Como Cientista Cristão, agora consigo confiar mais em que é impossível alguém estar separado da fonte da criatividade. Deus é criação, Ele é criatividade. Portanto, a criatividade não tem com não estar ali. É apenas uma questão de confiar mais na verdade.
Em uma manhã um tanto quente de setembro, quando me encontro frente a frente com Val, que está na cidade para receber dos críticos de cinema de Boston, o prêmio “Excelência em Filme”, fico pensando na sua reputação de menino-mau. Atacamos logo o assunto:
“Durante muito tempo, e até hoje, tenho sido alvo de calúnia, de ataques da imprensa, porque segui meu próprio caminho e me expressei da maneira que achava apropriada”, responde ele, mas não na defensiva. “Estou convencido de que cometi muitos erros e de que poderia ter sido mais político”, reconhece. “Mas, percebi que grande parte da forma como estava lidando com esse problema se devia ao fato de aceitar que, de alguma maneira, essas difamações pareciam mais reais por estarem impressas”.
“Você está se referindo às histórias sobre sua vida pessoal ou sobre sua conduta nos sets de filmagem?”, perguntei.
“Quase todas as vezes que dou uma entrevista, alguém me pergunta algo absurdo. Por exemplo, há alguns meses, circulou uma matéria nos jornais de Londres que me surpreendeu. Dizia que eu havia fingido estar doente para deixar de me apresentar na peça: 'O destino bate à sua porta’, para que pudesse ir a Wimbledon. Bem, os jogos em Wimbledon ocorrem durante o dia, e, naquele dia em particular, a apresentação que eu faria aconteceria somente à noite. Portanto, coisas que são evidentemente absurdas, ainda são publicadas. Muitas vezes, quando sou entrevistado, me perguntam algo que não é verdadeiro, mas que fica novamente perpetuado”.
Ali estava eu, na Inglaterra, chorando, no meu duplex de luxo, olhando para o rio e pensando: 'pobre de mim’, sentindo pena de mim mesmo. Simplesmente parecia que, de repente, tudo estava se desmoronando sobre mim. Sugestão mental agressiva.
“O que você poderia dizer sobre a reputação de 'ator difícil’?”, perguntei-lhe.
“Acho que isso começou como uma lisonja sobre a maneira como eu era visto, ou seja, que era disciplinado e muito envolvido no personagem. Entretanto, as pessoas usavam isso como algo negativo, dizendo que me entrego irracionalmente ao papel ou, de alguma maneira, que sou emocionalmente instável. Nunca é algo específico. A crítica nunca diz se chego atrasado ao trabalho ou se não decoro meu texto. Mas, o fato é que preciso ser disciplinado, especial e estar focado”.
“Entretanto”, admite ele, “compreendo agora que as ocasiões em que pareci ameaçador provinham do medo. Tinha medo de perder a essência, a vida emocional do personagem. Ficava me preparando no trailer. Quando diziam: 'estamos prontos agora’, eu me encaminhava para o set de filmagem e, se tivesse de esperar mais 15 minutos, tinha medo de perder toda a concentração. Por isso, ficava furioso.
Mas, como Cientista Cristão, agora consigo confiar mais em que é impossível alguém estar separado da fonte da criatividade. Deus é criação, Ele é criatividade. Portanto, a criatividade não tem como não estar ali. É apenas uma questão de confiar mais na verdade”.
Quaisquer que sejam as críticas que Val tenha recebido nos sets de filmagem, no que se refere à sua interação com o público, pelo que posso perceber agora, é uma história completamente diferente. Durante as horas que passamos juntos, percebi que as pessoas acham que, pelo fato de conhecé-lo de seus filmes, podem interromper o que ele esteja fazendo, ou levantar o polegar como um sinal positivo por algum filme em particular, ou apenas dar risadinhas e dizer “oi”, ou mesmo pedir para tirarem uma foto com ele, com seus celulares. Ele trata a todos com muito bomhumor e admirável postura.
“Essa é uma das coisas interessantes sobre a fama”, diz ele. “Todos nós deveríamos ser tratados assim. Você entraria em um restaurante e as pessoas diriam: 'Oi, como vai’? Todo mundo deveria se sentir assim. Mas, existe outro lado. Eles podem tanto abusar de você, como admirá-lo”.
