A princípio, parecia a realização do sonho de toda uma vida. Eu estava gerindo meu próprio negócio, que supria bem as minhas necessidades e as de minha família. Era respeitado e bem sucedido. Aparentemente, tudo era ideal, mas não me sentia satisfeito.
Percebi que algo precisava mudar. As pressões e as exigências decorrentes da gestão do negócio, e até mesmo a forma com que eu ficava facilmente enredado no trabalho intenso, estavam me afastando daquilo que, em última análise, sabia que me traria satisfação e paz, ou seja, ver e compreender a Deus mais claramente. Para conseguir isso, deixei-me guiar pela sexta bem-aventurança: “Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus” (Mateus 5). Ao escolher a pureza de coração como meu modelo, comecei a perceber que tinha uma importante limpeza mental a fazer.
De certo modo, a consciência humana é semelhante a um lago. Quando ele está calmo e sereno reflete perfeitamente a beleza da paisagem ao seu redor. Mas, atire-se nele uma pedra e sua capacidade de refletir fica temporariamente prejudicada. O mesmo ocorre com a nossa consciência. Se estivermos mentalmente calmos, entretendo pensamentos bons e perfeitos provenientes da Mente divina, então veremos a Deus, estaremos conscientes apenas de Sua presença e de Sua realidade espiritual. Mas, se permitirmos a entrada das “pedras” do medo, da dúvida, da teimosia e da frustração, prejudicamos nossa capacidade de perceber o Divino.
À medida que me dediquei a purificar o que estava no mais íntimo do meu ser, ou seja, meu enfoque, motivos, propósito de vida, e assim por diante, uma das lições que comecei a aprender foi que a purificação, isto é, o desejo desprendido de ser o reflexo de Deus, sem a interferência do ego, é um processo que deve ser levado a efeito momento a momento. Isso significou levar a alegria da Alma até às tarefas mais simples. Significou o reconhecimento da presença do Princípio, que se manifesta pela ordem, equilíbrio e disciplina, mesmo quando as coisas parecem estar caóticas. Foi preciso reconhecer a vitalidade e a energia da Vida, quando as demandas pareciam opressivas. Além disso, exigiu um ceder constante ao Amor divino, ao invés de seguir minha própria vontade; tive de confiar nesse grande Amor que “nos inspira o caminho, ilumina-o, no-lo designa e nele nos guia”, como descreve Mary Baker Eddy, em Ciência e Saúde, p. 454.
Em pouco tempo, minhas orações me mostraram que o passo certo a seguir seria colocar meu negócio à venda. Embora não tivesse a menor idéia para onde eu iria a partir daí, ou o que faria, um sentimento de paz acompanhou essa idéia, como se fosse uma parte natural do meu desejo de viver uma vida que estivesse mais em linha com a sexta bem-aventurança. Contudo, sentia-me ainda um pouco como Abraão, quando este foi chamado a deixar sua próspera terra natal e seguir para um novo lugar, “sem saber aonde ia” (Hebreus 11).
Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy incisivamente observou: “O egotismo é mais opaco do que um corpo sólido. Em paciente obediência a um Deus paciente, trabalhemos por dissolver, com o solvente universal do Amor, a dureza adamantina do erro — a obstinação, a justificação própria e o egotismo — que faz guerra contra a espiritualidade e é a lei do pecado e da morte” (p. 242). Esse parágrafo segue um anterior que diz: “Há um único caminho que leva ao céu, à harmonia...” e, tendo em vista meu objetivo de ver esse reino do céu cada vez mais em minha própria vida, considerei o comentário sobre trabalhar para dissolver “a dureza adamantina do erro”, um sábio conselho. Mal sabia eu que a venda do negócio me proporcionaria amplas oportunidades para alcançar o desprendimento e a purificação do meu pensamento, como nunca havia conseguido antes.
Nos meses que se seguiram, tive de vencer a frustração por não conseguir vender rapidamente o negócio. Tive de aprender a obedecer à programação que Deus tinha para minha vida, ao invés dos meus próprios planos. Descobri muito mais coisas sobre humildade, à medida que recebia a orientação divina para empregar uma nova equipe, investir em novo estoque e remodelar o showroom, mesmo quando não era esse meu desejo. Mentalmente, passei horas de joelhos, em lágrimas e com humildade, orando por orientação e soluções.
No final, o negócio foi realmente vendido, com lucro e de forma harmoniosa. Além disso, no mesmo dia em que o novo proprietário assumiu, foi-me oferecido um emprego que me levou naturalmente a uma carreira como Praticista da Christian Science, profissão essa que me tem mantido, desde aquela ocasião, no caminho da purificação do pensamento.
O desejo sincero de ver a Deus pode não levar todas as pessoas à prática da cura em tempo integral; de minha parte, em meu antigo trabalho, e diariamente a partir de então, tive de aprender muitas lições sobre purificação constante dos meus pensamentos e ações. Entretanto, é claro que a fidelidade à sexta bem-aventurança melhora qualquer atividade em que estejamos engajados, pois ajuda a nos despojar do ego humano e isso permite que vejamos a bondade de Deus e o plano que Ele tem para nós.
Acima de tudo, porém, descobri que essa pureza prática significa ver a Deus em cada aspecto de nossa vida, como também ver a nós mesmos como Sua imagem. Isso me ajudou a compreender que, em realidade, nós fazemos tudo por reflexo, como reflexo de Deus. Ser puro de coração, isto é, deixar todo o senso de uma identidade humana separada de Deus e descobrir nossa natureza como Sua expressão, é o que nos capacita a refleti-Lo. Isso traz clareza e poder espiritual a tudo o que fazemos.
