Ao longo de toda sua vida profissional, Jean-Noël Bot ocupou diferentes cargos no ramo de hotelaria e alimentação. Antes de se aposentar, era diretor de uma subsidiária central de compras para um grupo internacional de hotelaria, na área de Paris.
Esse departamento central de compras fazia entregas de mercadorias perecíveis e não-perecíveis aos hotéis e restaurantes do grupo.
O Sr. Bot era responsável, principalmente, por um grande armazém e pelos compradores que trabalhavam nesse local.
O Arauto em francês conversou recentemente com ele.
“Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade” (SI. 37). Quando alguém olha ao seu redor e para o que está acontecendo no mundo, às vezes, pode parecer difícil aceitar essas palavras de Davi, que prometem um futuro e prosperidade para o “íntegro”. Contudo, as palavras de Davi não são uma pergunta, mas uma profecia tirada de sua própria experiência. Você acha que tais palavras ainda são relevantes?
Claro que sim. Constatei os resultados em minha própria vida profissional. Cada vez que me defrontava com uma situação delicada encontrava a ajuda necessária nos exemplos dos personagens bíblicos que, mesmo defrontando situações injustas ou imorais, não se desviaram de seu amor a Deus, a Verdade, e que foram por isso abençoados. Assim, Daniel, cuja rápida “ascensão” na sociedade babilônica lhe acarretou o ódio de administradores ciumentos, recusou-se a comprometer sua consciência e foi parar na cova dos leões. Contudo, seu amor a Deus e a convicção de sua inocência, protegeram-no completamente e lhe trouxeram um respeito ainda maior da parte do rei. A Bíblia conclui: “Daniel, pois, prosperou... (ver Daniel, cap. 6). Outro bom exemplo é o de José, vendido como escravo por seus irmãos invejosos. Quando José chegou a ser ajudante particular do capitão da guarda do palácio, a esposa de seu dono Potifar começou a cobiçá-lo. Entretanto, ele a recusou, dizendo: “...como poderia eu fazer uma coisa tão imoral e pecar contra Deus”? Isso resultou em uma falsa acusação e prisão, mas sua integridade finalmente o levou a se tornar o governador de todo o Egito e a salvar o país e sua família da fome (ver Gênesis, 37-47).
Uma idéia que freqüentemente me ajudava era pensar que éramos todos governados pela Regra Áurea de Jesus: “Façam aos outros o que querem que façam a vocês”
Em situações competitivas, que envolvem contratos a serem disputados entre muitos concorrentes, podem surgir certas práticas desonestas.
Sim, em um departamento central de compras, como em qualquer outra parte. Pode haver furtos, acordos ilícitos entre os clientes e fornecedores recomendados por nós ou fraude a respeito da validade dos produtos ou seus pesos, etc. Meu trabalho no escritório central era o de controlar todos os mercados e de me certificar de que as regras eram respeitadas e que ninguém era enganado, nem o cliente, nem o fornecedor externo nem o próprio escritório central de compras.
Uma idéia que freqüentemente me ajudava era pensar que éramos todos governados pelo mesmo princípio, pela Regra Áurea de Jesus: “Façam aos outros o que querem que façam a vocês; pois isso é o que querem dizer a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas” (Mateus 7:12). Essa regra faz com que olhemos para as ações dos outros de uma maneira diferente e que levemos em conta as pessoas que estão ao nosso redor. Isso nos ajuda a ser menos egoístas e mais atentos às necessidades dos outros.
Mesmo quando não citava essa regra em voz alta, eu realmente tentava comunicar o seu espírito, em nossas reuniões com os diferentes departamentos. A boa reputação de uma empresa certamente não depende somente de resultados financeiros. Depende, em grande parte, do serviço prestado aos clientes, da confiabilidade das entregas, etc., aspectos que não figuram no papel, mas cuja importância é sentida pelos clientes. Nos programas de trabalho que elaborávamos, cada pessoa era encorajada a conhecer as outras operações do grupo e a levar em conta os desejos dos empregados dos outros departamentos. Ao encorajar a participação dos prestadores de serviço, em uma ponta, e dos clientes do serviço, na outra, foi criado um clima de trabalho eficiente e descontraído. A Regra Áurea foi posta em prática... e o cansaço, os furtos e o trabalho desleixado, desapareceram!
Você se lembra de qualquer problema em particular com o qual teve de lidar, com relação à ética?
Lembro-me de um dia ter sido chamado ao escritório do Gerente Geral com um de meus compradores, que fora acusado por uma das empresas do grupo de receber dinheiro de um fornecedor de carne. Era uma acusação muito séria. Eu conhecia o diretor da empresa que fizera a acusação. Ele estaria presente à reunião e era muito honesto e não poderia ter feito tal acusação sem motivo. Por outro lado, eu não tinha nenhuma razão para suspeitar de meu comprador. Parecia que esse diretor devia ter recebido uma acusação falsa de um distribuidor concorrente, hostil à nossa empresa. O distribuidor também estaria presente.
Isso me deu a certeza de que, se nos volvêssemos direta e completamente a Deus, sem argumentos ou justificação própria, nada poderia impedir que a verdade fosse manifestada.
Enquanto esperava para entrar, comecei a orar, afirmando que todos os protagonistas nesse caso eram, em realidade, filhos de Deus e podiam refletir somente qualidades divinas, tais como pureza e honestidade. Este trecho de Ciência e Saúde, de Mary Baker Eddy, me veio ao pensamento: “A honestidade é poder espiritual”. Isso me deu a certeza de que, se nos volvêssemos direta e completamente a Deus, sem argumentos ou justificação própria, nada poderia impedir que a verdade fosse manifestada. Nenhum de nós poderia ser manipulado por uma informação falsa. Outro trecho me veio ao pensamento, dando-me a certeza de que o Deus uno e único governava a situação e a integridade reinava: “Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras...” (Ciência e Saúde, p. 340). Minha oração parou aí porque nesse momento fomos convidados a entrar para a reunião.
Ali, fomos surpreendidos com a informação de que o assunto já estava resolvido: o diretor da empresa, que fizera a acusação, contou-nos que ele havia acabado de descobrir que fora enganado. Nosso comprador e o escritório central foram isentados de culpa e tudo estava resolvido!
Ao sair da sala, não pude deixar de fazer a conexão com a história de Daniel e me senti levado a contar ao meu comprador a história desse homem lançado na cova dos leões, depois de ter sido falsamente acusado e em quem não foi encontrado nenhum ferimento, porque ele tinha confiança em seu Deus.
Sua história deixa claro que a honestidade tem um papel importante a desempenhar no mundo dos negócios.
Exatamente. Ao longo de todos esses anos, tive a comprovação de que a integridade não é um obstáculo à prosperidade, e sim, o contrário. Rememorando essas experiências, estou convencido de que a honestidade é uma força e mantém o lugar de maior importância no mundo dos negócios. A ética recomendada pela Bíblia ainda é relevante e também, como a Regra Áurea, muito simples! O esforço de cada pessoa em se adequar a ela conta muito e contribui, mesmo que em pequena escala, para a erradicação da corrupção no mundo.
