Enquanto uma criancinha dorme em meus braços, eu oro. Ela é uma menina nascida há dois dias, que aguarda ser adotada. Seu futuro é uma incógnita e eu desejo muito lhe assegurar uma garantia, de longo prazo, de que será tratada com bondade, receberá conforto e amor, enfim, de que terá uma infância feliz.
Com a responsabilidade de cuidar dessa criança 24 horas por dia, sete dias por semana, vislumbro uma oportunidade. Então, imagino: “Posso lhe proporcionar mais do que o melhor dos cuidados humanos — alimento, higiene, carinho. Posso lhe oferecer minha mais profunda oração”.
Essa comunhão silenciosa com Deus é um doce processo, que começa com a identificação das qualidades espirituais inatas dessa criancinha, isto é, sua inocência, pureza, tranqüilidade, confiança, receptividade ao afeto. Nenhuma pessoa criou essas qualidades. Elas só podem vir de Deus, a única fonte divina de todo o bem, o que me leva a outra constatação: a de que Deus, o Amor infinito, conferiu ao ser dessa garotinha cada um de Seus atributos imortais. A saúde, a alegria, a segurança, o propósito, a beleza e outros mais, pertencem a ela. Sob a perspectiva de Deus, ela é de fato completa, perfeita.
Como podem meras palavras, mesmo essas encorajadoras, solucionar a natureza temporária da condição de adoção dessa garotinha? Somente por meio da realidade, da presença e do poder de Deus, do Espírito. Busco em meu íntimo encontrar a disposição sincera de admitir que Deus é real, sempre presente, onipotente. Isso me dá a certeza de que nenhuma condição material pode afetar a natureza espiritual dessa menina.
Afirmo, silenciosamente, as eternas verdades a respeito dela: certeza, não probabilidade; força, não vulnerabilidade; bem-estar, não trauma emocional. Além disso, capto um vislumbre da continuidade da bondade de Deus, o que me dá ânimo. O que é bom e verdadeiro sobre ela não pode mudar e esse fato tem o poder de moldar os anos vindouros.
Em certa época, antes de descobrir a Christian Science, Mary Baker Eddy estava doente, viúva e sem recursos e, por isso, tiraram-lhe o filho ainda pequeno. Consola-me o que ela escreveu:
Gentil presença, gozo, paz, poder,
Divina Vida, reges o porvir;
Susténs da avezinha o voejar,
Meu filho guarda em seu progredir.
Refúgio verdadeiro é o Amor.
As armadilhas são visões mortais.
Bem perto está Seu lar acolhedor,
Seu braço cinge a mim,
e a tudo o mais. (Hinário da Ciência Cristã, 207)
À medida que essa mensagem penetra meus pensamentos, percebo o controle do Amor sobre esse bebê e sobre todos os adultos que cuidarão dele. Podemos esperar que esse Pai-Mãe Se manifeste a nós em sabedoria, paciência e em expectativa do bem. Todos nós podemos estar convictos de quem realmente é essa criança, não é nossa, nem de outras, mas unicamente de Deus.
Não demoro muito a descobrir o segredo para a infância feliz que desejo para essa garotinha. Sua infância, bem como a de todas as outras pessoas, não se constitui em um espaço de dias, meses ou anos entre a infância e a maturidade. É o estado espiritual do ser, uma palavra que representa sua relação com Deus. Esse é seu status, agora e sempre, caracterizado pela permanência, felicidade e satisfação. Além disso, sim, esse status está garantido para sempre.
Quando os pais adotivos vieram buscá-la, eu estava pronta. Essa querida menininha e eu compartilhamos uma momentânea comunicação, olhos-nos-olhos, um amor sem palavras. Foi uma espécie de contato visual, incomum em um bebê tão pequeno. Mas, neste caso, sinto como se estivéssemos reconhecendo, juntas, nosso relacionamento imortal, ou seja, nossa irmandade como filhas do único Criador. Estávamos apenas lembrando, uma à outra, quem realmente somos e de quem somos.
Outros bebês que aguardam adoção chegam nos dois anos seguintes. Mais lições aprendidas, mais orações oferecidas. Mantenho sempre à mão o poema que tanto amo, já citado anteriormente, intitulado “A Oração Vespertina da Mãe”, e aqui está outra estrofe:
Sob Tuas asas cheias de poder,
É doce a senda estreita do dever.
Quem busca, acha. Ei-lo a cantar:
“Convosco sempre estou”.
Vigiai e orai.
Nenhum filho de Deus é na verdade um filho adotivo. Cada um está plenamente dotado do status e dos direitos que Ele concede amorosamente a toda Sua criação. Todo pai e toda mãe, quer sejam pais biológicos, temporários ou adotivos, podem ter certeza dessa verdade, por meio da oração. Essa oração é o melhor presente para se dar a qualquer criança e o mais profundo consolo para os pais.