Digo-lhe que, na verdade, nunca pensei muito na fama, mas, estar com ele me fez perceber isso, em seu contexto imediato.
“Bem, você tem de administrar a idolatria”, diz ele. “Acho que durante anos, tive medo da fama, ao invés de tratar o assunto com senso de humor ou compreensão, para que não fosse afetado de forma negativa.”
“Você tinha medo do que a fama pudesse fazer com você?”
“Houve momentos em que pensei que me perderia”, diz Val. “Ou achava que poderia ficar enredado pela fama. Nunca dava autógrafo, porque acreditava estar apoiando uma idéia negativa. Mas, agora compreendo que isso não tem de ser assim. Talvez alguém possa estar tirando algo positivo disso. Estava apenas enxergando o lado negativo, ou talvez, nem tivesse tempo para isso”.
Meus pais cultivavam um senso muito terno de confiança na Christian Science e deixaram que nós o descobríssemos. Simplesmente maravilhoso. Não diria que fosse algo sofisticado, apenas confiança.
Val abandonou o brilho do mundo das celebridades e hoje vive na sua fazenda no Novo México, onde seus filhos passam temporadas com ele. Além disso, sua igreja fica em Santa Fé. Ele foi Segundo Leitor dessa filial da Igreja de Cristo, Cientista (Igreja da Christian Science), durante três anos. Essa é uma verdadeira dedicação para um ator em atividade.
“Optei por uma vida mais tranqüila e vivo agora no deserto do Novo México”, diz Val. “Para fazer isso, abri mão do meu primeiro amor real, que é o teatro. Por isso, alguns de meus colegas contemporâneos, que permaneceram no teatro, são hoje muito famosos. Mas, uma das razões pelas quais me mudei da cidade de Nova Iorque, é que me sentia confiante na importância de ter minha própria voz, ser eu mesmo. Além disso, estava confuso na cidade. Há muitas vozes, muitas influências, que são interessantes. Nova Iorque, de uma certa maneira, é o centro da terra, no que concerne ao pensamento moderno. Mas, não me fazia uma pessoa melhor. Sentia-me, ao final do dia, fragmentado e confuso. Tanta coisa para fazer em tão pouco tempo. Por tudo isso, escolhi uma vida mais calma no deserto.”
“Você acha que conseguiu uma forma mais individual de se expressar?”
“Ah, sim”, diz Val. “Mas o erro ainda consegue chegar até você. Até mesmo Mary Baker Eddy passou por isso. Você sabe, durante anos fiquei intrigado com sua frase: 'minha esperança fatigada’ (Ciência e Saúde, p. 55). Como podia ela, que tinha tudo, ter uma esperança fatigada? Apesar disso, algumas vezes, ela pedia a quatro ou cinco pessoas que orassem sobre o mesmo assunto, ao mesmo tempo.”
“Provavelmente, a maioria das pessoas se surpreenderia com o fato de você ter uma esperança fatigada, também”, respondo. “Talvez elas achem que você leve uma vida fascinante”.
“Há alguns meses, estive na Inglaterra e conversei com alguns jovens, durante um evento da Christian Science. Espero ter sido honesto ao conversar com eles sobre o sucesso e o que a Sra. Eddy diz: 'Firam glória ou dor...’ (Hinário da Ciência Cristã, 304). Ali estava eu, na Inglaterra, encenando uma peça em West End, chorando, no meu duplex de luxo, olhando para o rio e pensando: 'pobre de mim’, sentindo pena de mim mesmo. Simplesmente parecia que, de repente, tudo estava se desmoronando sobre mim. Sugestão mental agressiva.”
“Imagino que a maioria dos atores tem muito medo”, arrisco um palpite. “Sobre o trabalho, sobre o sucesso.”
“Noventa e nove por cento dos atores não têm emprego, portanto, somente um por cento trabalho, e isso inclui comerciais de ração para cachorro, narração de comerciais de desodorante e uma peça de teatro, ou seja, tudo. Todos pagam contas, mas ninguém tem trabalho. De qualquer modo, esta é a tendência: Não existem empregos, não há oportunidades e há muita rejeição. Nunca deixei que essas coisas fossem minha realidade, e nunca foram”.
“Isso porque você foi criado na Christian Science?”
