Na época da escravidão, ao fugirem para as matas, os escravos tinham no seu encalço os Capitães do Mato. Quando capturados, reagiam e atacavam violentamente com pés, mãos e cabeças, nas clareiras de mato ralo, cujo nome é capoeira. O embate era muito forte e, às vezes, alguns capitães eram mortos. Os sobreviventes, quando voltavam aos seus senhores, explicavam “as baixas” dizendo terem sido “pegos na capoeira”, referindo-se ao local onde haviam sido vencidos.
Assim a capoeira, no meio das matas, era praticada como luta mortal. Nas fazendas, sob os olhares dos Senhores de Engenho, era um jogo inofensivo, pois os escravos disfarçavam a luta utilizando a ginga, que é a base de qualquer “capoeirista”. Esse disfarce de dança foi fundamental para a sobrevivência dos escravos.
Essa é a história que autentica sua origem brasileira. Há muitas lutas na África, mas nenhuma semelhante à capoeira praticada no Brasil. Estudos científicos, como “Capoeira Angola” — Ensaio Sócio-Etnográfico (Rego, 1968), também afirmam que ela é brasileira; e nenhum pesquisador conseguiu encontrar nada de concreto que levasse a crer que a capoeira fosse africana e hoje é citada mundialmente como arte brasileira (www.capoeirabrasil-ce.com.br).
Após a abolição, a capoeira alcançou as ruas. Em seguida, foi proibida por uma lei revogada em 1930. Depois disso, passou a ser praticada em recintos fechados.
Pode-se dizer que a preservação da capoeira é uma vitória de um povo; uma demonstração de realização coletiva, que persistiu no seu direito de expressão e lutou pela sobrevivência, acreditando na liberdade, o que nos faz lembrar destas palavras de Ciência e Saúde: “Quando o objetivo é desejável, a expectativa acelera nosso progresso. A luta pela verdade nos fortalece em vez de nos enfraquecer, nos repousa em vez de nos cansar” (p. 426).
Tratada atualmente como um “jogo”, essa arte brasileira é repleta de valores e qualidades espirituais: capacidade de organização, respeito pelo mestre capoeirista e pelos mais velhos, carinho, disciplina, sabedoria grupal, equilíbrio, concentração, fidelidade às origens. Sua beleza se encontra na perícia e habilidade no manejo do corpo; no equilíbrio e na coordenação motora. Sua prática funde três modalidades de arte: música, poesia e coreografia e dentre as características mais importantes, destaca-se a criatividade, expressa em movimentos imprevisíveis, atrativos e de grande habilidade. Os que assistem a uma apresentação nem sempre sabem que a coreografia não é ensaiada. Os capoeiristas, como expressão de idéias espirituais, agem com domínio e inteligência, graça, ousadia, leveza, equilíbrio, desdobrando suas capacidades, sem se chocarem, em espaço bem próximo. Assim é a natureza e a atividade da Mente divina.
Com tantas qualidades, a capoeira venceu o preconceito e se espalhou da Bahia para o mundo. Em Nova Iorque, funciona há 12 anos a mais baiana das academias de capoeira fora do Brasil. Hoje está em mais de 160 países em todos os continentes, entre eles França, Itália, Suécia, Inglaterra, Alemanha, Finlândia e Japão (DocTV Cultura, Lázaro Faria).
Expressar vitalidade é um direito divino e todos são livres para desenvolver suas habilidades infinitas e perfeitas, com movimentos harmoniosos e exatos.
