Eu nunca disse, categoricamente, que queria constituir uma família. Mas também, nunca disse que não. Periodicamente, minha esposa Madeleine trazia o assunto à baila, mas eu era mestre em mudar de conversa. Mas, após sete anos de casados, ela conseguiu me convencer. Portanto, ali estava eu, prestes a ser pai.
Minhas emoções oscilavam entre uma ansiosa expectativa e o medo de dar esse novo passo. Preocupava-me com muitas coisas, ou seja: se me adaptaria a uma alteração na nossa independência e liberdade, se seria um provedor financeiramente estável ou se poderia ainda manter um espírito livre e aventureiro. Além do mais, será que meus filhos iriam ao menos gostar de mim?
Durante toda minha vida, havia me volvido a Deus para obter respostas, especialmente quando me sentia apreensivo. Portanto, nesse período, aprofundei minhas orações e meu estudo espiritual. Madeleine e eu também solicitamos a uma Praticista da Christian Science que orasse conosco durante a gravidez. A praticista sugeriu que eu dedicasse algum tempo para ponderar a explanação sobre homem, dada por Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde — palavra essa que se aplica a todos os homens e mulheres. Parte da explanação diz: "O homem é idéia, a imagem, do Amor; não é físico" (p. 475). Embora tivesse lido e estudado esse trecho muitas vezes anteriormente, ele agora assumia um novo significado para mim. Ponderei sobre a verdadeira essência de cada um dos filhos de Deus, e comecei a ver o quão perfeito cada um de nós realmente é como criação do único Pai perfeito.
À medida que se aproximava o nascimento do nosso filho, crescia minha confiança de que Deus estava realmente no comando — e, que alívio era isso! O dia em que David nasceu mudou minha vida. Segurei-o em meus braços e quando ele me olhou direto nos olhos (anunciando, com certo vigor, que estava ali...) percebi que eu nunca mais seria o mesmo. De repente, meus receios sobre a mudança em meu estilo de vida pareciam insignificantes diante daquele garoto maravilhoso. Tomei a firme decisão de seguir o mandamento de Cristo Jesus e me tornar como uma criancinha "...porque dos tais é o reino dos céus" (Mateus 19). Naquele momento, compreendi que o céu, ou seja, felicidade, realização, alegria, era verdadeiramente espiritual.
À medida que David crescia e dávamos as boas-vindas ao nascimento de nossa filha, Micah, três anos mais tarde, também eu evoluía em compreensão e em apreciação do que se constitui a paternidade. Decidi que a melhor coisa que poderia dar aos meus filhos seria a educação espiritual e a confiança de que Deus, nosso Pai divino, está sempre ao lado deles, guiando-os, protegendo-os e curando-os. Eles freqüentaram a Escola Dominical da Christian Science da igreja local e, juntos, constatamos como a oração pode curar e transformar a vida deles. Tivemos muitos exemplos marcantes disso, desde a rápida cura de David de uma fratura no braço diagnosticada pelos médicos, até a cura do cachorrinho de Micah, dos efeitos de uma planta venenosa.
Enquanto nossos filhos cresciam, suas atividades se expandiam e, adivinhem, as minhas, também. Por pouco não tive de rir daquele velho medo de que minha vida não seria mais tão cheia de aventuras nem divertida, quando tivesse filhos. Ao invés de me sentir limitado em minhas atividades, sentia-me liberado. É como consta desta declaração em Ciência e Saúde: "O homem compreende a existência espiritual na proporção em que aumentam seus tesouros de Verdade e de Amor... Essa noção científica do ser, que abandona a matéria pelo Espírito, não sugere de modo algum a absorção do homem na Divindade nem a perda de sua identidade, mas confere ao homem uma individualidade mais desenvolvida, uma esfera mais ampla de pensamento e de ação, um amor mais expansivo, uma paz mais elevada e mais permanente" (p. 265). À medida que descobria mais sobre meu relacionamento com Deus e aplicava essa compreensão na educação de nossos filhos, minha vida se elevava. Não sentia falta de nada. Comandei um exército de adolescentes em que um grupo atirava bolas de água colorida no outro, em um jogo chamado "paintball", participei de campeonatos juvenis de basquete e andei a cavalo galopando através de bosques. Tudo isso por causa de meus filhos.
Quando David fez 15 anos, anunciou que desejava praticar surfe. Como poderia dizer não ao seu entusiasmo juvenil? Portanto, lá estava eu — um sujeito do oeste do Texas, que nunca havia sequer visto o oceano antes de completar 20 anos — numa manhã de primavera, olhando espantado para a rebentação das ondas sobre a areia, com uma prancha de surfe nas mãos. David sugeriu que estudássemos a Lição Bíblica daquela semana, que consta do Livrete Trimestral da Christian Science, antes de enfrentarmos as ondas. Ali estava ele, dirigindo nossos pensamentos para os conceitos espirituais que dominariam nossos temores e nos ajudariam a ver a Deus como estando sempre presente, sempre ao nosso lado. Quando saímos para surfar sobre as ondas naquele dia, senti–me totalmente imerso no amor de Deus. Nos seis anos seguintes, David e eu passamos vários fins de semana surfando pela costa do Golfo do Texas, próximo de onde morávamos. Também pegamos ondas em regiões remotas da Costa Rica e nas famosas praias do sul da Califórnia.
Como acontece com a maioria dos pais, tive de lidar com uma certa ansiedade com relação ao sustento da família. Durante a maior parte do tempo em que meus filhos cresciam, tive um emprego estável e satisfatório e tinha a maior certeza de que ficaria nele para sempre. Mas, certo dia, tive de ir para casa e informar minha família de que havia sido demitido. Senti como se tivesse falhado com eles. Estava com raiva, amedrontado, confuso e me achava inadequado. Contudo, sabia que Deus, por ser todo bondoso, só poderia ter reservado o bem para mim e minha família. Novamente, tive de lembrar a mim mesmo de Sua infinita provisão, Seu amor incessante por todos os Seus filhos. Minha família me apoiou quando me volvi ao Pai em busca de orientação e consolo. Como acabou acontecendo, dentro de duas semanas após minha demissão, consegui uma nova colocação, mais satisfatória e desafiadora do que a do emprego anterior.
Embora minha esposa e eu sempre estivéssemos muito envolvidos com as atividades de nossos filhos, ao se tornarem jovens adultos, tive de aprender a soltá-los e isso nem sempre tem sido fácil. Por exemplo, o recente envolvimento de minha filha com equitação, forçou-me a confiar em que a proteção de Deus a mantém segura. Tenho orado muito pelo bem-estar dela e pela minha capacidade de permitir que ela tome decisões sem o meu controle, especialmente se eu perceber que minha opinião provém do medo. Tenho aprendido que minha filha também tem um relacionamento exclusivo com Deus e que eu posso confiar nEle para guiá-la e protegê-la, em tudo o que ela fizer. Tem sido formidável ver que essa confiança está bem fundamentada.
Vinte anos depois de descobrir que ia ser papai pela primeira vez, posso honestamente dizer que a paternidade tem sido a maior aventura da minha vida. Ela tem se constituído em uma verdadeira arena de progresso no fortalecimento do caráter e na fé em Deus como o Pai-Mãe de todos. Além disso, tem sido muito divertido. Sei que tenho de agradecer ao Pai por tudo isso.
