Há três anos, exatamente no meio da maior crise financeira e econômica no Uruguai, minha esposa e eu decidimos construir uma casa na praia. O local da obra ficava longe e eu tinha de viajar com freqüência até o lá para fiscalizar o andamento da obra e pagar os operários.
A certa altura, as coisas não estavam correndo conforme o esperado e os operários, que eu havia trazido de Montevidéu, talvez devido ao fato de estarem distantes de seu ambiente usual ou pela influência da indolência que se generalizara, deixaram de trabalhar com afinco e não cumpriram os prazos que havíamos combinado. Então, decidimos contratar outros operários, deixando apenas um da equipe anterior como mestre-de-obras do novo grupo. Logo depois, o novo encarregado me procurou para dizer que estavam faltando algumas ferramentas e materiais e que ele não podia se responsabilizar pela construção nessas condições. Ele ainda exigiu que isso fosse informado à polícia e, caso eu não o fizesse, ele desistiria do trabalho.
Diante de tal dilema, comecei a orar. Sabia que ir à polícia somente criaria confrontos entre os novos e os antigos operários. Também haveria problemas pessoais e eu teria de desperdiçar muito tempo para ir às delegacias de polícia e aos tribunais. Mas, por outro lado, reconhecia o direito do mestre-de-obras de esclarecer as coisas e sabia que esse direito tinha de ser protegido.
A princípio, fiquei muito contrariado. Estava familiarizado com a forma de agir dos operários e sabia que confrontos entre eles normalmente se tornavam violentos. Pessoalmente, preferia deixar tudo como estava. Era mais importante para mim que o trabalho continuasse do que recuperar o que havia sido perdido, uma vez que o custo das ferramentas, comparado ao investimento total da obra, não era muito significativo. Contudo, compreendi que era necessário encontrar uma solução que fosse boa para todos.
A reunião com o encarregado da obra seria em um domingo à noite. Portanto, respondi que esperaríamos até a manhã seguinte para irmos à delegacia e que eu reconhecia o seu direito e iria respeitá-lo.
Passei a maior parte da noite orando, em busca da orientação de Deus para saber o que fazer, porque eu só visualizava problemas, brigas e perda de tempo.
Após orar e me acalmar, abri a Bíblia e encontrei estes versículos do Salmo 140, que muito me ajudaram: “Livra-me, Senhor, do homem perverso, guarda-me do homem violento... Sei que o Senhor manterá a causa do oprimido e o direito do necessitado. Assim, os justos renderão graças ao teu nome; os retos habitarão na tua presença”.
Aprendi, por experiência, que temos de procurar soluções em Deus e que essas soluções não ajudam apenas a uma pessoa, mas, ao contrário, ajudam a todos os envolvidos na situação.
Em minha oração, reconheci que era filho de Deus e que todas as pessoas envolvidas também eram filhos de Deus e que todos nós estávamos sob a lei da justiça e do Amor divino. Aqueles trechos da Bíblia me ajudaram a compreender que existia uma lei de justiça sob a qual a desonestidade, a violência, e o mal, não podiam prevalecer.
Também recorri ao capitulo “Oração” em Ciência e Saúde, onde diz: “Somos beneficiados por orar? Sim, o desejo que parte faminto em busca de justiça, é abençoado por nosso pai, e não nos volta vazio” (p. 2). De fato, foi isso o que realmente aconteceu.
No dia seguinte, logo cedo, me reuni com o encarregado da obra e os operários, e lhes disse que concordava em prestar queixa na delegacia, com relação aos itens extraviados. No entanto, acrescentei que gostaria de conversar primeiro com o antigo encarregado da obra, antes de fazer o boletim de ocorrência, mas que não sabia onde encontrá-lo. Então, um dos operários imediatamente me disse que aquela pessoa estava trabalhando a uns 10 quilômetros dali.
Imediatamente compreendi que essa era a resposta divina e pedi ao operário que me levasse até o antigo mestre-de-obras. Para evitar confrontos, sugeri ao novo encarregado que não me acompanhasse e que, mais tarde, iríamos juntos à delegacia para registrar a queixa. Ele concordou, com relutância, e disse que esperaria pelo meu retorno para decidir se continuaria ou não trabalhando na obra.
Quando encontrei o antigo responsável e lhe contei o ocorrido, ele respondeu que as ferramentas estavam com ele, pois as havia levado por engano, e imediatamente as entregou a mim. Quanto ao material que faltava, ele me disse onde poderia estar. Despedimo-nos amigavelmente. Quando retornei à obra, encontrei o material, exceto alguns itens que localizamos mais tarde.
O novo encarregado respirou aliviado. O seu nome estava livre de qualquer suspeita. Não fomos à delegacia. A obra recomeçou e foi concluída em tempo. Contudo, o mais importante foi que todas as questões pessoais e de trabalho foram resolvidas.
Meu desejo por justiça foi levado a Deus e respondido pela lei da harmonia e do Amor. Graças a Deus, consegui ficar calmo e reconhecer os direitos divinos de cada um: o meu, de continuar com a obra e de ter a situação esclarecida; o do mestre-de-obras, de não ser acusado injustamente; o do ex-responsável, de explicar o que tinha acontecido.
Para mim, ficou demonstrado que a justiça divina é superior à humana. Além disso, estou agradecido pelo fato de a oração ter me guiado a primeiro pensar na honestidade das pessoas, ao invés de culpá-las desde o início. É maravilhoso o que acontece quando reconhecemos a identidade de todos como filhos do Criador e conseguimos vê-los tão perfeitos quanto Deus é perfeito.
