aos artigos hostis que os jornais haviam escrito sobre eles. Ao contrário, disse-lhes que poderiam tentar se concentrar no fato e não na opinião. Lembrei-lhes como eles mesmos ficaram furiosos com as acusações inverídicas e enfurecidas contra eles, e encorajei-os a escreverem um artigo que fosse simplesmente a 'verdade.' O jornal local publicou o artigo na íntegra, e, dentro de poucos dias, o funcionário do governo concordou que todos os seis acres pertenciam aos habitantes da aldeia”.
Rachel descreve as florestas tropicais como seus lugares favoritos. “Quando observo uma trilha feita na floresta e vejo milhares de diferentes texturas e cores e o emaranhado de ramos e galhos caídos, fico sem fôlego.”
“Tudo na floresta parece um caos”, diz ela. “Mas, cada organismo está cumprindo sua função correta — cada elemento de decomposição, cada parasita, cada poro nas folhas, está cumprindo a função para a qual foi criado. Devido a esse fato, é que essa vida incrível existe, alimenta e cuida do solo, absorve água e produz oxigênio para nós. O processo inteiro se completa.”
“Se tirarmos, mesmo que seja um pedaço minúsculo, ou seja, eliminarmos as aranhas porque são nojentas, ou os mosquitos porque picam, ou qualquer outra coisa, alteramos a inter-relação que existe entre todas essas formas de vida, que cooperam umas com as outras. Quero dizer, se você fosse desmontar um relógio de pulso e decidisse que uma pequenina mola estava muito ondulada, ou um pequenino botão não tinha nenhuma serventia, e decidisse jogá-los fora, você nunca mais conseguiria montar o relógio inteiro e fazê-lo funcionar novamente. Como disse certa vez o biólogo Aldo Leopold: 'Manter cada dente da engrenagem funcionando é a primeira precaução de um funileiro inteligente.' Isso também se aplica aos ecossistemas.”
Rachel salienta que os cientistas já descreveram quase 1.7 milhões de espécies em nosso planeta. Contudo, foi prognosticado que havia entre dez e cem milhões de espécies, quase todas desconhecidas, não identificadas ou estudadas. A rede de interconexões é tão complexa e ainda está tão longe de ser compreendida, que precisamos ter cuidado para não destruir ou erradicar essas espécies, antes de descobrirmos sua função.
“Seria terrível não podermos ouvir o canto dos pássaros mencionados por Houphouët-Boigny e não sermos capazes de recriá-los”, conclui ela. “Portanto, depende de nós — fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, humana e espiritualmente — para sermos guiados a tomar decisões sábias sobre nossas ações, para mudar o rumo que traçamos, o qual, na maioria das vezes, está na direção errada.”
“Contudo, sinto-me encorajada ao ver que muitas pessoas no mundo estão fazendo uma mudança de 180º. Elas estão cientes dos perigos da superpopulação e da destruição de recursos insubstituíveis; estão começando a fazer o que podem sobre reciclagem de materiais; e estão comercializando produtos reciclados com mais afinco. Mesmo assim, existem muito mais coisas, muito mais mesmo, que podemos fazer e que nos levariam, mais rapidamente, rumo às soluções.
Sou realmente grata por ter conseguido aprender, em primeira mão, a confiar nesta declaração poderosa da Bíblia: 'Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus' (Isaías 45:5). Durante quase 40 anos de trabalho ambiental, tenho constatado e comprovado que o único Pai-Mãe-Deus onipotente está amando e sustentando Sua criação.”
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www.rainforestrachel.com
