A mídia em geral tem falado bastante dos dilemas que a humanidade enfrenta com relação ao meio ambiente e aos recursos naturais. Diz-se que a água e os combustíveis estão se esgotando devido ao mau uso e à exploração desmedida. Por outro lado, com a população da terra em constante aumento, impõe-se o debate sobre a necessidade de mais alimentos e a conveniência, ou não, da difusão de cereais geneticamente modificados.
O plano espiritual da criação não inclui destruição nem esgotamento de recursos.
Volta e meia aparece a sugestão de que o homem, por considerar-se a “coroa da criação divina”, criado para dominar “sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra”, como diz a Bíblia no livro do Gênesis, usou e abusou desse direito. De certa maneira, parece que o relato bíblico da criação deu ao homem licença para fazer e desfazer no que diz respeito à natureza.
Em verdade, porém, a Bíblia contém muitos preceitos que visavam à proteção ambiental. Por exemplo, a cada seis anos o campo de cultivo devia “descansar” um ano: “... a terra guardará um sábado ao Senhor.... no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha” (Levítico 25). Sabemos hoje que essa prática ajuda a evitar o esgotamento do solo.
Contudo, o mais importante é o significado espiritual da Bíblia. É o sentido espiritual da criação descrita no primeiro capítulo do Génesis que nos dá a chave para a oração em prol da harmonia no universo criado por Deus.
Em primeiro lugar, devemos levar em consideração que as palavras vão adquirindo significados diferentes através dos tempos. Qual era o conceito de “domínio” quando o Antigo Testamento foi traduzido para as línguas latinas? Em que consiste o “domínio” de que fala o primeiro capítulo do Gênesis? Essa palavra deriva do latim “domus”, que significa “casa”. Ter domínio, dominar, encerra, portanto, a idéia de “sentir-se em casa”. Não significa absolutamente usar e destruir por displicência, mas, ao contrário, incita a cuidar e manter a terra como nossa casa. Sentir-se em casa lembra também a paz e a tranqüilidade, a ausência de temor, de quem está em casa. Esse é o projeto divino da criação: que o homem se sinta bem em Sua criação, que a ame e viva nela sentindo-se sempre “em casa”, nunca como um estranho.
Infelizmente, em nossa cultura, “dominar” assumiu um sentido mais negativo do que positivo. No futebol, “ter o domínio da bola” significa apropriar-se da bola, ainda que à custa de colisões e cabeçadas contra os adversários. Em família, ou no trabalho, “dominar” significa dar ordens e impor a própria vontade. Não é esse o domínio planejado para o filho de Deus.
Para o mesmo versículo do Gênesis, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje utiliza outra palavra: “...tenham poder sobre os peixes do mar, sobre as aves que voam no ar e sobre os animais que se arrastam pelo chão”. Nessa tradução também o conceito mais comum da palavra “poder” tende a dar a idéia de que o homem tenha a licença bíblica para destruir. Novamente precisamos lembrar o significado espiritual das Escrituras. Que tipo de poder daria Deus ao homem? Daria Ele o poder de destruir o que Ele mesmo havia criado com Seu amor? Nosso Pai celestial deu-nos, isso sim, o poder de expressar Sua inteligência, Seu cuidado, em nossa interação com o universo.
Em Ciência e Saúde, há uma chave para a atitude mental que deve governar nossas ações: “...o homem precisa encontrar a permanência e a paz, apegando-se mais ao espiritual” (P. 65). O estudo da Christian Science ajuda-nos a substituir paulatinamente conceitos materiais por conceitos espirituais a respeito de cada coisa e isso, por sua vez, abre o pensamento para a percepção de soluções adequadas para as questões ambientais, pois nos coloca em linha com o plano espiritual da criação, que não inclui destruição nem esgotamento de recursos. Em nível individual, isso nos torna capazes de contribuir inteligentemente para a preservação ambiental, seja em atuações diretas, como no uso de recursos e na conscientização de outras pessoas, seja em nossas orações pelo mundo e pela humanidade.
“Um meio de melhoria exeqüível bem como racional é, na atualidade, a elevação da sociedade em geral, e a obtenção de uma raça mais nobre para fazer leis — uma raça que tenha intuitos e motivos mais elevados” (P. 63), diz a Sra. Eddy no mesmo livro. Embora ela estivesse se referindo às leis emanadas de um governo, aquilo que pensamos e a mentalidade reinante na raça humana também acabam se tornando “leis” que governam as ações dos homens. Por isso, a “elevação da sociedade em geral” é o melhor meio para resolver as questões ambientais e os outros problemas que o mundo enfrenta. Ajudar a realizar essa elevação espiritual é a finalidade da Igreja de Cristo, Cientista e de todo o trabalho que nela realizamos, inclusive com a publicação de revistas como esta.
