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Este é o sexto de uma série de nove artigos sobre as bem-aventuranças e sua relevância para o mundo do século XXI.

O poder da misericórdia

Da edição de janeiro de 2006 dO Arauto da Ciência Cristã


“Por que você não tem um pouco de misericórdia?”, perguntou minha amiga. Ela não estava me pedindo, mas encorajando-me a ter misericórdia para comigo mesma. Eu havia acabado de lhe contar sobre meu fiasco musical naquela manhã, enquanto cantava um solo diante da congregação. Havia me sentido tola e humilhada, desejando que o chão se abrisse sob meus pés para que eu pudesse desaparecer. Portanto, o que isso tinha a ver com misericórdia? Essa palavra soou fora de moda. Não tinha nada a ver comigo.

Como membro de um coral clássico, havia cantado centenas de vezes o lamento sacro “Kyrie eleison” (Senhor, tenha misericórdia), como abertura de inúmeras peças de textos litúrgicos. Usualmente, a música era adequada a essa súplica e, para mim, isso soava como um eco de outra era.

“Ela acha que eu preciso de misericórdia”, comentei com outra amiga, esperando algum tipo de compreensão da parte dela de que, de fato, isso é uma relíquia do passado. Entretanto, ao invés disso, ela reforçou essa necessidade, referindo-se à quinta bemaventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5). Com relutância, pensei que deveria dar uma nova olhada nesse versículo.

Lembrei-me de uma pesquisa que havia feito há muito tempo sobre a palavra checed do Antigo Testamento hebreu, que foi traduzida como “misericórdia” ou “bondade de alma”. Checed representa um conceito tão completo, que nenhuma outra palavra em inglês contém integralmente seu significado. Ela descreve o relacionamento que Deus tem com Seus filhos; inclui o amor incondicional, o amor compartilhado entre duas pessoas que se relacionam. O Salmo 23 nos mostra isso claramente: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre”. Outro uso significativo dessa palavra pode ser encontrado em Miquéias: “...que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (ver Miquéias 6).

Esse conceito me fez lembrar que, como Deus e eu já estamos relacionados um com o outro, como Criador e criatura, Pai e filha, checed faz parte do nosso relacionamento. O Seu amor por mim, que certamente inclui misericórdia, é o que me capacita a ter misericórdia para comigo mesma. Além disso, percebi que ter misericórdia para comigo mesma faz desaparecer a autocondenação, naturalmente, por intermédio da apreciação correta da minha identidade criada por Deus e por Sua disposição e prontidão em me guiar.

Misericórdia é o amor que sentimos, fluindo de Deus, quando as coisas ficam difíceis. Esse amor nos consola, nos acalma e nos mostra que não somos aquele pobre coitado que pensavamos que eramos. Um poema de Doris Peel, intitulado “Misericórdia”, termina com estes versos: “Oh, coração querido, vem, levantate! Aqui está minha mão estendida, segura-te nela! — Misericórdia, carinho maternal que partilhamos com os que parecem órfãos e sem esperança” (Doris Peel, “Mercy”, The Christian Science Monitor, 12 de dezembro de 1985). Portanto, decidi ficar calma e parar de lutar comigo mesma. Deixei que o amor de Deus por mim, como Sua filha, enchesse meu coração com o amor que é legitimamente meu. Quando aceitei a misericórdia, ela gentilmente me afastou da fixação nos meus erros.

A quinta bem-aventurança não se refere exclusivamente a ter misericórdia de si mesmo. Pode ser ainda mais difícil sentir misericórdia pelos outros, especialmente quando você acha que a justiça ou mesmo a condenação seja mais necessária do que a misericórdia. Mas Deus é justo e misericordioso. Além disso, Ele conhece Seus filhos; Ele nos vê como nos criou, puros, completos e livres. Posso eu, também, chegar a ver que aqueles que estou pronta a condenar, são realmente filhos de Deus? Com certeza, é assim que desejo ser vista pelos outros. Esse conceito está relacionado, na Bíblia, com algo muito próximo das bem-aventuranças, a Regra Áurea: “Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês... (Mateus 7). Saber como desejo ser considerada pelos outros me ajuda a pensar neles da mesma maneira. Ser a beneficiária da misericórdia me ajuda a compreender como é importante demonstrar misericórdia para com os demais.

Enfim, toda misericórdia e justiça têm sua fonte em Deus. Isso significa que, quando somos chamados a ser misericordiosos, já temos a fonte de toda a misericórdia à mão. Caso seja muito difícil demonstrar misericórdia a alguém, esta passagem da Bíblia pode ajudar a mostrar o caminho: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos confronta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Coríntios 1). A misericórdia se aplica da mesma forma que o consolo se aplica aqui, ou seja, que possamos ser capazes de demonstrar misericórdia para com aqueles que estão em tribulação, por intermédio da misericórdia com a qual nós mesmos somos contemplados por Deus. Visto que Deus é misericordioso, nós também somos misericordiosos.

A misericórdia está incluída em uma lista de qualidades em Ciência e Saúde, que caracterizam “o reino dos céus” dentro em nós: “Que o altruísmo, a bondade, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor — o reino dos céus — reinem em nós, e o pecado, a doença e a morte diminuirão até que finalmente desapareçam” (p. 248). Percebo agora que havia deixado a misericórdia de fora dessa importante lista.

A palavra do Novo Testamento para misericórdia usada no texto em grego das bem-aventuranças, elleo, é definida como a compaixão que emana da graça divina. Gosto muito do conceito de que ser misericordioso, de amar a si mesmo e aos outros com esse tipo de compaixão, traz misericórdia. A versão bíblica na Nova Tradução na Linguagem de Hoje, deixa clara esta mensagem: “Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas” (Mateus 5).

Deus, o Amor divino, se faz conhecido em nossa vida, agora mesmo, por meio do amor, do cuidado e da misericórdia. Portanto, quer necessitemos de um abraço reconfortante, ou de palavras que nos ajudem a sair de um poço profundo, ou se desejarmos que o chão se abra sob nossos pés para que possamos desaparecer, a misericórdia divina está pronta para nos ajudar, como nas palavras do poema de Doris Peel: “...com a naturalidade da asa que se abre para abrigar o filhote que caiu do ninho” (Peel, Ibidem).

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