“Meus pais cultivavam um senso muito terno de confiança na Christian Science e deixaram que nós o descobríssemos. Simplesmente maravilhoso. Não diria que fosse algo sofisticado, apenas confiança”.
“É difícil manter isso pelo resto da vida?”
“Ligamos o rádio apenas porque gostamos de música. Exatamente aquela canção de amor que estamos ouvindo, reforça que não devemos confiar em ninguém: 'Ela me deixou' ou 'Ela cometeu uma série de erros’. Você ensinaria essas coisas para sua filha? Não! No entanto, cantarolamos junto porque a melodia é encantadora, gostamos dela e cantamos o refrão; assistimos ao noticiário e assimilamos uma versão da realidade que, na verdade espiritual, é falsa. Portanto, o que posso tentar fazer, é me manter centrado, confiante e acreditar que a oração funciona. Várias vezes, quando eu era jovem, e talvez até mesmo na semana passada, eu orava, recebia a resposta à oração, não gostava da resposta e então fingia que havia algo mais que tinha de fazer, até que recebesse a resposta que se adequasse ao meu cómodo estilo de vida.
Por exemplo, antes de me tornar Leitor em minha igreja filial, eu havia construído uma considerável barreira contra minha participação n'A Igreja Mãe [The First Church of Christ, Scientist, em Boston]. Fui um adolescente bastante rebelde e achava que estava certo em tudo. Além disso, criticava muito, mas nunca realmente me dei ao trabalho de me encontrar com alguém n'A Igreja Mãe. Era bastante dedicado à minha igreja filial na cidade de Nova Iorque, mas nunca quis visitar Boston. Mas agora eu venho. Compreendi que a igreja filial é chamada de 'filial’ por uma razão. Da mesma forma, 'A Igreja Mãe’ é assim chamada por uma razão. Além disso, representamos essa igreja aqui mesmo no mundo, onde quer que estejamos. A igreja não é constituída de edifícios, mas é a 'estrutura da Verdade e do Amor’ (Ciência e Saúde, p. 583). Conseqüentemente, não estamos separados dela.”
De certa maneira, o movimento da Christian Science e nosso próprio progresso são uma e a mesma coisa. Tenho de cuidar do meu próprio progresso e me livrar, em minha própria vida, da velha maneira de pensar, retrógrada e sem saída.
“Como você se sente a respeito do movimento da Christian Science?”
“Para sabermos em que patamar se encontra o movimento da Christian Science, apenas pergunte a si mesmo, eu sempre me pergunto: 'onde estou’? De certa maneira, o movimento e nosso próprio progresso são uma e a mesma coisa. Estou ainda bisbilhotando a vida das pessoas e julgando-as? Tenho de cuidar do meu próprio progresso e me livrar, em minha própria vida, da velha maneira de pensar, retrógrada e sem saída.”
“Imagino que a responsabilidade pessoal seja o ponto fundamental?”, pergunto.
Enquanto ele considera minha pergunta, atravessamos a Avenida Massachusetts, em direção ao local onde Val terá seu próximo compromisso. “Se você se afastar do estresse e das obrigações de ser humano, apenas por um segundo”, ressalta ele, “Mary Baker Eddy diz que se você fizer isso, sozinho, seu mundo mudará”. Então, ele dá aquele largo sorriso famoso e acrescenta: “Mas, se você fizer isso, juntamente com umas 10 ou 12 pessoas, você mudará o mundo”.
Enquanto nos despedimos, em frente à Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade, percebo que não estava conversando apenas com um ator de renome mundial, uma celebridade de Hollywood. Mais do que isso, simplesmente havia passado algumas horas com o verdadeiro Val Kilmer.
Biografia Val Kilmer
1959
Nasce Val Kilmer,
em Los Angeles, EUA
1980
Décade em que estréia
nos palcos de teatros
1984
Estréia no cinema com
Top Secret
1986
Rivel de Tom Cruise em
Top Gun – Ases Indomáveis
1991
The Doors,
como roqueiro Jim Morrison
1995
Veste a máscara de morcego,
em Batman Eternamente
1998
Apresenta sua voz no desenho
animado O Príncipe do Egito
2004
Faz o papel do pai do
protagonista Alexandre
2005
Estréia em Beijos e Tiros,
como detetive
Sua carreira inclui a participação em mais de 25 filmes.
